Oito

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Algum tempo depois

(Luísa)

Estou muito nervosa, porque chegou a hora de Josh saber toda a verdade e, sinceramente, eu não sei porque demorou tanto para eu tomar essa coragem. Afinal, vai ser bom para ele.
Chamo ele para uma conversa em particular no meu quarto, e ele vem desconfiado.

- O que está acontecendo? Da última vez que você ficou assim, eu me mudei e ganhei uma nova família. - Sorrio ao ouvir ele dizer "nova família".
- Dessa vez é um pouco mais sério... Não, essa não é bem a palavra. Delicado, eu diria. - A feição despreocupada dele começa a sumir. - Hoje eu quero te esclarecer coisas sobre seu pai.

Josh fica pálido e tenso. Eu seguro as mãos dele, em uma tentativa de acalmá-lo.

- Tá. Pode... Pode falar.
- Eu sei que foi muito difícil para você conviver sem um pai, e pior ainda, não saber nada sobre ele. Eu só achei que você não entenderia se fosse mais novo. - Respira, Luísa. Está tudo indo bem. - Bom, como você sabe, seu pai se chama Harold. E diferente de tudo que você já pode ter imaginado dele, ele é uma ótima pessoa e não me fez nenhum mal.
- Ele ainda está vivo?

Faço que sim com a cabeça. Josh permanece em silêncio, esperando que eu continue a falar. Então, eu continuo.

- Eu conheci seu pai no período em que eu morei nos Estados Unidos. Nós nos apaixonamos e namoramos, mas quando decidimos dar um passo maior, ele me confessou que queria fazer isso no Brasil. Então nós viemos nos casar lá em São Paulo e foi lindo. Um tempo depois descobri que estava grávida de você, e nós estávamos muito bem. O problema é que seu pai veio ilegalmente para o Brasil, por mais forte que seja a palavra. Eu não me lembro bem como ele conseguiu passar a fronteira sem problemas, mas enfim... As leis aqui não funcionam bem, mas quando se trata de imigração, é tão boa quanto nos Estados Unidos. Descobriram seu pai e mandaram ele de volta, sem possibilidade de vir aqui em muito tempo. Antes de ir, ele só me pediu para não te falar nada sobre ele até quando eu achasse necessário, pois ele não queria que você sofresse mais.

Dei uma pausa para respirar e analisar a expressão de Josh. Os olhos estavam cheios de lágrimas, mas ele não esboçava nenhuma emoção.

- Não era como uma prisão. Ele podia ter sido preso, que eu tinha pago qualquer fiança e ele estava aqui. Mas eu acho que eles estavam pensando nisso quando mandaram ele embora direto.
- Eu odeio esse país.
- Não fala assim, é um bom país para se viver. Seu pai também não devia ter vindo de forma irregular, mas éramos jovens e não pensamos nisso.
- Eu sou jovem e faria tudo certo.
- Você fala isso porque não tava perdidamente apaixonado e louco para se casar no exterior de forma rápida. Mesmo que um dia você se encontre nessa situação, escolha fazer o certo, viu?
- Você ainda ama meu pai?
- Amo, eu acho. Quando a gente passa muito tempo longe de alguém você vai tendo incertezas. Eu conheci o Denis, seu pai também já arrumou uma nova parceira... Não sei como seria se a gente se visse hoje em dia.

Ele sorri para mim.

- Obrigado por ter me contado tudo.
- Eu te amo, filho. E amor de mãe é o único que pode acontecer qualquer coisa que a gente nunca tem incerteza.
- Verdade. - Ele ri, me abraçando de lado.
- E tem mais uma coisinha, um detalhe, talvez você nem queira saber... - Eu sorrio, deixando-o curioso.
- O que foi? Conta! Vai, mãe!
- A única forma que eu tenho para falar com seu pai, atualmente, é por e-mail. Há alguns dias, ele mandou um mandando beijos e dizendo que está fazendo de tudo para vir te ver... Ele está atrás de você!

Os olhos de Josh brilham.

- Ele está atrás de mim... Meu pai está atrás de mim! Quanto tempo eu esperei para ouvir isso! - Ele ri alto.
- Agora pode ir, filho. Acho que já terminamos por aqui.

Ele vai até a porta e para. Depois vira, me olha e vem correndo até mim.

- Eu te amo! - Diz ele, beijando minha bochecha, e então sai. Eu tenho o melhor filho do mundo.

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