Faz um tempo que eu não almoçava a comida caseira da minha mãe, porque Denis preferia não vir para casa no horário de almoço deles. Então, já que Ashley e eu não gostamos muito de cozinhar, costumamos pedir comida. É gostoso, mas nem se compara a isto.
– Está tudo uma delícia! – Ashley elogia. – Eu realmente precisava comer.
– Afinal, seu mal era fome? – Brinco.
– Acabei de descobrir que era. Agora que estou melhor, já vou avisando que tenho planos para nós.
– Planos para nós?
– Sim, hoje a tarde você vai sair comigo.
– Ah, vou? Eu já tinha uns planos, mas...
– Quais planos? – Ela me interrompe, arqueando uma sobrancelha.
– Ficar deitado no sofá vendo televisão até achar isso chato e ir dormir na minha cama.
– Muito bom. Hoje nós vamos na minha sorveteria favorita, você vai amar.Já que não adianta discutir com Ashley em hipótese alguma, acabo cedendo. Eu realmente queria passar um dia inteiro em casa depois de ontem, mas não vai ser tão ruim assim. Sorveterias não são ruins.
•
Depois de almoçar, mamãe e Denis voltam para o trabalho, enquanto Ashley e eu ficamos mais um pouco em casa, antes de sair.
– Estou com preguiça. – Anuncio.
– Não é para dormir, eu estou indo me arrumar para a gente sair daqui a pouco.
– Eu preciso me arrumar também.
– Então levanta desse sofá! – Ela bate palminhas. – Se você dormir, eu vou jogar água em você.
– Você venceu, Ashley, já tô levantando.
– Bom mesmo. – Ela me dá as costas e vai para o quarto dela.Levanto do sofá e me arrasto até o meu quarto, preguiçosamente. Troco de roupa, arrumo o cabelo, pego dinheiro... e nada da Ashley. Vou até o quarto dela e adivinhem: a menina está fazendo uma maquiagem toda elaborada para ir à sorveteria.
– Ashley, nós não vamos visitar o Governador. – Digo, sentando na cama. – Não precisa se arrumar tanto.
– Não estou me "arrumando tanto". É só uma maquiagem básica, eu não posso sair na rua de cara lavada. Já estou quase terminando, espera aí.E eu espero. Ela se maquia, escolhe uma roupa, não gosta, escolhe outra roupa, amarra o cabelo, solta o cabelo, faz um coque, desfaz o coque, troca de roupa de novo e...
– Estou pronta! – Ela faz pose. – Viu, nem demorou tanto assim. Agora só vou pegar dinheiro e vamos.
Ela abre uma gaveta, pega um pouco de dinheiro e coloca no bolso da calça. Se vira para mim e me chama para (finalmente) irmos.
Saímos de casa, passamos pela portaria e vamos para a tal sorveteria. Ashley disse que é perto, então vamos à pé, conversando. E há cinco minutos de casa, chegamos.– O milk-shake daqui é de outro mundo. – Ela cochicha para mim, enquanto esperamos alguém nos atender no balcão.
– Boa tarde, o que desejam? – Diz o atendente.
– Eu quero um milk-shake de Ovomaltine. O que você quer, Josh?
– Pode ser o mesmo.
– Dois, então. Tamanho pequeno, médio ou grande? – O atendente pergunta.
– Pode ser o grande, de 500ml. Quanto fica?
– Quatorze reais, mas para uma menina tão linda eu consigo fazer pelo preço do pequeno. Dez reais.Ashley fica corada com o elogio e dá o dinheiro para ele. Vou fazer uma descrição do tal atendente: ele parece ter uns 18 anos, tem o corpo malhado (dá pra saber pelo uniforme propositalmente muito justo), olhos verdes e tem o cabelo preto bem arrumado em um topete. O típico garoto padrão, mas que a maioria das garotas gostam.
Ele pede licença e vai fazer os pedidos. Assim que ele sai, Ashley vira para mim, totalmente sem jeito.– Ahn... Ele me elogiou.
– Por onde passa você arrasa corações... E se eu contar pra ele que você faz um lindo casal comigo? – Sorrio para ela. – Se você levasse ele naquele restaurante, não iriam elogiar do mesmo jeito.
– Vou ter que dispensar ele então, que pena. – Ela ri de volta. – Mas você viu como ele é bonito?•
O passeio não foi tão divertido assim, afinal. Depois que o atendente (descobri que o nome dele é Nicolas) voltou com o pedido, ele esqueceu que tinha que trabalhar e ficou conversando com a gente. Ou melhor, com a Ashley. Eles passaram o tempo inteiro elogiando um ao outro, e ficavam corados por qualquer coisa. Chega a ser engraçado pensar que eles se conheceram agora. Mas tenho que admitir uma coisa: o milk-shake é divino.
Voltamos para casa quase uma hora mais tarde, e no trajeto, Ashley não falou de outra coisa além de Nicolas, enquanto admirava o papel que ele tinha dado para ela com seu número de telefone, e sabe por que ela estava admirando? Porque além do número, tinha um coraçãozinho desenhado nele. Vê se eu mereço.– Não acredito que você me arrastou de casa para arranjar um namoradinho. – Brinco assim que entramos em casa, me jogando no sofá.
– Foi muito legal, admita, e Nicolas não é meu namoradinho. – Ela se senta na poltrona, perto do sofá. – Agora imagina se eu tivesse ido de cara lavada, que nem você sugeriu.
– Nesse caso, aquela outra atendente de cara amarrada que viria atender a gente.
– Sim, e ainda cuspiria no nosso pedido.
– Olhando por esse lado, ainda bem que você arrumou um namoradinho.
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Panda S/A
Teen FictionJosh, um brasileiro com o nome um tanto americano, não esperava que sua vida fosse mudar tanto de uma hora para outra. Ter que sair da sua vida cômoda em São Paulo para viver em outra cidade e com uma nova família não vai ser nada fácil. Descubra um...