Dezesseis

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Os dias se passaram de forma lenta e entediante, sem nada de especial acontecer, até domingo: a véspera da nossa viagem para São Paulo. Eu sei que não faz muito tempo que me mudei de lá, mas estou empolgado como se eu não fosse há décadas.

– Animados para a viagem? Já é amanhã, como o tempo voa! – Denis comenta durante o almoço.
– Eu já fiz todas as minhas malas! – Ashley dispara. – Se Josh estiver tão animado quanto eu, essa viagem vai ser a melhor de nossas vidas!
– Você já fez as malas, Josh? – Minha mãe pergunta, curiosa.
– Já separei as coisas, só não coloquei na mala ainda, vou fazer isso a tarde.
– É pra vocês terem juízo lá, hein? Não achem que só porque estão longe da gente que podem fazer tudo. – Denis adverte, e minha mãe concorda.
– Meu sobrenome é Juízo! – Diz Ashley, se levantando para levar seu prato vazio à cozinha.
– Fique de olho nela, hein? – Denis cochicha para mim. – Qualquer coisa, é só ligar para a gente.

Faço que sim com a cabeça e me levanto, para fazer o mesmo que Ashley. Quando chego na cozinha, ela está mexendo no celular, distraída.

– Viciada. – Digo, passando por ela e colocando meu prato na pia.
– Ei! Não sou viciada. Só estou conversando com o Nicolas.
– Então vocês estão se dando bem?
– Super bem. – Ela para de mexer no celular e olha para mim. – Ele disse que tem uma surpresa para depois da viagem, se eu prometer sempre falar com ele.
– Uma surpresa?
– Sim. – Ela morde o lábio e fica corada. – Ele é tão legal e interessante, sabe?
– Meu Deus, não diga que você está... Você sabe.
– Ahn... Não sei. – Ela fica mais corada. – A gente não se conhece a muito tempo.
– Ashley. – Sorrio para ela. – Você está.
– É... Talvez. Agora vamos para o seu quarto, vou te ajudar com as malas.


No dia seguinte

Acordamos cedo, tomamos banho, nos trocamos, checamos se não estamos esquecendo nada... Estamos muito empolgados.

– Sabe a melhor parte? – Ashley me pergunta, quando estamos levando nossas malas para a sala. – Eu estou indo viajar como presente de aniversário, e ainda sou a única a ter uma semana de férias da escola.
– Não está preocupada em perder alguma matéria?
– Não muito, dá para recuperar.
– Então tudo bem, vamos esquecer disso tudo nessa viagem, até porque quando eu voltar, também começo a estudar. – Só pensar nisso me deixa nervoso.
– Estão todos prontos? – Denis entra na sala, animado.
– Acho que sim... E você, Josh?
– Também tô.
– Certo, vou tomar uma água e já levo vocês. – Denis diz, e antes de sair da sala, me diz mais algo. – Campeão, sua mãe não vai descer para despedir porque está com enxaqueca, mas ela queria que você fosse lá.
– Tudo bem.

Depois que subo, me despeço da minha mãe (e ela me diz infinitas vezes para eu ter juízo, você sabe como mães são), passo rapidinho no meu quarto pra ver se eu não esqueci nada, e desço de novo, Denis e Ashley já estão à minha espera.

– Vamos?

Foi uma viagem longa, considerando a ansiedade que nós estávamos para chegar rápido. Quando finalmente desembarcamos, pegamos as malas e saímos do aeroporto, Ashley mal acredita que isso está acontecendo, ainda mais longe do pai.

– Pra onde nós vamos agora? – Ela pergunta.
– Agora nós vamos para o hotel. – Digo, acalmando os ânimos dela. – Os lugares podem esperar, ou você quer turistar por aí arrastando malas?
– Tem razão... Vamos logo, então!

Chamamos um táxi e fomos para um hotel muito bonito, claramente muito chique. E, quando achamos que estávamos sozinhos na viagem, somos recebidos por um homem na entrada do hotel.

– Boa tarde, meninos. Vocês são Ashley e Josh?
– Sim, somos nós. – Ashley cumprimenta o moço com um aperto de mãos. – E quem é você?
– Henrique Basílio, fui solicitado por seu pai para supervisionar vocês.
– Então você vai ficar vigiando a gente?
– Fui orientado a, pelo menos, saber onde vocês vão. Sou contratado para ser os olhos do seu pai aqui.
– Típico do meu pai. – Ashley revira os olhos. – Não precisa ser tão formal, Henrique. Você parece muito mais velho falando assim, quantos anos você tem?
– Tenho 23 anos, mas se preferir, posso ser mais...
– Natural. – Eu completo.
– Isso Josh. Está parecendo que eu estou falando com um homem de 60 anos.
– Aqui. – Ele entrega um cartão para Ashley. – Eu posso ser mais informal mas não posso desobedecer as ordens do seu pai. Antes de sair, sempre me liguem. O número está no cartão.
– Certo. Agora nós vamos subir, tá? Obrigada, querido.

Assim que entramos no hotel e nos livramos de Henrique, Ashley parece um tanto irritada.

– Se era para contratar vigias, por que meu pai mesmo não veio? – Ela resmunga.
– Isso já aconteceu antes?
– Algumas vezes. Soa como se meu pai não confiasse na nossa, ou na minha palavra. Eu achei que essa viagem seria diferente.
– Ei, isso não vai estragar nossa viagem, né? – Sorrio pra ela. – Eu não viajei pra ficar te vendo choramingar pelos cantos. Pelo menos a gente vai sair sozinho, imagina se ele seguisse a gente.
– Será que dá pra enganar ele? – Ela sugere.
– Melhor não. Agora, vê se melhora essa cara, e vamos aproveitar São Paulo!
– Tem razão. – Ela sorri. – Vamos subir?

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