Ponto e vírgula.
Preciso correr mais rápido. Tentei me forçar a correr mais rápido pelo chão desregular da viela enquanto meu corpo ofegante reclamava pelo esforço. Olhei para trás para ver se tinha conseguido fugir e então pisei em falso quando vi a sombra se aproximando e cai com tudo no chão. Senti algo em meu rosto e quando o toquei, meus dedos ficaram cobertos por sangue.
Acordei bruscamente. Sentei na cama e coloquei o rosto em minhas mãos, claramente frustrada. Era a terceira vez em duas semanas que acordava assim de um pesadelo. Como se já não bastassem as noites mal dormidas e as olheiras escuras que "decoravam" meu rosto. Estava, literalmente, um trapo. Joguei-me de volta aos travesseiros e fiquei me revirando na cama até conseguir pegar no sono novamente.
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— Já vai ser meio dia, Yas, levanta logo.
Não era como se eu tivesse qualquer escolha, minha mãe já estava puxando a ponta da minha coberta. Murmurei um "tá" e virei para o outro lado. Parecia que eu não tinha dormido nada, o que era quase uma verdade.
Joguei as cobertas para o lado e fiquei olhando para meu teto - ao qual eu havia pintado uma galáxia no verão passado - por uns cinco minutos sem quase piscar. Reclamando sozinha, levantei, arrumei a cama e fui tomar banho, vestindo logo em seguida qualquer uma das "roupas de ficar em casa".
Quando cheguei à cozinha, todos já haviam almoçado, apenas minha mãe permanecia ali colocando a louça suja na pia. Peguei um pedaço de lasanha - afinal, era domingo -, coloquei bastante ketchup e comecei a comer.
— Seus olhos estão inchados novamente. Continua lendo até tarde ou estava chorando mais uma vez? Você sabe que isso está acabando com você, querida. — mamãe me olhou preocupada. Admito que essa forma direta dela é um tanto inconveniente.
— Nenhum dos dois. — menti. — Eu tenho dormido tão mal esses dias, nem sei como vou aguentar acordar cedo a partir de amanhã.
— É, as férias chegaram ao fim. Você devia tomar algum chá para essa insônia.
— Que tipo de chá poderia me ajudar? — falei sarcasticamente, não por maldade, mas por costume mesmo.
— Eu posso pesquisar.
— Obrigada.
Terminei de almoçar e fui lavar os pratos.
Nesses momentos em que eu ficava sozinha com meus pensamentos - o que era basicamente quase o dia inteiro -, eu percebia o quanto vinha me fechando para o mundo. Todos aqui em casa podiam ver que algo em mim estava diferente. Se antes eu passava muito tempo no meu quarto, eu agora mal saia de lá. Eu não gostava do rumo que as coisas estavam levando e eu era a única que podia mudar isso. Tenho esperanças de que a volta às aulas me puxem um pouco mais de volta para a superfície.
Não que eu estivesse fazendo drama e me afogando em sorvete como nos filmes adolescentes porque meu namorado havia me deixado. Pelo amor de Deus, eu jamais seria esse tipo de garota. Só que de alguma forma, eu havia mudado. Como às vezes penso, algo em mim havia quebrado. Obviamente, ficar triste é algo completamente normal. Mas claro que eu não iria me entregar àquele sentimento depressivo que estava batendo à porta, venho lutando para manter o sorriso no rosto como sempre havia feito. Não mostrar tudo que eu sentia já vinha se tornando algo natural. É só que juntar todas as lembranças e a falta com os meus outros problemas não é tão fácil.
Me pergunto se parte de não ter dado certo também é culpa minha. Eu passei tanto tempo tentando me proteger das chances de me machucar que na maior parte do tempo eu não mostrava abertamente os meus sentimentos. Pergunto-me se essa forma de me proteger não acabou impedindo-o de ver o quanto eu estava apaixonada. Mas no fundo, eu sei que não, nos momentos que eu baixava o muro - sejamos sinceros, ele conseguia penetrar minhas barreiras - eu sabia que ele podia ver o quanto era importante para mim. E acima de tudo, ele sabia que eu tinha medo de me apaixonar e compreendia meu medo de me machucar. Às vezes eu só queria olhar em seus olhos e dizer que sim, eu havia me apaixonado por ele.
Não que isso faça alguma diferença agora.
Fiquei olhando as gotas de água escorrendo na louça recém lavada, até que tive uma ideia. Subi correndo para o meu quarto e troquei de roupa. Chega de ficar em casa sentindo pena de mim mesma, iria aproveitar o último dia de férias na praia, sob o clima nublado - meu favorito.
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A praia estava praticamente deserta. Uma ou outra pessoa andando por aqui e ali. É, a maioria foge do clima frio.
Eu deveria ter chamado alguém para vir comigo, a intenção não era "ressurgir das cinzas"? Peguei meu celular e mandei uma mensagem para a Khalandris, a figura mais próxima de melhor amiga que eu tenho. Sou uma pessoa tão complicada que mal consigo considerar alguém como melhor amigo. Esse lance de melhor amigo é muito complicado; Ao logo da vida já considerei muitos como melhores amigos, mas com o tempo você percebe que nenhum era realmente. De que adianta ser melhor amigo no momento? Tem que ser para a vida. Então, confiar totalmente em alguém para dividir meus segredos, dramas e alegras é difícil, principalmente quando um dia você parece ser a amiga da vida inteira dessa pessoa e no dia seguinte ser só mais uma. É um acúmulo de decepções que faz você refletir bastante. Ainda bem que ela entende. Ou pelo menos eu acho que entende.
@Y: Tá livre?
@K: Tô.
@Y: Agora tão tá mais.
@Y: Vem pra praia, eu tô aqui.
@Y: E recomendo que venha de casaco.
@K: Primeiramente, você é louca. Vai cair uma tempestade!
@K: Segundamente, fico feliz que tenha resolvido dar o ar de sua graça para o mundo.
@K: Terceiramente, chego aí em 20 minutos.Vinte minutos com vários nadas para fazer. Olhei para o céu... Realmente estava se preparando para uma tempestade. Eu gosto de tempestades, isso não é loucura. Okay, ficar no meio de uma talvez seja. Mas não acho que chegue tão cedo.
Resolvi dar um mergulho rápido. Tirei o vestido leve que estava usando e deixei na areia junto com meus chinelos e a bolsa e coloquei os óculos de mergulho - eu gosto de poder abrir os olhos sob a água. Só de molhar os pés eu podia sentir que estava de gelar os ossos. Me arrepiei toda. Sem pensar muito para não desistir, fechei os olhos e mergulhei naquela água salgada gelada.
A sensação imediata do contato com a água gelada é horrível, mas depois de uns segundos ela se torna letárgica, quase anestésica - o que é maravilhoso. Por um tempo parece que não há nada além da água e meu corpo, nenhum som desagradável, nenhum problema, nenhuma bagunça de pensamentos. Nada, apenas a tranquilidade. Sentia-me como se nada pudesse me atingir. Apesar de meu corpo já ter se acostumado com a temperatura e a sensação anestésica ter diminuído, a paz ainda continuava ali. Fechei os olhos e respirei fundo aproveitando dessa rara sensação.Estava nadando para um pouco mais longe quando algo chamou minha atenção mais ao fundo. Emergi para ganhar fôlego e submergi mais uma vez, me aproximando daquele brilho que capturou minha atenção. Não era algo muito óbvio, era mais como um pequeno ponto de luz. Claro que eu me desafiaria a descobrir o que é.
Quando cheguei mais perto para distinguir que se tratava de uma pedra multicolorida que de alguma forma refletia luz, tudo ficou escuro.
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Esboço do que Foi
RastgeleE se você tivesse a chance de voltar no passado e mudar algo? E se esse algo salvasse o sonho de alguém ou até mesmo sua vida? Nunca pensou nisso? Yasmin recebeu essa chance, mas será que vale a pena arriscar suas lembranças, sentimentos e parte do...