Capítulo 5

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Ponto e vírgula.

Encarei o papel e reli aquelas duas palavras por tempo o suficiente para que as letras começassem a se embaralhar diante da minha visão.

Virei na carteira e chamei a atenção da Khalandris.

— Ei, você viu o novato bad boy voltando do intervalo? — perguntei como quem não quer nada.

Ela olhou a redor da sala, notando só agora.

— Na verdade, não. Que estranho... Mas por quê?

— Nada não.

Me virei de volta e guardei o papel dentro de um bolsinho na minha mochila, depois eu pensaria naquilo com mais calma. Talvez fosse apenas algum mal entendido e eu esteja pirando a toa.
Criar paranoia do nada é coisa clássica minha.

O restante das aulas transcorreram sem qualquer outro ocorrido, Henly não apareceu e mais ninguém parece ter percebido sua ausência. Eu estou cismada demais com esse garoto, tenho que parar com isso.

No caminho de casa eu já vinha massageando minhas têmporas, pressentindo a dor de cabeça que estava por vir. Eu ainda tinha algo muito importante para fazer hoje, por mais que não estivesse preparada. Não tenho tempo a perder, só faltam mais dois dias para que eu tome minha decisão definitiva e vá até a praia - caso eu aceite.

Alguns meses atrás

— Eu acho que você tem que enfrentar esse medo. E se eu fosse com você até esse lugar? Eu estaria ali do seu lado. — argumentei.

Ele segurou minha mão.

— Um dia, talvez.

Eu sabia muito que bem onde encontrá-lo por esse horário. Não importava a sua situação atual, se havia um lugar onde ele estaria, era para onde eu estava indo.

Eu nunca tinha ido ali, na verdade, até um tempo atrás eu sequer sabia que havia essa pista de atletismo na minha cidade. Não tinha nenhum segurança e nem nada do tipo, então simplesmente entrei e subi a arquibancada correndo. Ventava tanto que tive que prender meu cabelo num coque.

E lá estava ele, no meio da pista, a uns bons metros distante de mim, correndo num ritmo que eu tinha certeza de que não era o seu normal. Tenho que admitir que durante todo esse tempo que namoramos, eu nunca assisti ele numa corrida. Pensando bem, isso foi um certo vacilo.

Fiquei observando ele correr, quieta na minha sem fazer qualquer manifestação da minha presença. Notei que além de nós dois, a única outra pessoa ali era o seu treinador - ou pelo menos eu supus que era o treinador. Não sei nem se treinador é o termo certo. Nicolas fazia parecer que é tão fácil, com os movimentos fluidos que pareciam ser tão naturais para ele quanto respirar, algo que deve ter sido adquirido com um tremendo esforço. Eu fico admirada com a capacidade dos velocistas, de todos os atletas, na verdade. Corro uns quinze metros já morrendo, prefiro nem imaginar como seria correr quatrocentos metros e em alta velocidade. Observá-lo só me faz perceber cada vez mais o quanto esse garoto parece ter nascido para isso. É doloroso ver que essa carreira pode estar arruinada.

E é justamente por isso que eu estou aqui. Eu pensei o suficiente para perceber que a escolha não é minha, apesar de a chance ser. Não é a minha vida que eu estou querendo bagunçar, por mais que seja por uma boa causa, é uma bagunça de qualquer maneira. Eu não tenho o direito de simplesmente chegar no passado de alguém e mudar as coisas. Por isso, eu vou lhe dar a escolha, sem que ele tenha consciência disso.

A volta já estava acabando quando ele pareceu se dar conta da minha presença solitária no meio da arquibancada. Respirei fundo enquanto ele olhava surpreso para mim e vinha em minha direção. Já dava para sentir meu coração acelerando. Caramba, coração, deixa de ser ridículo e fica quieto.

Esboço do que FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora