Capítulo 12

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Ponto e vírgula.

Definitivamente, isso não estava acontecendo da maneira como deveria acontecer. Ou pelo menos eu achava que não.

Meu corpo não ficou como se estivesse flutuando e não abri meus olhos e estava em casa. Foi mais como se eu tivesse sido puxada violentamente para um lugar completamente fora do roteiro no meio do caminho. Eu não faço ideia se isso era parte da transição ou não, só sei que agora eu estava andando por um lugar que era pior que um breu. Eu não poderia enxergar um palmo a minha frente nem se ligasse uma lanterna. Não tinha certeza nem se estava saindo do lugar.

Aquilo era desesperador. Era como se eu estivesse cega. Apertei o colar seguidas vezes, desejando sair dali, mas nada acontecia. Nem um brilho. Nada. Comecei a correr, com a esperança de encontrar alguma saída ou simplesmente apagar de vez e acordar na minha cama.

Eu deveria ter perguntado como essa passagem ocorria à Yasmin 3.0. Mas se algo assim tivesse que acontecer ela teria me avisado, não teria? Ela claramente iria lembrar do quanto ficou apavorada. Do quanto eu estou apavorada. Nem aquela entidade me deu qualquer detalhe. Isso era frustrante.

Corri até meus pulmões queimarem e meu corpo implorar para parar. Em um momento ou outro eu pensei ter visto uma pequena fagulha de luz, mas quanto mais eu me aproximava, mais não se passava disso: apenas imaginação. Passei a andar devagar - por mais que todo meu corpo reclamasse -, pelo simples fato de que eu estava apavorada demais para conseguir ficar parada.

Horas pareciam ter se passado e eu não chegava a lugar algum, minhas esperanças estavam tão fortes quanto minha energia. Eu desejava tão desesperadamente que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo, que chegava a doer. Agora eu tinha certeza de que pensamentos podiam doer como se fossem um dor física. Brutal.

Em algum momento entre essa falta de noção de tempo e espaço, meu corpo não suportou e cedeu ao cansaço, me deixando caída no chão. Letárgica.

Quando voltei à consciência, comecei a andar de quatro, tateando o chão para descobrir qualquer coisa que fosse, nem que apenas uma leve diferença de textura. Quem sabe não podia encontrar alguma porta secreta? À essa altura, acreditava em qualquer coisa.

Tudo ali parecia errado, até a energia que me cercava.

Fiquei de pé e andei mais, quase me arrastando, sentindo o medo e o vazio no estômago se misturando. Eu podia estar ali há um dia ou dois, quem sabe? Podia ser até que não tivesse se passado um único minuto.

Uma pancada forte no estômago me derrubou no chão. Ou pelo menos eu achava que era o chão. Gemi de dor e comecei a me levantar, só que algo mais rápido aconteceu e fui jogada para o chão novamente, ficando presa. Não conseguia sequer erguer meus braços ou a cabeça. Comecei a sufocar, uma força quase inumana pressionando meu pescoço.

Se eu pudesse, teria começado a me debater e a gritar, mas o máximo que eu conseguia era soltar sons entrecortados.

Quando a consciência parecia estar querendo começar a me deixar, a pressão aliviou e me jogou de lado. Me arrastei desesperadamente para trás e então me levantei e comecei a correr. Eu estava fugindo de um inimigo invisível, que parecia ter como objetivo me matar.

Cai em meio aos passos e fui erguida em pé novamente pela força invisível. Braços erguidos no ar e pés presos ao chão. Eu poderia gritar, mas minha voz me fugia.

- Você não vai sair daqui até que eu tenha o que eu quero.

Ao ouvir essa frase, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram e uma sensação gelada atravessou meu corpo. A voz não parecia com nada que eu já tivesse ouvido. Apenas vagamente, muito vagamente, humano.

Sentia algo aproximando-se e tive uma tentativa frustrada de me remexer e sair dali.

- Sabe, você não faz ideia do quanto foi difícil conseguir te interceptar para aqui.

Eu sentia algo afiado passando levemente por meu rosto.

- Nem sequer quanto tempo tive que esperar até isso.

A sensação se arrastou lentamente por meu pescoço e parou abruptamente bem acima do esterno, agora pressionando com força. Talvez com raiva. Ou ódio.

- Onde está?

Essas duas palavras foram ditas com tanta força e clareza que eu podia sentir o ar vibrando. Gritando.

Eu não fazia a menor ideia à que se referia. Onde o quê diabos?

Por incrível que pareça, eu não sentia o menor impulso por chorar, como seria o normal. Na verdade, eu estava começando a ficar com raiva por estar nesta situação tão vulnerável, exposta à sua força, suas palavras e suas escolhas. Eu estava tão cansada de ser essa pessoa frágil, tão susceptível à uma crise de lágrimas por simplesmente estar com medo. Eu era mais do que isso. Pressionei minha mandíbula contra o maxilar com força, tentando controlar a raiva que subia pelos batimentos pesados do meu coração.

Minha respiração começava a ficar rarefeita mais uma vez.

- Onde está, Yasmin?

Agora as palavras não passaram de um mero sussurro. Se houvesse um mínimo ruído ali, eu não poderia ter escutado. A forma como pronunciava o meu nome parecia um tanto familiar. Tremi, não sei se por medo ou raiva. Talvez os dois. Continuei calada. O silêncio naquele momento poderia ser meu melhor aliado.

- Eu odeio quando você faz isso. Se eu não precisasse de você, te matari...

A frase não foi concluída, porque um som agudo cortou o ar e de repente eu estava livre. Dei alguns passos incertos para trás. Agora existia algo mais ali, uma mudança silenciosa no ar.

Coloquei a mão sobre o esterno, que ardia. Toquei em algo úmido e quando aproximei minha mão do rosto, pude sentir nitidamente o cheiro de ferrugem e sal. Sangue.

Não pude perceber qualquer outra coisa porque um clarão cegante me derrubou no chão e eu apaguei.

Mas não antes de notar um par de olhos azuis intensos e um grito cortante atravessar o ar.

Esboço do que FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora