Capítulo 2

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Ponto e vírgula.

Tão rápido quanto apaguei, recuperei a consciência. Ou assim pensava. Poderia ter se passado segundos, ou horas. Quando todos meus sentidos voltaram a mim, lembrei-me que estava no mar. Como eu não havia me afogado? Santo Deus, eu devo ter morrido, meus pulmões devem ter queimado em busca de oxigênio, devo ter batido minha cabeça em alguma rocha...

— Pode ficar tranquila.

Uma voz que não parecia ter nada de humana interrompeu meus pensamentos.

— Quem é você? Ou...o que é você? — perguntei com uma pontada de medo.

— Não é gentil chamar alguém de "o quê", ainda mais alguém que pode ser boa para você.

— Me desculpe...Eu só... O que aconteceu? Como eu posso estar respirando embaixo d'água?

— Ah, nem todos os segredos podem ser revelados, querida. O que aconteceu foi que você enxergou a pedra, pouquíssimas são as pessoas que conseguem este feito, e assim que enxergam são trazidas até mim.

— Mas...O quê...O que vai acontecer agora? E por que eu não posso te ver?

Eu estava balbuciando como uma louca, mal conseguia formas minhas frases com coerência. Meu cérebro trabalhava a mil tentando descobrir se aquilo não era algum tipo de alucinação devida a súbita inconsciência. O que leva a outro ponto: Por que perdi a consciência no meu do mergulho? Não senti dor alguma antes de acontecer, então não poderia ter batido algo, a não ser que tenha sido tão forte que não senti na hora... Podia ser exatamente isso!

— Nenhum humano pode, querida. Apenas se acalme, irei explicar tudo.

Isso era loucura, eu devia ter batido minha cabeça forte demais. "Nenhum humano". Respira, Yas, respira.

— Há gerações eu venho concedendo à alguns humanos a chance de mudarem detalhes em suas vidas. Mas isso requer muita responsabilidade. As consequências podem ser catastróficas. E por favor, não quebre sua cabeça tentando descobrir o que eu sou. Há muitas coisas nessa vida da qual é melhor não se ter conhecimento. É a ordem natural das coisas. Yasmin Genevieve, eu preciso que você preste total atenção: eu vou te dar a chance de voltar em dois momentos do passado, não importa quando ou onde. Pense bem, querida. Isso pode mudar o rumo da sua vida totalmente.

Eu tinha quase certeza de que dava para ouvir as engrenagens na minha cabeça trabalhando. Isso realmente está acontecendo? Isso não pode ser real. Por que eu? Voltar no passado... Há tanta coisa que eu gostaria de poder mudar. Mas como ela disse, uma simples mudança poderia alterar o rumo de tudo. O fio do tempo é algo tão frágil. Eu estaria disposta a correr o risco? Primeiramente, por que eu estou considerando?

— Por que eu deveria confiar em você? Isso pode ser tudo uma alucinação. Ou pior, você pode ser algum tipo de demônio.

Cruzei os braços. Eu não me renderia tão fácil, todas as possibilidades devem ser consideradas.

— Um demônio não poderia sequer pisar neste território, meu bem. E não adianta mentir para si mesma, você sabe muito bem que isto é real.

— Sei?

— Sabe, você não foi escolhida à toa, você não encara a realidade como as pessoas ao seu redor, sabe muito bem disso, tanto quanto sabe a data do seu aniversário. E não nos demoremos mais, seu corpo pode sofrer consequências por tanto tempo submerso. Você não está aqui em carne e osso realmente. Enfim, você tem uma semana para pensar sobre o assunto, no fim do último dia, venha até o mar novamente com sua resposta, exatamente à meia noite. Agora te deixarei ir. Quando retornar à consciência, você vai querer acreditar que toda essa conversa não passou de um sonho. Mas não se engane, é tudo real. Terá algo para provar isso.

Como se meus pulmões tivessem recuperado todo o oxigênio e eu tivesse emergido de um salto da água, eu estava de volta à praia. Sendo carregada nos braços de alguém. Cuspi um pouco de água e retirei os óculos de mergulho. Meus ouvidos zumbiam.

— Yasmin! Graças a Deus... Eu...meu Deus, que susto.

Fui abraçada forte antes de entender o que estava acontecendo.

— Você está tão gelada, eu pensei... pensei que você... — sua voz foi morrendo aos poucos.

Nicolas?

Pisquei meus olhos diante do garoto de cabelos negros que gentilmente me deitava na areia e tentava passar uma camisa por minha cabeça. Só agora eu havia notado que estava chovendo.

— Você ficou louca, Yasmin? Você tem noção do quanto eu quase tive um troço quando te vi inconsciente no mar? Por que você fez isso? Você me prometeu, Yas. — agora lágrimas brilhavam em seus olhos. Ou seria por causa da chuva? — Você me prometeu que ia parar de pensar nesse tipo de coisa. — Nicolas agarrou seus cabelos num pleno sinal de frustração.

Contive a vontade de abraçá-lo. Não suportava vê-lo assim.

— O quê?! Eu não fiz nada, Nicolas. Eu estava apenas nadando quando... — toda a conversa com o ser invisível me veio à tona — Quando bati minha cabeça em algo e provavelmente desmaiei. Você fala como se eu tivesse tentado me matar! — meu tom de voz estava subindo um pouco.

— Nadar no mar com um tempo desse, Yasmin? É loucura!

Tossi um pouco, recuperei o fôlego e continuei antes que ele pudesse falar mais algo.

— Nadar é loucura, mas correr não? Você sabe que nem deveria estar fazendo isso. E quem é você para falar em promessas, Nicolas? Ou será que você esqueceu de todas as palavras que me disse? Você não manteve nenhuma, Nicolas. Nenhuma. Mas eu venho cumprindo a minha. E não por sua causa. Por mim e por aqueles que me amam.

Lágrimas quentes agora escapavam dos meus olhos.

— Você não entende, Yas...

Um trovão soou ao longe.

— Não, eu realmente não entendo. — me levantei, sacudi a areia do meu corpo e despi sua camisa, devolvendo-lhe. — Obrigada por ter... Salvado a minha vida, de verdade. Eu estou bem... E você não deveria ficar forçando sua perna.

Meu coração batia tão forte que parecia que iria rasgar meu peito a qualquer momento e eu poderia jurar que meus lábios estavam tremendo. É claro que eu ainda não tinha o controle das minhas próprias reações quando ele estava por perto. Na maior parte do tempo eu sentia raiva de mim mesma por me reagir dessa maneira.

— Yas...Deixa eu te levar até em casa, deveríamos conversar.

— A Khalandris está vindo me encontrar. — travei minha mandíbula e me afastei. Depois de dois passos, me voltei novamente para ele e disse: — E eu sei que ficou preocupado, em seu lugar eu teria me sentido da mesma forma, mas você tem que parar com isso de tirar conclusões precipitadas de tudo.

Fui até minhas coisas que ainda estavam no chão, vesti minha roupa, peguei minha bolsa e sai correndo até um quiosque próximo. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Khalandris.

@Y: Cancela, K. É melhor você não sair de casa, vem muita chuva por aí, estou indo para casa.

De onde eu estava ainda dava para vê-lo sentado no mesmo lugar, olhando para o mar.

Quando estava guardando o celular na bolsa foi que notei algo em meu pescoço. Estendi a mão e toquei no delicado colar que tinha como pingente uma pequena pedra multicolorida.

**Oi, gente! E aí, o que vocês fariam no lugar da Yas? Teriam coragem de mudar algo do seu passado? É, é complicado, eu sei. Espero que estejam gostando. Fiquem à vontade para votar e me dar uma forcinha.
Até o próximo! **

Esboço do que FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora