Capítulo 13

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Ponto e vírgula.

Acordei com meu cérebro latejando. Doía tanto que a única coisa que eu conseguia pensar era nisso.

Joguei os lençóis para o lado e tateei atrás do celular, tentando clarear meus pensamentos. 00h00, dia 7. Olhei atônita para a data e horário que ocupavam a maior parte da minha tela de bloqueio com estampa de melancias. Ainda era dia 7, não havia se passado um minuto sequer. O tempo não contava ali? Não poderia ter sido tudo um sonho, poderia?

Corri para o meu banheiro, liguei a luz e me encarei no espelho. Meu cabelo estava um caos e havia sangue na minha blusa. A única prova de que eu não estava sonhando ou era complemente louca. Olhei para o pequeno corte na parte superior do meu peito, não era algo alarmante, mas parecia que iria deixar uma marca ali por um bom tempo. Notei outra coisa.

Meu colar havia sumido.

Corri de volta para o quarto e procurei por todos os cantos do quarto, até mesmo dentro da fronha do travesseiro. Não estava em lugar algum.

Comecei a me sentir tonta e os flashs de lembranças ficavam indo e vindo. Agora eu não tinha tanta clareza de tudo que havia acontecido.

Uma dor lancinante atingiu meu pulso. Estiquei o braço sem entender e então vi as palavras que começavam a se formar em minha pele, fazendo o sangue escorrer e manchar meu tapete. Mordi meu lábio até sangrar para tentar controlar o grito que se formava em minha garganta por causa da dor.

"Eu ainda vou conseguir."

Aquela frase deixou meus pensamentos frenéticos. Quando fechei meus olhos e os abri novamente, a frase e o sangue haviam sumido. Nenhum sinal de terem estado ali em momento algum.

Eu tinha certeza de que aquilo não era uma alucinação. Passei por muitas coisas para simplesmente acreditar que estava ficando louca. Ou eu poderia estar ficando louca por acreditar mesmo que não estava. Eu não podia contar ao Vitor, ele jamais acreditaria. E eu não poderia suportar seu olhar de pena ao constatar que sua irmã era louca, por mais que eu estivesse dizendo toda a verdade.

Eu teria que me proteger sozinha.

Os ponteiros do relógio pareciam andar cada vez mais devagar. Mais e mais.

Batuquei levemente com a caneta no tampo da carteira, seguindo o ritmo do "tique-taque". Parecia que quanto mais eu olhava, mais devagar ia.

Meus pensamentos só conseguiam girar em torno da ameaça silenciosa que estava me cercando e sobre como minha viagem no tempo poderia ter sido um completo desastre. E eu ainda precisava encontrar meu colar, ele era poderoso demais para ficar por aí. Ao sair daqui, iria procurar pela praia, poderia muito bem ter ficado por lá.

Quando o sinal finalmente tocou, joguei meus livros dentro da mochila e sai praticamente correndo da sala. Não queria falar com ninguém, não queria ter que encarar ninguém, muito menos sorrir para alguém. Eu estava até ignorando sutilmente a Khalandris.

Minha mente estava um caos demais para eu ter que lidar com alguém por livre e espontânea vontade.

Já estava no meio do corredor quando fui encurralada contra a parede por dois braços que se posicionaram um de cada lado meu.

- Qual o seu problema? - perguntei, tentando soar mais irritada do que assustada, mas sinto que falhei na tentativa.

- Para quê a pressa?

Henly sorriu debochadamente.

- Você não tem outra vida para cuidar além da minha? Tipo, a sua?

- Já estou fazendo isso.

Tentei sair daquela posição, mas ele não cedia. Suspirei frustrada.

- Dá para me soltar ou está difícil?

- Só se você concordar em sair comigo. Hoje está quente demais, um sorvete cairia bem, não cairia?

- Cairia bem na sua cara.

Ele riu. Fulminei-o com o olhar.

- Por que você se esquiva tanto de mim? - questionou.

- Não tenho todos os porquês do mundo, e se tivesse não lhe daria.

Talvez o fim daquela frase tenha soado com leve duplo sentido. Mordi minha língua. Tomara que ele não tenha percebido.

- Se você topar, posso mostrar que não sou tão mau.

Me olhou trapaceiramente.

- Okay! Eu vou! Agora me larga.

- Promete que não vai sair correndo assim que eu soltar?

- Não garanto nada. - agora foi a minha vez de sorrir.

- Eu confio em você.

Ele retirou as mãos da parede e eu fiquei parada, olhando para ele como uma idiota.

Só agora eu notei que ainda não passava ninguém pelos corredores. Só no minuto em que me soltou foi que os alunos começaram a sair.

- Vamos.

- Agora?! - quase derrubei a mochila.

- Vamos. - repetiu.

Revirei os olhos e o segui para fora do colégio até a sorveteria no fim da quadra, que costumava ficar cheia de alunos nesse horário.

Fomos até a mesinha mais afastada, joguei minha mochila na cadeira ao lado e me sentei. Minha cara de poucos amigos mostrava que eu não estava lá de tão boa vontade. Henly sentou à minha frente.

- Vai querer o especial de flocos? Sei que você gosta.

Estreitei meus olhos para ele.

- Como poderia saber?

- Tenho meus truques.

Cerca de cinco minutos depois ele voltou com duas taças enormes de sorvete.

- Obrigada. - murmurei. Ele apenas sorriu.

- Ah! - apontou para o ar. - Eu já ia me esquecendo, acho que isto é seu.

Então ele colocou a mão no bolso e retirou um colar de lá. Ele estava estendendo-me o meu colar, o colar que eu achava que tinha perdido durante a passagem de tempo.

Foi quando eu olhei diretamente em seus olhos, que os flashs do par de olhos azuis que vi naquele lugar colidiram contra minha mente. O colar, os olhos intensos... As peças pareciam se juntar tão bem.

Me levantei com tudo, fazendo a cadeira tombar atrás de mim e atraindo o olhar de todos. Eu poderia ter ficado vermelha, o que seria meu típico, mas eu estava com raiva demais para me importar com qualquer outra pessoa. Pior, eu chegava a estar mais assustada do que com raiva.

Henly me encarou surpreso.

- Foi você. - falei baixinho, com a voz trêmula.

- Eu o quê, Yasmin? - agora ele me olhava duro.

- Você sabe muito bem do que eu estou falando.

Esboço do que FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora