Capítulo 4

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Alguns meses atrás

Fiquei sentada quieta, na minha. Ele me observava atentamente, tentando descobrir o que se passava em minha mente. Já havia perguntando "O que foi?" duas vezes, e eu respondi que não era nada. Claro que ele sabia que esse nada era tudo, menos nada.

"Por favor, me conta, sério."

Suspirei e tentei ao máximo não demonstrar o quanto as lágrimas estavam querendo vir.

"Eu tenho medo..."

Ele me olhou sem entender.

"Medo de quê?"

"Eu tenho medo de que você desista de mim." Respondi sinceramente e evitei seu olhar.

Ele soltou uma risada rápida de descrença, e então segurou meu queixo e me fez olhar em seus olhos.

Naquele momento, meu olhar me deixava totalmente exposta.

"Eu não vou desistir de você."

Ele percebeu que eu ainda estava insegura quanto à isso.

"Eu não vou desistir de você." Repetiu.

Escondi meu rosto em seu peito.

"Você não tem como me afirmar isso."

"Eu estou dizendo que não vou desistir de você, acredite."

Olhei em seus olhos.

"Quantas vezes vai continuar dizendo isso?"

"Até você acreditar em mim e não chorar mais tarde."

"Eu não ia chorar..."

"Ia sim."

Sorri um pouco. Ele me abraçou.

"Eu não vou desistir de você. Acredita em mim?"

"Acredito."

Ponto e vírgula.

Se fosse uma escolha minha, acordar cedo nunca seria uma opção. Se eu tivesse pelo menos metade dos poderes do Darth Vader, eu com certeza os teria usado para arremessar o despertador longe. Levantei da cama relutantemente e peguei minhas coisas para tomar banho e me arrumar para mais uma longa jornada de volta às aulas. Meu Deus, eu nem cheguei no colégio ainda e já estou querendo minhas férias de volta.

— Tem certeza de que esses biscoitinhos integrais são suficientes para lanche? — mamãe questionou.

Tem que ser, eu é que não vou comer aqueles salgados gordurosos da cantina.

— Você toma juízo, Yasmin, não vai ficar passando fome para emagrecer. Assim só vai fazer mal.

— Eu sei o que eu tô fazendo, mãe. — Beijei sua bochecha e saí.

É verdade que eu venho cortando besteiras e praticando mais atividade física para emagrecer, mas sem cometer qualquer loucura. Eu sei que devemos aceitar nosso corpo como ele é, mas para isso temos que nos sentir bem em relação à como ele é e eu não me sinto tão bem. Não que eu esteja acima do peso, nem sequer perto disso. Só queria que fosse um pouco melhor, sabe, poder olhar no espelho e pensar "Nossa, estou ok". Apesar de ser um saco ter que ficar sem minha quantidade diária normal de açúcar e as besteiras — sem contar a preguiça antes de ir correr todos os dias e ainda ir para a academia — eu sei que vai valer a pena.

Minha mãe não apoia muito minha ideia de emagrecer porque para ela eu já estou magra até demais. Na verdade, alguns amigos meus também acham que já está bom, mas na minha cabeça eu ainda penso que tem que melhorar, então eu vou seguir em frente. O que realmente importa é que eu me sinta bem e continue com saúde.

Cheguei no Colégio com cerca de vinte minutos de antecedência — isso já é quase como uma regra entre a galera para que possamos abraçar todo mundo e colocar os assuntos em dia. Eu realmente adoro o primeiro dia de aula, toda aquela energia de rever a galera, rever os professores, conferir os novatos e ver tudo o que mudou e tudo que continua o mesmo. O Colégio é como um segundo lar, não importa as brigas, o tédio, a dor de cabeça ou as provas desesperadoras, cada uma daquelas paredes tem história, cada pessoa ali faz parte do seu dia a dia. Apesar de no meio da primeira semana esse entusiasmo ter ido para o espaço, ou melhor, ter ficado na cama — onde eu gostaria de estar.

— Cara, você já viu aquele novato? Tem uma pegada bad boy que me lembra o Patch... Será que eu dou sorte de sentar ao lado dele na aula de biologia?

Olhei para ela e comecei a rir com a referência. Pega essa, Capitão America, eu entendi a referência. Depois olhei para o garoto que ela indicava. Realmente, até eu me perderia num olhar daqueles. Alto, consideravelmente loiro e olhos absurdamente azuis. Khalandris não se referia à ele como bad boy por estar de jaqueta de couro ou algo do tipo, era mais por causa da postura dele.... Até da energia que emanava.

— E você sabe se ele é da nossa turma? Parece ser mais velho.

— Pode ter entrado mais tarde ou ser repetente... Eu não me surpreenderia se ele matasse aula mais do que deveria. — respondeu sem perder tempo e então se meteu no meio de outra conversa.

Olhei novamente para o garoto e no mesmo instante nossos olhos se encontraram. Ele deu um meio sorriso quase imperceptível. Corei e rapidamente virei para me atualizar em outra conversa até o sinal tocar.

De fato, o novato misterioso estava em nossa turma. Sentou-se lá no fundão, enquanto eu me acomodei no meu lugar de sempre - na primeira carteira, o mais distante possível.

O burburinho na sala cessou quando o professor Jonatas entrou na sala cumprimentando todo mundo. Ele fez com que todos se apresentassem e dissessem sua idade, como todos os anos. Isso era mais para que pudéssemos conhecer os novatos e os novatos nos conhecer. Esse ano havia cinco novatos em nossa sala, três meninas e dois meninos.

— Yasmin, dezesseis anos.

— Khalandris, dezesseis anos.

— Miguel, dezessete anos.

E assim continuou até todo mundo se apresentar. Descobri que o garoto misterioso - tenho que parar de me referir à ele assim - se chama Henly e tem dezoito anos. Um tanto velho para estar no segundo ano do ensino médio, mas quem sou eu para dizer algo sem saber da sua história.

Já conhecia meus professores bem o suficiente para não me iludir achando que o primeiro dia seria apenas de conversa. Passados meia hora de conversa livre, o professor já começou com uma introdução de revisão antes de começar com assunto novo.

A França iniciou tardiamente a expansão ultramarina, devido o envolvimento na Guerra dos Cem Anos? Ok, anotado. Saudades estudar pré-história, Roma e etc e tal, meus assuntos favoritos.

As três primeiras aulas fluiram rapidamente até o sinal do intervalo tocar. Guardei as canetas no estojo e deixei sobre a carteira antes de sair junto com o galera para o intervalo.

Hoje tinha bolo especial de "Bom ano letivo". Já comentei que eu adoro o primeiro dia de aula?

Quando voltamos para a sala e abri meu estojo para pegar a caneta e copiar o cálculo de física que provavelmente me dará dor de cabeça num futuro próximo, encontrei algo que não estava ali antes.

Um pequeno papel dobrado com apenas duas palavras escritas com uma caligrafia desconhecida:

"Eu sei."

Um arrepio percorreu meu corpo quando li aquelas duas palavras. Eu não sabia do que se tratava, mas tinha certeza de que não era algo bom.

Quando olhei ao redor da sala, Henly não estava lá.

**Oiii, darlings! Dessa vez não demorou mais de um mês para o capítulo novo sair, ultimamente estou inspirada. E então, qual a opinião de vocês sobre essas duas palavrinhas?
Até o próximo! **

Esboço do que FoiOnde histórias criam vida. Descubra agora