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Eu vi o prédio, um homem passou por mim como se me conhecesse, mesmo sem eu o conhecer, eu o ignorei.

Eu estava correndo, meus pés mal tocando o chão enquanto eu me aproximava do prédio. O som das minhas respirações ofegantes preenchia o silêncio, mas eu mal podia ouvir. O medo apertava meu peito e fazia meu corpo tremer. Eu não queria acreditar no que Hee-sik me disse. Eu não queria acreditar que ele estava ali, à beira da morte, com o destino já decidido. Mas, mesmo assim, eu fui. Porque, no fundo, eu sabia que precisava vê-lo uma última vez. Eu precisava saber que, pelo menos naquela última hora, ele não estava sozinho.

Quando entrei no prédio, o cheiro de mofo e o eco de meus passos vazios se misturavam, mas o que me incomodava não era o ambiente. Era o medo de estar atrasada demais. E cada segundo que passava parecia uma eternidade.

A escuridão no corredor me fez hesitar por um instante. Eu não sabia o que eu ia encontrar. Não sabia se ele ainda estava vivo ou se, ao chegar lá, encontraria apenas o corpo dele. A dor que isso causava me fazia querer desistir, voltar atrás e simplesmente esquecer tudo. Mas eu não podia. Não quando ele ainda estava vivo. Não quando ainda havia chance de dizer algo. Algo que mostrasse o quanto ele significava para mim.

E então eu o vi.

Ele estava parado, um pouco afastado, com a arma em suas mãos. Seu corpo estava abatido, machucado, mas o olhar dele... o olhar estava tranquilo. Como se já tivesse aceitado o que estava por vir. A cena à sua volta parecia silenciosa demais, como se o mundo todo tivesse parado.

Meu coração disparou e eu avancei, chamando por ele, mas minha voz saiu fraca, quase um sussurro.

— Shi-oh... - Minha voz falhou, e eu engoli em seco. Eu não sabia como continuar. Tudo o que eu queria era correr até ele e gritar para que ele não fizesse isso. — Você... você não pode...

Ele não se mexeu, mas sua cabeça se virou para mim. Seus olhos, sempre tão intensos, agora estavam vazios, como se a luta que ele carregava dentro de si tivesse finalmente chegado ao fim.

— Hae-won. - A voz dele saiu mais suave do que eu imaginava, mas ainda assim, carregada de algo que eu não queria entender. Ele não parecia surpreso por me ver. Não parecia que eu havia chegado a tempo de impedir algo. Ele já sabia o que ia fazer.

Eu dei um passo à frente, e mais um, até que finalmente estive ao seu alcance. Eu podia ver o sangue manchando suas roupas, as marcas da dor em seu corpo, mas o pior de tudo era o olhar dele. O olhar resignado, como se ele soubesse que nada mais poderia ser feito.

— Não faça isso. - Minhas palavras saíram tremulas, e minha garganta estava apertada. — Você não precisa acabar assim. Tem uma saída. Podemos ir embora, nós dois. Podemos encontrar uma forma de viver, Shi-oh.

Ele balançou a cabeça levemente, como se minha tentativa de persuadi-lo fosse algo que ele já esperava. Ele estava em paz com sua decisão, e isso cortava meu coração de uma maneira que eu não conseguia descrever.

— Não, Hae-won. Não há mais saída para mim. Eu sou... eu sou o que sou, e nada vai mudar isso agora. - Ele deu um passo em direção a mim, e a dor em sua voz me fez querer gritar, mas eu fiquei em silêncio, absorvendo cada palavra dele, como se cada uma fosse uma lâmina perfurando minha pele. — Eu já fiz escolhas. E elas me levaram até aqui. Eu não posso continuar, Hae-won. Não posso carregar isso por mais tempo.

Eu negava com a cabeça, inconformada. A cada palavra dele, mais uma parte de mim se despedaçava, mas eu não sabia como lutar contra aquilo. Como lutar contra a morte que já se aproximava, contra o fim de um homem que se perdeu em seu próprio caminho.

— Não! Não é tarde demais! Nós podemos... podemos sair juntos. Eu te amo, Shi-oh. - Eu não consegui conter as lágrimas, e elas desceram como um rio incontrolável, sujando meu rosto, mas eu não conseguia parar. — Por favor... não faça isso.

Eu vi seus olhos se suavizarem por um breve momento, mas a dor em seu olhar aumentava. Ele levantou a arma com a mão que estava trêmula, mas com a decisão clara. Ele sabia que o fim estava perto. Que o que ele estava prestes a fazer era inevitável, uma escolha que não havia mais volta.

— Eu te amo também, Hae-won. — Ele disse, as palavras quase um sussurro, e naquele momento, eu quase pude acreditar que ele mudaria de ideia. Quase pude sentir que ele se entregaria à vida, àquela chance que nós poderíamos ter, se eu conseguisse convencê-lo.

Mas não era assim que a história ia acabar.

Ele olhou para mim pela última vez, o silêncio entre nós quebrado apenas pela respiração pesada. A arma ainda estava em sua mão, a ponta do cano apontando para sua própria cabeça. O que ele estava fazendo, o que ele estava escolhendo, me arrancava de dentro de mim.

— Eu queria que fosse diferente. Eu queria que a gente tivesse mais tempo, Hae-won. - Ele sussurrou, e eu senti meu peito apertar, como se eu fosse explodir. — Mas você precisa viver. Não carregue a culpa. Eu sou o único culpado por tudo isso. Você merece mais. Você merece ser feliz. E eu... eu não posso mais fazer isso com você. Não posso mais ser o peso que você carrega.

Eu tentei gritar, tentei correr até ele, mas, antes que eu pudesse alcançar os policiais chegaram, Hee-sik estava me segurando, o som do disparo cortou o ar. Era como se o tempo tivesse parado. O som ecoou pelo espaço vazio, e o mundo, de repente, se tornou um lugar sem cores, sem vida.

Eu me soltei dos braços de Hee-sik, correndo até ele, olhei para ele, o corpo dele caindo lentamente, os olhos ainda fixos em mim, mas já sem vida. Eu não consegui fazer nada. Nada além de cair de joelhos, soluçando, gritando em silêncio. O homem que eu amava, o homem que eu queria salvar, já não estava mais ali.

A última coisa que ouvi foi o som da minha própria dor, ecoando pelas paredes daquele prédio abandonado.

E, com ele, o que restava de mim também desapareceu.

Dangerous - Ryu Shi-OhOnde histórias criam vida. Descubra agora