25 de Dezembro de 20108:23 AM
O claro da janela não me desperta, afinal, já estou despertado fazem quase meia hora. Sentado na cama, à espera dos meus pais.
Nunca pensei que em cinco dias tanta coisa pudesse acontecer. Quando quebrei meu braço, nunca passou pela minha cabeça que meus pais fossem pela primeira vez, em anos, tomar algum tipo de atitude por eu ser o único a enxergar Luke.
Eu fui diagnosticado com esquizofrenia e internado em uma clínica. Qualquer outro garoto de dezessete anos, na minha situação, estaria revoltado agora com seus pais. Até agora eu mantive a calma porque sei que só fizeram isso por estarem preocupados comigo. E talvez eu mesmo esteja.
Sei que não sou louco e ainda não caiu a ficha por completo de ter o nome "esquizofrenia" no meu formulário médico, mas no momento em que Luke me tocou e ainda por cima, me beijou! Eu não o senti. Era como se ele fosse um nada! Ele estava na minha frente e ao mesmo tempo não estava.
Foi algo desesperador.
Alguém bate duas vezes na porta, eu murmuro um "entre" e vejo meus pais entrarem.
- Michael! - Eles me espremem quase que me esmagando dentro de um abraço em familia.
Na minha cabeça, pensei que quando fosse vê-los, teria algum tipo de sensação mais otimista. Sendo que, eu não estou muito feliz em ver meus pais e me sinto péssimo em ter que dizer isso, mesmo sendo a verdade.
- Oi pessoal! - Falo, tentando dar um dos meus melhores sorrisos falsos.
- O que aconteceu, Michael? Você não está feliz? - Pergunta minha mãe.
Por mais que eu queira estar, não, eu não estou nem um pouco feliz.
- Sim, estou. É só que ainda estou um pouco chateado por não ter participado da "Melhor Casa de Natal" e provavelmente o Sr. Rubens vai ganhar de novo.
- Eu não contaria com isso esse ano. - Diz meu pai, com um daqueles sorrisos que você faz quando sabe que vai surpreender alguém.
- Como assim? - Pergunto.
Ele apenas continua sorrindo.
Um quarteirão antes de chegar à minha casa, minha mãe amarra uma faixa no meu olho que me fez não conseguir enxergar absolutamente nada. Eles me dizem que tem uma surpresa, e apesar de eu ter tipo 99% de certeza do que se trata a surpresa, tento não me entusiasmar para depois não decepcionar-me.
Quando chegamos, meu pai me ajuda a sair do carro sem que eu tropece em algo e morra. Minha mãe tira a faixa do meu olho.
ERA EXATAMENTE O QUE EU ESPERAVA!
MINHA CASA É A CASA MELHOR DO NATAL!
Todos os brilhos, bonecos de neve, PAPAI NOEL, tudo que uma casa de natal tem que ter. Não está como nos meus planos, eu diria que talvez esteja até mesmo melhor, mas não quero dar esse gostinho aos meus maravilhosos pais.
Olho para a casa do Sr. Rubens, ele está parado na entrada, me fitando com uma cara nada agradável. Dou-lhe um sorriso de vilão. Ele franze a testa e entra.
Viro para meus pais e grito:
- Muito obrigado! Vocês são os melhores pais de todos!
- Não agradeça apenas a nós. - Diz meu pai.
Calum e Ashton saem de trás do papai Noel. Nesse momento, eu não queria, mas começo a chorar como um bebê. O motivo? O motivo é que eu não estou sozinho, eu realmente tenho pessoas que se preocupam e acho que me amam assim como eu os amo. No entanto, em meio a esse momento de alegria, ainda consigo me sentir incompleto e infeliz porque Luke não está aqui.
25 de Dezembro de 2010
11:58 PM
Sentado no quintal. Barriga completamente cheia e sinto que a qualquer momento o peru de Natal pode sair voando de minha boca.
Esse talvez tenha sido o Natal em que estive com meu cabelo azul. O Natal com o peru mais gostoso de todos os anos. O Natal em que o Ashton esteve com o cabelo mais bonito. O Natal em que ganhei "A Melhor Casa de Natal" ou o Natal em que o nariz do Calum esteve maior, contudo, não foi nem de longe, o melhor Natal.
Esse é o primeiro 25 de Dezembro, desde a época em que conheci Luke, que comemoro sem ele. O que se torna a coisa mais dolorosa da minha vida.
O corpo de um homem possui 65% de água e acredito que com todas as lágrimas que saem constantemente de dentro de mim, eu esteja com mais ou menos 15%. Ou talvez esses 15% sejam a porcentagem de força para aguentar ficar mais um minuto sem o meu melhor amigo... Ou o possível garoto que eu sinta algo maior que apenas amizade.
Com os flocos de neve obstruindo minha visão e tudo bastante nublado, enxergo uma silhueta vindo em minha direção. Levanto para enxergar melhor e sinto meu coração saltar do peito quando vejo a imagem de Jesus Cristo, ops, Luke, se aproximando.
- Por que seus olhos verdes não estão mais tão verdes? - Ele me pergunta.
- Acho que porque estava chorando. - Respondo.
- Não faça mais isso. Seus olhos são uma das minhas coisas prediletas. -Ele pensa e volta a falar: - São as minhas coisas prediletas.
Meu queixo treme ao mesmo tempo em que me esforço para não chorar na frente de Luke.
- Pensei que você tivesse me deixado para sempre. - Falo.
- Eu nunca faria isso... Olhe. - Ele segura minha mão e com a outra aponta para o céu. Uma estrela cadente atravessa toda a minha rua. - Faça um pedido, rápido!
- Eu só quero sempre lhe sentir como estou lhe sentindo agora.

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IMAGINARY [muke]
Fiksi Penggemar"Luke é o melhor amigo que alguém poderia ter, mas por algum motivo ele é invisível para todas as outras almas infelizes que convivem comigo" © 2015, aboutmuke