15 de Dezembro de 2010
7:20
Manhã tão fria que não dá nem mesmo para bater punheta. Minha mão ta congelando, se eu colocar no pau, me tremo todinho.
A manchete do jornal parece gritar do outro lado do vidro da pequena máquina de venda:
THE DAILY TRIBUNE NEWS - UNIVERSIDADE INTRÍSECA É VANDALIZADA
Eu ainda não havia visto essa. Algum aluno da equipe do jornal da escola deve ter reabastecido a máquina um pouco antes. Sorte dele que não está por perto agora.
Maravilha. Quando Luke ver nossa obra de arte estampada na primeira página do jornal da cidade... Ele simplesmente vai ter um ataque! Eu faria de tudo para não estar presente quando isso acontecer.
- Cara... - Luke diz balançando a cabeça. - Se nós ainda tivéssemos lá no momento da foto, estaríamos famosos! Quer dizer... Você estaria porque provavelmente não iriam me ver.
Observo Luke por um momento tentando compreender o que aconteceu com sua personalidade certinha, a qual anteriormente me livraria de ter um futuro dentro do presídio.
- Está bem. - Digo, tentando manter a calma. - O que ta acontecendo com você?
- Para ser sincero, nem eu mesmo sei. - Ele coloca a mão nas minhas costas e caminha comigo pelo corredor até meu armário.
Luke dessa maneira me irrita. "Não sei" parece ser a resposta para todas as minhas perguntas e isso é perturbador. Sinto como se Luke não fosse mais tão próximo de mim.
Abro meu armário então sento dentro dele.
- Isso é burrice Luke, muita burrice!
- O que? - Ele pergunta, fazendo o mesmo que eu no armário ao lado. - Você sentar ai dentro correndo o risco de ficar entalado?
- Às vezes sinto como se eu afastasse as pessoas e me culpo por isso.
- Eu não to me afastando de você.
- Sim, você está. E eu não posso te culpar porque se eu pudesse, eu também fugiria de mim.
- Michael se fosse pra eu fugir de você, teria fugido há onze anos.
Eu o olho intrigado ao que se deve pela sensação de raiva e culpa.
Alguns minutos mais tarde, o sinal toca e os alunos que ocupavam os corredores da escola se apressam para suas aulas. Ao tentar fazer o mesmo, percebo uma coisa bastante constrangedora...
Estou entalado.
Olho para Luke torcendo para que ele não note minha agitação, tenho certeza como ele iria me zoar até a formatura, ou depois disso.
- Precisa de ajuda? - Ele diz, com um sorriso sarcástico.
- MAS QUE DROGA! - berro
Luke se levanta e estende sua mão. Ele parece uma pessoa boa, mas sei que no fundo quer apontar o dedo para mim e dizer um clichê "Eu te avisei!".
Aperto sua mão porque não tenho outra escolha, mas ao sentir sua mão quente em volta da minha e observar o seu braço -que está com a manga do casaco dobrada- transparecendo suas veias pulsando, eu sinto uma sensação meio gay que não gostaria de sentir.
Para completar a gayazada, Luke me puxa tão forte que caio por cima dele, o que faz que involuntariamente meus olhos vaguem os seus.
Luke deveria se afastar ou olhar apenas para os meus olhos, mas ele nos vira ficando por cima de mim e descendo o olhar para minha boca, o que me deixa inquieto, desconfortável, agitado e desesperado por não saber ao certo o que está acontecendo.
EU SEMPRE FUI MACHO!
Tudo bem que em todos os meus dezessete anos de vida eu nunca transei, mas isso não foi por falta de oportunidade. Eu já quase perdi minha virgindade umas três vezes, só que sempre que eu chegava perto, algum parente meu aparecia na hora broxando tudo. Parece que minha família tem um radar para sexo.
Falando em broxar, o loiro repugnante sai de cima de mim e caminha pelo corredor sem me dar nenhuma satisfação.
Ele não pode simplesmente quase me beijar e depois sair andando como se nada tivesse acontecido, isso não se faz, não mesmo.
Conforme a manhã avança, minha hostilidade em relação a Luke se transforma em raiva do mundo. Quando Charles me acerta com a bola de vôlei na aula de educação física, atiro de volta para ele, no mesmo segundo.
Com força.
Quando Ashton se aproxima de mim para me falar sobre como foi a sua noite de sexo com Page, filha da diretora, meu olhar cortante o faz calar a boca.
Quando, no corredor, eu esbarro na linda garota gótica que tem cheiro de cemitério, não peço desculpas.
E, quando abro as portas da biblioteca com força, passo pelos detectores de metal pisando duro e marcho como um soldado até meu lugar do período de estudos. Estou pronto para confrontar Luke por não ter me dado satisfações ou para simplesmente ignorá-lo como ele me fez.
Mas aí ele chega. E fala.
- Quer acampar esse fim de semana? - Pergunta, todo covinhas e olhos azuis.
- Quero - respondo. - Quero, sim.

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IMAGINARY [muke]
Fanfiction"Luke é o melhor amigo que alguém poderia ter, mas por algum motivo ele é invisível para todas as outras almas infelizes que convivem comigo" © 2015, aboutmuke