Já se passaram mais ou menos uns quinze minutos desde que estou sentado com Luke de frente para a diretoria, pois a Sra. Watson insiste em conversar com a diretora algo sobre mim.
Isso é tão desconfortável.
Já me levantei umas quatro vezes para tentar escutar alguma coisa. Até mesmo peguei um copo do bebedouro e coloquei entre meu ouvido e a porta de madeira, mas acho que essas coisas só funcionam realmente nos filmes.
- Eu avisei que isso não ia dar certo. - Diz Luke, brincando com seus dedos.
Eu dou de ombros.
Minha mãe chega na secretaria tão apressada que nem mesmo repara na imensa porta, dando de cara com o vidro. Eu me levanto um pouco assustado checando se tudo está bem.
- Merda! Caralho! Buceta de asa! - Ela diz, colocando a mão na cabeça e finalmente entrando.
Mamãe se vira para mim com seu cabelo loiro e brilhante e prende meu olhar. Parece que ela parou para aplicar mais uma camada de rímel antes de entrar no prédio.
- Cadê a sua psicóloga intrometida, Michael? -Ela pergunta se abaixando para ajeitar seu enorme salto preto.
Eu aponto para a diretoria e antes que eu possa dizer que minha mãe deveria esperar elas terminarem a conversa, ela entra como uma águia, mas sem bater a cara na porta dessa vez.
Agora, eu não preciso de nenhum esforço ou copo para poder ouvir o que estão conversando, já que minha mãe fez o favor de deixar a porta um pouco aberta e de falar alto o bastante para que até mesmo os outros alunos da escola escutem.
- Você cuida dos seus alunos que do meu filho cuido eu!
- Mas ele é nosso aluno.
- Não me estressa que eu não gosto quando me estressam!
Sempre que dizem algo que minha mãe não sabe como responder, ela responde isso.
- Sra. Clifford, eu realmente estou preocupada com o Michael, não é normal um garoto de dezessete anos ter um amigo imaginário.
Amigo imaginário?
- Elas acham que você é coisa da minha imaginação? - Pergunto para Luke, mas ele já não está mais ao meu lado.
Aproximo-me um pouco mais da porta para ver até onde essa conversa de pais e professores desesperados e exaltados vai dar, mas antes que eu consiga ouvir mais alguma palavra, alguém fecha a porta.
...
- Não deixe que as pessoas lhe atinjam, Michael. - Diz minha mãe enquanto dirige de volta para casa.
- Por que você ta me dizendo isso? - Pergunto.
- Não sei, apenas achei que devia.
Minha mãe não é uma mãe ruim, apenas não é uma mãe normal, sabe? Ela se atrapalha sempre que conversa comigo e a maioria das vezes que faço uma pergunta ela costuma responder "não sei" e isso não é como se ela realmente não soubesse.
- Hoje eu vou sair com os meninos, só pra avisar. - Falo, olhando pela janela.
- Não precisa me avisar. Você já tem DEZESSETE anos! - Ignoro o fato dela falar minha idade mais alto do que falou as outras palavras. Acho que tem algo haver com o que Sra. Watson disse hoje.
- Não lembra da última vez que sai sem avisar? Você achou que eu tivesse sido sequestrado e chamou a polícia... Que quase prendeu o Ashton!
- Mas é diferente, nessa época você tinha dezesseis anos. - Ela diz como se essa época fosse há um século e não há dois meses. - Para onde vocês vão?
- Eu não tenho certeza, acho que para um lugar chamado "Sankeys". Nós vamos gastar o dinheiro do Afonso.
Alfonso é o nome que dei para o meu cofre. Quando eu era pequeno costumava ser bastante pidão e queria ajudar Luke de alguma forma; ele vivia sozinho antes de se mudar completamente para minha casa, então sempre que meus pais ofereciam uma noite de bingo, eu colocava uma urna na entrada, escrito:
"COLABORE COM
UM POBRE GAROTO"
As pessoas achavam graça e davam algumas moedas. Meus pais não gostavam de bingo, mas minha mãe criou uma rivalidade com a Sra. Bojunga, então as noites de bingo começaram a ser frequentes e eu e Luke já estávamos nos tornando milionários.
Em outras palavras, semana passada nós nos lembramos de todo esse dinheiro guardado no Alfonso junto com os que eu recebia tirando neve do quintal dos vizinhos na época de natal, então resolvemos gastar, já que atualmente somos quase homens muito gostosos e desejados.
10 de Dezembro de 2010
23 horas
Clima frio. Posso até mesmo usar meu casaco do Batman, mas não farei isso em uma noite dos machos.
Quando Calum me chamou para ir à Sankeys eu pensei "porra, deve ser uma lanchonete maneira" Que nada, é um puteiro!
No começo eu fiquei em choque com o lugar e não tinha a mínima vontade de sair de perto de Luke, mas ai todas aquelas garçonetes e até não garçonetes começaram a me oferecer bebidas e eu estava com tanta sede que quando olhei para o lado, Luke já não estava mais comigo e tudo parecia girar.
Não sei ao certo o que aconteceu no puteiro, além de termos torrado todo o dinheiro com bebida e mulheres, mesmo que eu não tenha usado nenhuma mulher.
Ou será que usei?
Meu Deus eu posso ta com DST?!
- Luke, preciso que você me lembre de ir a um médico amanhã. - Digo, tirando a atenção dele do motorista do taxi.
Às vezes acho que Luke seja gay.
- Tudo bem, Clifford. - Ele me responde, mas eu não pareço ter tirado a atenção dele do homem alto, loiro, de olhos verdes e super hiper mega ultra gostoso.
Não que eu repare muito nessas coisas.
- Luke ta aqui? - Ashton pergunta.
- E quando ele não está? - Diz Calum.
- Quando vocês dois estão transando. - respondo.
Chego em casa e não tenho a mínima ideia de como contar para minha mãe que gastei todo o dinheiro de anos em apenas uma noite.
- Não tem pra que ficar tão tenso. Diga que fomos assaltados!
- Eu não vou fazer isso, Luke, isso é tão antiético!
- Não é antiético, é criativo. - Ele diz e antes que possa responder algo, minha mãe abre a porta.
Eu fico tão nervoso que começo a suar frio, mentira eu não suo frio, isso é coisa de gente hipertensa, mas fico tão nervoso que apelo para:
- Fomos assaltados!
- Que coisa horrível!

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IMAGINARY [muke]
Fanfiction"Luke é o melhor amigo que alguém poderia ter, mas por algum motivo ele é invisível para todas as outras almas infelizes que convivem comigo" © 2015, aboutmuke