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Pra falar a verdade não acho que dessa vez eu tenha demorado taaaaanto quanto das outras vezes pra atualizar, isso já é um bom começo! Enfim, esse capítulo ta um pouco diferente, eu acho, mas espero que gostem e que não deixem de comentar dizendo o que acharam.
Bjs, amo vcs e sigam o @ quotesmuke no twitter.
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30 de Dezembro de 2010

15:53 PM

É claro que a vida é boa e a alegria é a única indizível emoção, mas acontece que eu estou triste.

Como se tivesse sido combinado, a campainha toca e eu praticamente dou um pulo do sofá até a entrada para abrir a porta. Ao escancará-la, encaro Calum que está ali parado com uma pitada de preocupação no rosto.

Calum segura dois copos descartáveis de café tamanho médio, mas ao invés de entrar, permanece parado na varanda.

- Vamos. - diz ele.

- vamos. - afirmo.

Corro e digo a minha mãe que vamos ao shopping. Pego meu casaco, celular e carteira, depois volto e entro com Calum dentro da minivan de sua mãe. Colocamos o cinto e saímos.

Com um copo de café na mão, a estrada a minha frente e um amigo que não faz muitas perguntas, consigo me sentir um pouco estável, se não fosse pelo fato da ansiedade agonizante que fica dentro de mim.

Uma hora mais tarde, ao pôr do sol, estou na entrada do cemitério. Os tremores que sobem por minha espinha me fazem reconsiderar a atitude de entrar sozinho. Gesticulo para Calum que está na minivan, ele logo desliga o motor e aparece ao meu lado.

- Eu preciso saber quem você procura. - Diz.

- Luke. - respondo.

Calum me olha um bocado acanhado, coloca o braço por cima do meu ombro, e isso me dá forças para sair de onde estou.

Andamos a maior parte do tempo em silêncio e só quando vejo a estátua de uma mulher com asas, vejo-me obrigado a apertar forte a mão de Calum.

A cena diante de mim lembra demais o enterro que aparece em meu pesadelo, uma visão que agora é tão perturbante que chega a doer.

Direciono minha cabeça para o lado direito e um pouco mais a frente eu encontro o que me forcei a não acreditar.

Deixo Calum para trás e ando até a simples lápide de granito que agora está em frente aos meus pés. Escuto os tênis de Calum se aproximarem enquanto meu olhar fica grudado na pedra, como se ela pudesse responder a todas as minhas perguntas.

A DISTÂNCIA FAZ AO AMOR AQUILO QUE O VENTO FAZ AO FOGO: APAGA O PEQUENO, INFLAMA O GRANDE.

LUKE ROBERT HEMMINGS

16 DE JULHO DE 1993 - 28 DE OUTUBRO DE 2004

Meus olhos ardem com lágrimas por alguém que está morto e vivo ao mesmo tempo para mim. Minhas mãos escorregam trêmulas, frias e quase mortas pelo granito da lápide e minha imaginação por si só fantasia um Luke deitado ai dentro com seus olhos fechados, sem o sorriso que tanto aprecio e nem mesmo a palpitação de seu coração que sinto quando nos abraçamos.

31 de Dezembro de 2010

23:46

Por alguma razão todos usam branco no ano novo e para ser sincero... Ultimamente essa não é uma das cores que mais admiro.

Estou ansioso para que os ponteiros dos relógios marquem logo meia noite e eu possa contar as historias de ontem e antes de ontem dizendo "ano passado". Já repararam como é bom dizer "No ano passado"? É como se tivéssemos atravessado um rio deixando tudo na outra margem.

Mesmo que nada tenha de fato mudado, quando o ano virar, uma parte sua vai acreditar que algo mudou e mesmo sem saber o que seja... Você vai se sentir feliz e mais motivado com essa "mudança", criando esperanças de um novo ano melhor.

- Está animado? - Pergunta meu pai.

- Não tenho tanta certeza, tudo anda tão diferente. - respondo.

- O mundo é como um palco e cada um deve recitar um papel. - Ele diz.

- O meu é papel de trouxa.

Meu pai me abraça do jeito mais carinhoso que ele já me abraçou em toda a minha vida ao mesmo tempo em que sussurra algo em meu ouvido direito:

- Corra atrás daquilo que é importante para você, não ligue se as pessoas digam que é um absurdo ou uma completa loucura, o que importa é se faz você se sentir bem. E no fundo, o normal e o louco são melhores amigos.

Nosso abraço se desfaz, mas ainda assim meu pai permanece encarando-me com aquela lucidez em seus olhos tão verdes quanto os meus. Quando ele se distancia dando um perdido no meio da multidão branca eu disparo até o quintal e grito em plenos pulmões:

- LUKE! LUKE! ONDE VOCÊ ESTÁ?

As árvores baixas deixam o lugar um pouco sombrio. As folhas soltas dançam ao vento com as roupas do varal e uma brisa leve e suave toca meu rosto.

- Não tenha medo. - Escuto a voz agradável de Luke. - Isso foi apenas eu te dando um beijo em silêncio.

De repente, em um momento fugaz os fogos de artifício anunciam que o ano novo se faz presente. De repente, em outro instante fugaz as taças das pessoas na frente da minha casa se cruzam e o champagne borbulhante anuncia que o ano velho se foi e o novo ocupou o seu lugar.

De repente, meus olhos e os de Luke se cruzam e nossas mãos se entrelaçam. De repente, nós nos abraçamos em um abraço caloroso, em um só pensamento, um só desejo.

Amor?!

De repente, eu sei pela primeira vez o real significado da palavra e não preciso de um Google para isso porque, de repente, eu estou a sentindo de uma forma que eu jamais esperaria sentir. Eu amo Luke e sei que ele também me ama.

De repente, sem mágoa, sem rancor, sem medo, sem a preocupação de um de nós estarmos possivelmente morto nós lembramos como é bom viver.

IMAGINARY [muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora