28 de Dezembro de 2010
7:16 AM
O dia está cinzento, há neve e alguma chuva. Cinzentos e nevoentos são também os semblantes das pessoas ultimamente.
Depois de passar mais 20 minutos para sair debaixo das cobertas de minha cama de casal enorme, cheia de travesseiros, levanto-me. Troco de roupa. Coloco uma calça skinning preta e um suéter também preto para combinar com o tempo.
Fico surpreso por minha mãe não ter berrado pela casa ou puxado meu pé, fazendo com que eu me acordasse. Hoje terá um jantar importante na minha casa. Importante pelo menos para os meus pais. E quando se tem esses eventos da alta sociedade, ainda mais na nossa própria casa, meus pais costumam ficar bastante nervosos. Principalmente minha mãe.- Você está pronto? - Luke me pergunta.
- Estou. - Falo. - Estou feliz que esteja aqui.
- Eu estou feliz por estar aqui.
Ultimamente tudo anda de forma maravilhosamente bem, tão bem que fico surpreso e angustiado. As coisas não costumam dar sempre certo para mim e quando elas dão eu fico atento para o que de pior pode acontecer.
Ashton me oferece carona, mas recuso. Meus planos para hoje não envolvem escola e sim passar um dia quase todo com Luke.
- Para onde nós vamos? - Ele pergunta.
- Apenas ande. - Digo, ainda olhando para o chão coberto de neve.
- Isso é algum tipo de surpresa?
- Não seja tão princesinha. - respondo. - É só que eu ainda não sei para onde vamos.
A essa hora da manhã o movimento não é tão grande como deveria ser, uma vez ou outra se passa um carro ou um ônibus... Ou um estudante atrasado para a escola. Fora isso, eu e Luke somos os donos da cidade.
Uma das coisas que mais aprecio em nossa amizade é que mesmo sem fazermos nada ou sem falar nada, nós ainda assim nos divertimos. Talvez eu consiga me divertir apenas em olhar para ele. Ele percebe que estou o olhando e pergunta:
- O que foi? - E sem pensar, eu digo:
- Você é perfeito. - E ele me responde:
- Ninguém é perfeito, especialmente eu. - E eu replico:
- Porque ninguém lhe ver como eu te vejo.
- Talvez porque ninguém mais me veja.
Eu encaixo minha mão na mão de Luke e algo incrivelmente espantoso acontece.
- Você está sentindo? - Ele pergunta sorrindo.
Eu sorrio de volta e respondo:
- Sim, eu estou sentindo!
Eu sinto sua mão me contornar! Estou especialmente feliz por caminhar de mãos dadas com Luke como se estivesse caminhando com qualquer outra pessoa. Sentindo o seu polegar massagear o meu, apesar da luva que ambos usamos. Sentindo nossos braços se encostarem, apesar dos casacos os cobrindo. Sentindo minha cabeça no seu ombro, mesmo que eu esteja usando uma touca de lã.
Sem ter tempo para reparar, eu e Luke já estamos na praia e resolvemos ficar por aqui mesmo.
- Tem coragem de encarar essa água? - Pergunta, ainda sem soltar minha mão.
- Claro que não! Isso iria me congelar inteiro.
Do outro lado da ponte, em um dos bares, o som de um piano antigo soa por toda a praia. O músico não olha para nenhuma pauta, os acordes saem diretamente de seu espírito, tristes, mas ao mesmo tempo esperançosos.
- Vamos dançar. - Peço.
Luke coloca suas mãos desajeitadas em minha cintura e mais desajeitadas ainda, eu coloco as minhas em sua nuca. De repente, um medo de não senti-lo mais invade todo o meu corpo. Eu o agarro com força encaixando minha cabeça na curva de seu pescoço.
- O que aconteceu? - Luke pergunta.
- Só estou com medo de você voltar a ser apenas um vento ou algo assim.
- Isso não vai acontecer. - Diz.
- Como você pode ter tanta certeza? - Pergunto me afastando um pouco dele para encara-lo.
- Porque você fez o seu pedido para a estrela cadente.
Luke está parado em minha frente com seus olhos azuis mais brilhantes que o normal. Eu não consigo ver apenas a sua alma nesse brilho, mas sim a de nós dois. O frio que sinto da temperatura local não é nada comparado ao que se engrandece no meu estômago e sinto que em algum momento posso entrar em uma convulsão por ter tantos sentimentos se embaralhando de uma vez só.
Eu tento encorajar Luke -olhando para sua boca- a tomar iniciativa de fazer o que nós dois queremos que aconteça, mas o seu único impulso é retribuir o olhar destruindo-me aos poucos.
Mesmo que minhas pernas estejam prestes a se derreter eu arranco toda a coragem guardada dentro de mim e o beijo.
Meus lábios estão ressecados e frios, mas quando se colam com o dele nada disso parece importar porque tudo é incrivelmente bom. O melhor de tudo é sentir nossas testas uma na outra, geladas e molhadas pelos flocos de neve. Sua mão ainda está na minha cintura e as minhas ficam balançando no ar sem saber onde coloca-las; eu gostaria de coloca-las em todas as partes do seu corpo, mas sei que isso é impossível então apenas as levo para seu pescoço.
E, meu deus! Quando nossos lábios se abrem um pouco, tudo esquenta! E nosso beijo fica tão suave e sincronizado que nem parece se tratar de dois garotos.
Nós nos separamos e Luke diz, encarando o mar:
- Somos como um barco. Passamos por maresia e enfrentamos maremotos.
Ele me abraça.
Todos se dizem ter um lugar favorito, bem, eu não tinha. Agora eu sei que o melhor lugar do mundo é dentro do abraço de Luke.

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IMAGINARY [muke]
Fanfiction"Luke é o melhor amigo que alguém poderia ter, mas por algum motivo ele é invisível para todas as outras almas infelizes que convivem comigo" © 2015, aboutmuke