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14 de Dezembro de 2010

       15:20

Tarde nublada, daquelas em que você quer simplesmente ficar jogado em sua cama e só acordar na hora de comer.

Saio da escola, apavorado com o peso de minha mochila. Têm livros, livros e mais livros aqui dentro. E não são do tipo de livros que costumo ler sem obrigação, como por exemplo, "As aventuras de Sherlock Holmes", não, são livros de matemática, português e todas essas matérias que me deixam deprimido.

Estou com cansaço em excesso depois de passar uma tarde inteira na detenção por tirar uma com a cara da Sra. Benson. Nós poderíamos simplesmente ter deixado isso para mais tarde.

- Para onde nós vamos? - Luke pergunta.

- Para casa.

Luke segura meu braço e me da um olhar bravo.

- O que foi? - Pergunto. - Quer me beijar?

- Não seja homofóbico.

- Isso não foi homofóbico.

- Foi sim. - Ele retruca.

- Então você admite que é gay?

- O que tem haver eu ser gay com você ser homofóbico?

- Eu só posso ter sido homofóbico se eu tiver ofendido sua orientação sexual. - Eu continuo a andar, mas Luke fica parado enquanto coloca seu raciocínio em dia.

- Isso não é verdade! - Diz, dando passos rápidos para me alcançar.

- Não vou discutir isso com você. Procura no Google.

- Morre.

Eu gosto de ver Luke estressado porque ele fica com a cara emburrada e isso faz com que forme uma ruguinha em sua testa, o que deveria ser considerado a oitava maravilha do mundo se eu já não existisse.

Depois do jantar eu vou para o meu quarto e antes que eu passe totalmente da porta, Luke grita:

- Michael, venha olhar isso!

Ele está de frente para tela do computador, então começa a ler:

- Muitas vezes aqueles que guardam o sentimento de homofobia não definiram completamente sua identidade sexual. Isso quer dizer que você pode ser gay.

- Mas eu não sou homofóbico, apenas perguntei se você queria me beijar.

Luke revira os olhos enquanto eu foco na tela do computador.

- Opa! - Digo e começo a ler o que tem no site. - Homofobia significa aversão irreprimível, repugnância, medo, ódio, preconceito que algumas pessoas, ou grupos nutrem contra os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais. Compartilhe no Facebook. Anh, li demais. - Rodo a cadeira para Luke. - Viu? Eu só posso ser homofóbico se tiver ofendido sua sexualidade, se você não é gay não tem com o que se preocupar.

- Ta, chega! Você ta cansando minha beleza. - Diz Luke. - Mas sim, eu quero.

- Quer o que?

- Te beijar.

Por alguns segundos, ficamos em silêncio. Todos os meus músculos estão tensos, de uma forma constrangedora; é algo dolorosamente intimo. Eu deito na cama, agarro o travesseiro com força como se minha vida dependesse disso. Luke conseguiu de alguma forma me deixar completamente sem graça e eu não sou o tipo de cara que sente vergonha.

- Deixa de ser idiota. - Ele fala. - Tava apenas brincando.

Solto o ar com força e uma risada mais falsa que as pessoas da minha escola.

- Vamos fazer alguma coisa divertida hoje?! - Luke pergunta, empolgado.

- O que tem de divertido para se fazer em uma terça-feira?

Nós nos olhamos por um longo instante.

14 de Dezembro de 2010

     22:12

Hoje é o tipo de noite perfeita pra quem é um vampiro. Calma, fria, escura, sem fofoqueiros por perto. 

Eu e Luke estamos de frente para Intríseca maior e única universidade da cidade. Nós vamos para parte dos fundos onde tem uma escada de alumínio e algumas latas de tinta em spray.

- Legal. O que nós vamos fazer? - Questiono sem muita empolgação.

- Não é óbvio?

- Você ta de brincadeira?

Ele nega com a cabeça. Luke parece verdadeiramente sincero. Hesito, olhando para trás e para os lados, tendo certeza de que não tem ninguém no local.

Quando volto meu olhar para o loiro entusiasmado ele já está subindo as escadas com uma lata de spray na mão.

- Você não vem? - Ele fala de um jeito tão alegre que não sinto a mínima vontade de desaponta-lo.

Pego uma das latas e subo pelo outro lado da escada, de frente para Luke.

Luke sorri com o corpo inteiro, então fala:

- Me sinto um delinquente.

Paro de repente, tomado pela insegurança. Ele contiua a pinchar uma parte do teto da Intríseca e vendo-o feliz por vandalizar o lugar, crio coragem para ser um delinquente também.

Sabe quando você começa a observar alguém bem de perto? Bem, eu estou com o rosto bem próximo do de Luke, mas nós não estamos nos olhando. Quer dizer, ele não está me olhando.

Eu o vejo, mas não estou o vendo como sempre o vejo, eu estou vendo outro alguém, como um alguém que faz meu estômago revirar. É difícil de explicar porque eu também preciso que alguém me explique essa sensação, talvez seja só fome ou dor de barriga. Não sei.

Eu apenas sei que agora eu não queria estar morto.

IMAGINARY [muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora