12 de Janeiro de 20119:13 AM
Eu acredito na mais nova teoria criada por mim mesmo em que assim que nascemos choramos por nos vermos nesse imenso palco de loucos.
Apoio os braços no balcão da recepção e espero Srta. Clark virar-se para mim. No momento em que isso acontece, ela se espanta de um jeito animado.
- Michael? Veio fazer uma visita? - Pergunta.
- Não, eu quero voltar para cá.
Quando, na época do Natal fui internado e diagnosticado com esquizofrenia em uma clínica, posso dizer que foram os cinco dias mais longos da minha existência... Começando pelo fato de não ver Luke.
Srta. Clark parece em dúvida no que fazer, então falo:
- Minha esquizofrenia está atacando cada vez mais e a voz de Luke contorna a minha mente de um jeito incontrolável.
- Você sabe que terei que ligar para seus pais, não sabe? - Balanço a cabeça afirmando. - Tudo bem, então vamos ao procedimento.
Eu sei que não tenho esquizofrenia, eu sei que Luke é real e eu também sei que o tempo que já passei na clínica foram dificilmente duros, mas, por algum motivo enquanto estive aqui Luke não estava comigo. Talvez ele estivesse vagando por ai, em algum lugar, sendo livre. Sem esse laço que sente a necessidade em nos prender.
Sigo a Srta. Clark até meu quarto, ele não é ruim. É simples, limpíssimo, com uma cama, um armário, uma mesinha, duas cadeiras e uma poltrona.
Sentei na ponta da cama e a Srta. Clark ao meu lado, ela pediu para que eu estendesse a mão enquanto com a sua segurava uma tesourinha de unha.
- Não, por favor... Minhas unhas demoram muito para crescer, da outra vez tive que esperar um tempão pra conseguir tocar violão tão bem quanto eu toco.
- Você sabe que aqui as pessoas costumam se machucar com o mínimo.
- Mas eu não vou...
- Michael!
Acabo por ceder e estendo minhas lindas mãos para ela.
17:08 PM
Passei o resto do dia fazendo vários nadas.
Ao mesmo tempo em que o enfermeiro que fica no corredor anuncia o jantar, ele também anuncia para mim a visita esperada dos meus pais.
Com a porta já aberta, eles adentram no quarto expandindo todo o ar de preocupação.
- Você teve uma crise? Por que não me contou? Estava com medo ou... Michael! Nós amamos você, mas deveria ter nos contado qualquer coisa antes de tomar alguma decisão.
Enquanto minha mãe fala, fala e fala e meu pai concorda, concorda e concorda em silêncio... Eu estou com a cabeça nas nuvens me perguntando se Calum e Ashton estariam sabendo que voltei para clínica. Se estariam preocupados comigo ou se estariam pensando: "Que amigo maluco nós encontramos em". Entretanto nenhum desses pensamentos consegue superar o que mais ronda em minha mente a cada segunda da minha vida, a cada respiração ecoada por mim:
LUKE.
Onde Luke está? O que Luke está fazendo? Será que ele ta pensando em mim agora? Será que o que ele falou sobre ser apaixonado por mim realmente é verdade? Será que eu vou suportar ficar longe dele?
No meio dessa onda de perguntas, minha mãe me tira do transe:
- Em Michael? Você não vai dar nenhuma explicação?
- Desculpa, sei que deveria ter avisado, mas eu não consigo tirar Luke da minha cabeça e isso estava me deixando atordoado. Como vocês estavam trabalhando, no lugar de ir para escola, vim direto para cá.
- Você não consegue tirar Luke da sua cabeça de um jeito esquizofrênico... Ou porque, sabe... Meio que, de um jeito, apaixo...
- Querido! Pelo amor de Deus não fale besteira. - Minha mãe corta meu pai. - Venha aqui Michael, venha dar um abraço em seus pais.
Meus pais sabem que o que sinto por Luke não é apenas algo "esquizofrênico", sendo que eles se forçam a não acreditar, evitando a situação de que o seu filho talvez seja gay e ainda mais com um genro que nunca poderá ser visto por eles.
Meus pais passam mais alguns minutos conversando comigo e se lamentando em silêncio por terem um filho problemático. Depois me ajudam a arrumar o armário com as roupas que trouxeram, conversam mais um pouco, choram, me abraçam e vão embora.
A medida que ando pelos corredores até o refeitório, minha barriga parece formar um dragão em seu interior.
O bom de ter me atrasado para o refeitório foi que a maioria das pessoas já comeram e já se foram, a não ser por um garoto que está sentado em uma mesa no centro do refeitório, observando o seu prato.
Faço o meu prato de pedreiro e vou até a mesa em que ele permanece.
- Posso sentar aqui?
- Pode.
Ele aparenta ter minha idade e ser um tanto depressivo.
- Por que você não ta comendo? - Pergunto.
- Tenho transtorno alimentar.
Agora me sinto bastante mal por sentar na mesma mesa que um anoréxico com um prato do tamanho da estátua da liberdade.
- Ah, deve ser legal ter controle da comida, quer dizer... Eu não consigo ficar sem comer nem por dois segundos! - Falo, me arrependendo logo em seguida. Eu sou péssimo para reagir nessas situações.
- É... - Ele sorri. - Deu para perceber.
- Qual seu nome? - Pergunto.
- Andrei.
- O meu é Michael. - Falo. - Você ta aqui só pelo transtorno alimentar, Andrei?
Não acho que perguntar o porquê de uma pessoa estar no hospício seja certo, mas para minha defesa quando eu estou comendo fico abundantemente ansioso e passo a ser um ser humano muito inconveniente.
- Não, eu também sou suicida. - Ele diz.
- Ah, entendo.
- Você também é um?
- Na verdade não, mas eu acho que pelo menos uma vez na vida todos tem vontade de se matar, mas nem todos tem coragem o suficiente para tentar.
- O suicídio não é querer morrer, é querer desaparecer. A obsessão pelo suicídio é de quem não pode viver, nem morrer, e a atenção nunca se afasta dessas duas impossibilidades. - Ele diz com seus olhos azuis brilhando e seu cabelo preto recém-molhado colando na testa.
- Eu não iria querer me matar antes de me tornar um músico famoso, isso me prende. Deve ter algo que lhe prenda também.
-Sempre tem. - Ele responde. - E é no que precisamos nos segurar.
Depois de passar bons 20 minutos batendo uns papos depressivos com Andrei, volto para meu quarto.
Assim que entro, ouço um barulho, e é então que eu vejo, ao lado da minha cama, ele.
- O que você ta fazendo aqui?
- Eu disse que para onde você for, eu também vou.

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IMAGINARY [muke]
Fanfiction"Luke é o melhor amigo que alguém poderia ter, mas por algum motivo ele é invisível para todas as outras almas infelizes que convivem comigo" © 2015, aboutmuke