Capítulo 4

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O som inesperado de uma pancada faz com que acorde sobressaltada, e ao abrir os olhos percebo que estou deitada num quarto de hotel que não é o meu.

— A dor acabou por passar?

De início pergunto-me quem este estranho seja, mas as memórias da noite anterior não tardam em regressar.

— Desmaiei?

— Creio que sim.

Estou na cama, deitada e ainda com a mesma roupa de ontem, enquanto ele olha fixamente para mim sentado na poltrona do quarto.

Já não tem o casaco preto nem os óculos, e entretanto abriu os dois primeiros botões da camisa branca. Tem um ar cansado, como se não tivesse dormido.

De acordo com a luz da janela, deve ser de madrugada, e isso significa que falhei o plano.

A minha justificação para a SIAT será a de que não me foi corretamente informado quem seria o meu alvo, pois eu não teria forma de adivinhar a quem aquele nome pertenceria numa multidão de homens de negócios com aspeto de serem todos empresários.

Não sei o que acontecerá depois disto, já que nunca assisti a nenhuma ocasião em que os meus pais falhassem o que lhes foi pedido. Posso vir a ser repreendida, castigada, ou até expulsa. Contudo, jamais poderia adivinhar que todo o meu plano seria interrompido por uma inesperada enxaqueca.

— Para quem trabalha?

O quê? Do que fala? faço-me de desentendida.

— Sim, para quem trabalha? — volta a perguntar, desta vez quando um ar menos paciente, enquanto esfrega os olhos com a mão.

Lanço-lhe um olhar de desprezo, e ele aponta para a minha perna.

— A arma... senti-a quando a peguei ao colo. Para quem trabalha?

— É para autodefesa! — exclamo de forma a parecer ofendida.

Os meus olhos ardem por ter adormecido com a lente, por isso decido ir à casa de banho retirá-la. Trouxe outra lente na mochila para caso fosse necessário, e a esta hora ele dificilmente notará a cor assimétrica dos meus olhos.

— Estou enjoada. Preciso de ir à casa de banho.

— Não! — diz com alguma brutidade e impede-me de avançar. — Por favor, fique onde está.

— Para quê? Para me poder ofender ou insinuar que estou aqui para o matar?

— Não, nada disso. Diga-me: aceitou que lhe colocassem os cubos de gelo?

— Não sei do que fala — respondo já ao levantar-me.

— O barista... Aceitou que ele lhe colocasse os cubos de gelo?

— Não me recordo bem, mas sim, talvez.

— Foi isso que a fez desmaiar — diz-me ao levantar-se também.

— O que está a sugerir?

— Aqueles cubos não eram só feitos de água; foram-lhes adicionadas substâncias que provocam desmaios ou a perda de memória temporária.

— Uma droga de violação?

Demos esse assunto numa das aulas de segurança, porém a única situação que tínhamos sido alertados era para prestarmos atenção aos nossos copos das bebidas em bares, para caso de alguém ter a ideia de lá colocar algum produto químico enquanto estivéssemos distraídos. Todavia, nunca nos falaram de cubos de gelo ou algo parecido.

Implacável: A Assassina InocenteOnde histórias criam vida. Descubra agora