Capítulo 33 - Epílogo

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Oito meses mais tarde, o tão aguardado dia chegou. Já no verão, Pietro e Natália haviam enviado cartas a todos os convidados informando-os da morada da herdade que pertencera aos avós dela e da igreja, numa vila próxima, onde se iriam casar. Agora, a casa pertencia ao primo Enzo, diminutivo de Lorenzo, que por acaso também era o nome do melhor amigo de Pietro que salvara a vida de Natália alguns meses antes.

O vestido de noiva havia sido escolhido pela sogra de Natália, uma senhora influente no mundo da moda, e era longo, muito branco e em seda. Apesar de simples, continha em si uma enorme graça e beleza. Natália amara-o assim que o vira, e após o experimentar não se interessou por mais nenhum. Já o véu com bordados em renda, fora oferecido pela avó materna de Pietro, que o usou no seu próprio casamento, cinquenta anos antes.

Toda a família foi convidada para a celebração, que começava na igreja. Já Sabrina, antigo amor de Pietro, fora visitada pelo jovem casal e informada da data do casamento. Mesmo não podendo comparecer, pois estava a aguardar julgamento, e apesar de tudo o que tinha acontecido entre eles, Sabrina desejou-lhes a maior sorte do mundo. Embora as circunstâncias, até esta concordava que Pietro e Natália haviam sido feitos um para o outro.

Com um calor tipicamente espanhol, a noiva corria para abraçar Maria, a cunhada, duas horas antes de se deslocarem à igreja. Enquanto as duas estavam sozinhas a preparar-se no quarto de Natália na herdade, Maria pegou o véu e disse as tão aguardadas palavras:

— Isto é renda ou rendha, Rendhal? — De seguida, ambas caíram na gargalhada.

Entretanto chegou Nini, nome carinhoso pelo qual Natália tratava a mãe de Pietro, e Enzo, o novo dono da herdade, que vivia nesta com a irmã e os pais, que eram, respetivamente, prima e tios de Natália.

Pietro pagara por todos os tratamentos a Enzo, que no dia da destruição da SIAT sofrera vários tiros nas pernas. Graças à força de vontade e à fisioterapia, este já andava normalmente, apesar de ainda ter algumas dores. Além disso, ficara com quatro cicatrizes, junto a uma de quando Natália fora obrigada a disparar contra ele. Contudo, Enzo orgulhava-se das suas marcas. Dizia que eram a prova que ele sobrevivera a tudo o que havia passado. E, por isso, não devia escondê-las.

Enquanto Maria tratava de passar o rímel e um batom leve em Natália, a irmã de Enzo, Luana, que nascera também em Moçambique pouco tempo depois de Natália, apareceu para abraçar a prima que não via há um ano. 

Mais tarde e antes de se deslocarem à igreja, Enzo e Luana ofereceram-lhe como prenda de casamento um desenho emoldurado a lápis dos avós. Por não existirem muitas fotos, Enzo esforçou-se para que ele próprio desenhasse a imagem deles de acordo com a sua memória. Este talento nato para recordar faces havia sido muitas vezes antes utilizado nas missões da Sociedade, mas agora Enzo havia descoberto um uso honesto para a sua habilidade.

Luana era parecida com Natália, principalmente na idade, por ambas estarem perto dos vinte anos, mas também na cor de cabelo. A única diferença eram os olhos, já que os de Luana eram esverdeados como os do irmão.

Já na igreja, Natália foi recebida pelos tios e os pais, que a aguardavam cá fora enquanto os restantes convidados continuavam dentro do edifício. Pietro já havia chegado e esperava por ela lá dentro, contudo Natália não se apressou a contar ao pai, à mãe e aos pais de Enzo e de Luana tudo o que acontecera desde a última vez que os vira. Quanto aos pais, apesar das cartas, não se aborreceram ao assistir pessoalmente a todos os testemunhos de Natália. Ao ouvi-la, encheram-se de orgulho. O mesmo não achou Maria, que estava a morrer de vontade de ver a reação do irmão quando Natália entrasse na igreja.

Juan e Alexandra Rendhal, pais de Natália, entraram de seguida no edifício, sendo seguidos pelos tios, pela Luana e pela Maria.  Ao contrário do normal, Natália não entraria com o pai, mas sim o primo Enzo. Esta foi a forma que ela encontrou de lhe agradecer por tudo o que fez para a ajudar.

Suspirou várias vezes e entrou por fim. Assim que o fez, benzeu-se em frente ao altar e tentou esquecer-se que todos os olhares estavam postos nela. Fez isto pois já era batizada, algo que agradou a todos, incluindo o irmão, que se havia convertido ao Islamismo.

Após um par de passos na longa passadeira vermelha, viu Pietro ao fundo, e conteve as lágrimas que teimavam em querer escapar. Viu todos os tios e primos de Pietro, que a olhavam com uma enorme atenção enquanto tentavam tirar fotografias.

Natália era uma noiva belíssima. O seu cabelo escuro e olhos bicolores tornavam-na única. E, apesar de estar ligeiramente mais pesada devido à recente gravidez, apresentava uma figura esbelta e singular.

Pietro encontrava-se num misto de felicidade e pânico. Não queria errar nenhuma das frases ensaiadas para a cerimónia em frente a todas aquelas pessoas conhecidas, e só conseguia pensar no quanto havia tido sorte; Natália era, realmente, única. E ele dava-se pelo homem mais sortudo do mundo só por ter a oportunidade de a amar.

Já perto do altar, Natália viu o irmão e a cunhada, Fatimah, que estava grávida de Danilo. Esta união era a maior surpresa da família, pois Alexandre decidira esconder o relacionamento durante muito tempo, já que este era proibido por ambas as partes. E, quando deixara de o ser, Alexandre precisou de poucos meses para conseguir contar a todos os familiares, uma vez que prometera a Fatimah fazê-lo antes do filho nascer.

Junto ao irmão mais velho, os pais sorriam de orgulho ao ver a sua pequena casar. No colo da mãe de Natália, a filha dos noivos olhava atentamente para Alexandre, confusa pelo silêncio que atravessava toda a igreja.

Natália caminhou por vários metros a olhar para a filha, enquanto Pietro fazia o mesmo. De seguida, os olhares dos noivos cruzaram-se e não se largaram mais até que Pietro avançou e beijou a mão de Natália, recebendo de seguida a aprovação de todos os convidados, que bateram palmas por vários minutos.

Nesse momento, a filha bebé de ambos reconheceu a mãe e olhou atentamente para ela, curiosa pelo vestido que esta trazia. Em relação à curiosidade, saía a Natália e à tia Maria. Em termos de aparência, ao Pietro, pois os seus olhos também eram escuros e de uma só cor.

Sentados nas cadeiras de noivos e antes da cerimónia começar, Natália olhou uma última vez para a filha. O seu nome era dedicado a duas pessoas que Natália tinha muito que agradecer; Enzo, o primo que a apoiara, e Lorenzo, o amigo de Pietro que lhe salvara a vida.

A mais nova herdeira de ambas as famílias chamava-se Lorenza Alexandra Santoro Rendhal.



Implacável: A Assassina InocenteOnde histórias criam vida. Descubra agora