Capítulo 23

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Por volta da sete da tarde, acordo com o som do Pietro a levantar-se.

— É hora de ir jantar, principessa.

— Vai passear — murmuro, ainda deitada e de olhos fechados. — Princesas não são treinadas para matar.

— Bem, que ótimo humor.

Sou incapaz de continuar a fazer cara séria e desmancho-me num sorriso. De seguida ele vem até mim e dá-me um beijo rápido, abraçando-me depois.

— O herdeiro de uma das maiores fortunas de Itália e a herdeira da sociedade de assassinos mais poderosa do mundo — sussurra ao meu ouvido e sorri. — Que combinação perfeita.

— Que combinação perigosa — murmuro ao levantar-me e espreguiço-me.

Ele agarra-me pela cintura e beija-me o pescoço por trás antes de sairmos.

Em frente ao hotel há uma praia maravilhosa de areia branca, e mesmo estando cheia de turistas decidimos passar por lá.

— E se algum fotógrafo nos apanhar? — pergunto-lhe ao tirar os chinelos antes de ir para a areia.

— Vai ser rápido. Para além disso é difícil saberem que aqui estou, principalmente depois de ter estado em Madrid tão recentemente.

Ele segura-me pela cintura, e caminhamos em paralelo ao mar. Apesar das horas, a água continua quente, límpida e sem ondas. A combinação perfeita para um mergulho. Mergulho esse que só não dou por não ter trazido nenhuma roupa de praia.

— Já te disse que adoro esse vestido em ti? — pergunta-me na brincadeira.

— Claro, três vezes, para ser precisa. E com esta quatro.

Ele tenta manter-se sério e responde de seguida:

— Mas ficarias melhor sem ele.

Viro a cabeça para o Pietro lentamente, enquanto mantenho um olhar forçadamente sério, até que caio na gargalhada e digo:

— Muito subtil! 

Ele sorri e aperta mais a minha cintura, puxando-me para ele e dando-me um beijo rápido na testa.

Quando regressamos ao restaurante do hotel fazemos o nosso pedido, uma pizza napolitana para os dois e vinho para beber

Enquanto o empregado atende os nossos pedidos, fixa-se nos meus olhos e comenta num inglês quase perfeito:

— Que cor maravilhosa.

— Oh, obrigada — murmuro, surpreendida por aquele elogio inesperado, e sinto as bochechas a aquecer. — Não estou habituada a ouvir isso.

Quando ele sai com o pedido, o Pietro vira-se para mim e diz com um sorriso tolo:

— Assassinos não coram.

— Mas dão estaladas — retribuo. — Por isso não te queiras meter comigo.

Ele ri-se e, passado alguns minutos, começa a olhar para mim fixamente.

— O que se passa? — pergunta-me ao ver que não estou com uma expressão normal.

— Questiono-me onde estará o meu irmão neste momento.

— Natália, ele está em segurança. De certo que não foi o primeiro trabalho dele.

— Pois não, mas mesmo assim...

Quando o jantar chega, começo a combinar com o Pietro como iremos realizar o nosso ataque à Sociedade. Antes de mais, começaremos por recrutar mais pessoas para a nossa causa, como seguranças privados ou assassinos com o mesmo objetivo que nós. Depois, compraremos o armamento e passaremos à estratégia. E, por fim, levaremos a nossa missão avante.

— Não o devíamos matar — digo, referindo-me ao atual presidente da SIAT. — Mortes só irão causar mais conflito, e é justamente isso que pretendemos evitar.

— Então, o que sugeres?

— Destruir a Sede. Destruir os escritórios e todas as armas que lá estejam, assim como computadores e pastas de ficheiros. Isso irá criar um caos de tal ordem que a Sociedade jamais será capaz de se reerguer — respondo, pensativa. — É simples.

— Simples, isso é. Agora fácil já não digo que seja.

Apesar de tudo, ele tem razão. Não há nada neste plano que seja fácil, nem mesmo para um Santoro e uma Rendhal.

Durante o resto do jantar, ele fala-me sobre a irmã e o casamento de aparências que os pais mantém. Conta-me também a pressão que sofreu desde tenra idade para se tornar um empresário, para além da coragem que teve para dizer não ao pai e seguir enfermagem.

De seguida, conto-lhe sobre a minha família e o quanto a Sociedade condicionou a nossa infância. E depois, do quanto custou abandonar os meus amigos para ir estudar em França.

Ele responde-me que, enquanto Santoro, sempre teve as amizades controladas pelos pais, que não o deixaram estudar em escolas públicas, para além da pressão da mãe para que continuasse com a Sabrina.

— Mas, se assim é, porque nunca disseste à tua mãe que não querias forçar o casamento? — pergunto enquanto esperamos pelas sobremesas.

— Eu tentei dizer-lhe, no entanto o desejo por riqueza falou mais alto. — Ele para uns momentos para pensar, e então continua: — As fortunas das nossas famílias combinadas tornariam-nos o casal mais poderoso de Itália.

— E a Sabrina queria o casamento?

— Sim, e ainda quer.

— Por que não lhe dizes a tua verdadeira opinião?

— É... é tão difícil. É como destruir-lhe todos os sonhos de termos uma família.

— Pietro, custará muito mais se continuares a atrasar.

— Pois... — Ele olha para a janela por uns momentos, pensativo. — Eu sei.

Por fim, brindamos ao sucesso da nossa missão e damos um beijo quente e longo, que me faz desejar por mais.

Por ser verão, ainda está de dia, por isso vamos até à piscina, que é no último andar e tem vista para a praia, e deitamos-nos em duas espreguiçadeiras virados para o mar e ficamos à espera do pôr-do-sol.

Quando o sol começa a baixar-se, dando origem a um céu coberto de tons alaranjados e vermelhos, ele pega na minha mão e aperta-a.

Sorrio e viro-me para ele para lhe dizer algo, porém algo na camisa branca dele prende-me a atenção. É um botão metálico que me lembro de ter visto antes. Talvez por ser um...

— Um gadget? — murmuro ao levantar-me rapidamente. — Pietro, onde arranjaste isso? — Tento sussurrar, por saber que alguém está a ouvir a nossa conversa através daquele aparelho, mas sou incapaz.

— Han? Do que é que estás a falar? — pergunta, muito confuso, ao olhar várias vezes para a camisa.

— Pietro, onde arranjaste isso? — Repito, já a gritar.

Ele é um assassino? Alguém o enviou? Tudo isto foi uma missão?

— Não, não pode ser — digo enquanto me afasto lentamente dele.

— Natália, diz-me o que se está a passar. — Ele continua baralhado e perplexo.

Por estarmos perto da hora de jantar, a maioria das pessoas saiu da piscina há alguns minutos, e as únicas pessoas que olham para nós são um casal de idosos que nem percebe a nossa língua.

Sem pensar duas vezes, atiro-o para a piscina e desato a correr em direção à saída de emergência.

Antes de sair pelas escadas, viro-me novamente para o Pietro, que se esforça para sair da água, porém os nossos olhares não se cruzam antes de três homens altos, largos e armados entrarem na zona da piscina e dirigirem-se ao Pietro enquanto olham para todos os lados à minha procura.

Respiro fundo, salto para o andar de baixo e desejo que ele fique a salvo.

Entretanto, o sol cai e dá lugar à noite, assim como as minhas esperanças dão lugar ao medo. Medo pelo Pietro, medo por mim, medo por nós.



Implacável: A Assassina InocenteOnde histórias criam vida. Descubra agora