Natália POV
Sozinha no quarto e sem conseguir dormir, espero pela chegada do Pietro e repasso mais uma vez na minha cabeça todas as memórias do meu pai, principalmente as aulas de defesa pessoal que ele me dava, já que estes últimos dias em casa dos Santoro têm feito as saudades dos meus pais aumentarem de uma forma que nem sabia ser possível.
Saio até ao jardim, ainda com um pijama de cetim azul marinho que uma das empregadas domésticas me deixou no armário, provavelmente a pedido do Pietro, e noto que já escureceu e que a maioria das luzes da mansão principal estão apagadas.
Levei os últimos dias a estudar a mansão enquanto tratava da relva, o que me fez concluir várias coisas. Uma delas, é a existência de uma conduta de ventilação que liga dois pontos opostos da casa e que passa pelos andares inferiores; e a segunda é que a entrada dessa conduta, que fica mesmo ao lado da garagem, é larga o suficiente para eu lá poder entrar.
Ao pensar nisso, relembro-me das aulas de espionagem que tivemos, onde nos ensinaram antigas técnicas japonesas que envolviam trepar edifícios com a ajuda de um cabo de escalada, ou ainda a como abrir fechaduras com um arame, e que foram as aulas mais divertidas e onde todos os alunos se mostraram interessados.
Numa delas, tivemos que entrar dentro das condutas de ventilação de um armazém e encontrar a saída do lado oposto. Claro que alguns se perderam, ou ainda outros que chegaram rápido demais ao final. Porém, ao contrário da maioria, demorei mais a chegar porque preferi estudar todos os escritórios do armazém por mera curiosidade. Por ter feito isso, o professor deu-me a nota máxima, pois um assassino deve cumprir o seu objetivo principal sem nunca se descuidar de primeiro estudar o local em que se encontra e analisar todas as variáveis, pois podia ter estado alguém à nossa espera do lado de fora da conduta para nos abater.
Depois de vestir, mesmo às escuras, a primeira roupa de dia que pego no armário, vou pelas traseiras do terreno até à garagem, em busca dessa entrada.
Se esse teste me fez aprender algo, foi o de que devo estudar a minha situação. E a melhor forma de analisar o meu caso é certificando-me de que mais ninguém sabe que estou presente.
A grade de ferro está mesmo por cima de um armário com vários instrumentos de jardinagem e com alguns socos e puxões finalmente cede, o que me permite retirá-la.
Olho algumas vezes à minha volta antes de trepar a estante, enfiar-me dentro do túnel e deixar a chapa de metal na entrada para que possa colocá-la novamente quando voltar.
Um vento fresco bate-me na cara e tremo um pouco com a baixa temperatura daquele local apertado.
As minhas mãos batem na parede em frente, o que me indica uma curva à esquerda, por isso viro-me para lá e rastejo o mais devagar possível para que ninguém me oiça por baixo de mim, e entro de seguida num novo corredor.
Vejo uma luz forte a vir de uma pequena entrada coberta por grades horizontais e espreito com alguma dificuldade lá para baixo.
Confirmo pelo cheiro que é a cozinha e apenas consigo perceber que está uma bancada por baixo de mim, até que oiço algumas vozes femininas:
— E ele já terá chegado?
— Sim, está na entrada com a menina Maria.
— Não deve estar muito satisfeito por ter deixado a queridinha da noiva para trás.
— Já é oficial?
— Li uma revista que dizia que sim. Mas você sabe como os jornalistas são.
Só podem estar a falar do Pietro, por isso continuo a rastejar pelo túnel até que chego a um corredor, este vazio e com as luzes desligadas, e ainda mais à esquerda encontro a sala das visitas.
— Estás doido?
— Nem tens a certeza do que falas. — É a voz dele.
— Deixa de ser estúpido! Já te disse que ouvi uma conversa da mãe com ela!
— A mãe também me perguntou se já a tinha pedido em casamento.
Não consigo ver as caras, mas pela voz reconheço o Pietro, e com ele está provavelmente a irmã.
— Vês?! É o que te digo!
— Mas o que é que isso prova?
— Não é óbvio? A mãe quer que cases com ela para poderem dividir as heranças e tornar-se o casal mais poderoso de Itália. E claro, ela será a mãe do homem mais poderoso do país.
— Maria, estás a alucinar.
— Só tu é que não vês! Ela já nem quer saber do teu pai!
— Por favor, não fales assim dele porque também é teu pai. E faz também o favor de falar mais baixo; ainda nos podem ouvir.
— Ai, Dio mio, o que é que aquela rapariga que fez à cabeça?
— Deixa a Sabrina em paz.
— Olha à tua volta, Pietro! Olha e vê! Quem achas que fez isto ao pai?! Foi ela! — Oiço soluços de choro. — Foi a mãe!
— Não pode ter sido a mãe. — O Pietro continua com um tom forte e autoritário.
— Então, quem foi? Quem foi, Pietro?! — Ela grita, sem fôlego. — Diz-me!
— Não sei, mas vou descobrir. — Dá para perceber a determinação pela forma de falar.
— Quando descobrires já será tarde demais — diz Maria, com algum desprezo.
— Tenho alguém que me pode ajudar.
— Aquela sonsinha? Duvido muito que vá confiar em ti.
— De quem estás a falar?
— Achas que também não sei da Sociedade?! — A Maria diz ainda mais alto.
Abro a boca de espanto e, mesmo sem os estar a ver, consigo imaginar as reações.
— Co-como?
— O pai contou-me! Antes de desaparecer ele disse-me o mesmo que a ti; que um grupo secreto de assassinos tinha descoberto a nossa mansão e que estávamos em perigo.
— Mas-mas... por quê?
— Porque ele também sabia que a resposta a este problema estava na tua amiguinha. E queria a minha ajuda para a convencer a falar.
— Quem? — Pietro diz quase que imediatamente.
— A mais nova dos Rendhal.
A minha garganta fica seca, e um arrepio percorre-me a coluna.
— O que é que ela sabe que nós não saibamos?
— Ora, não é óbvio?
— Não, não é, Maria!
— Ela sabe a morada dos fundadores — diz lentamente num tom de suspense.
— Como é que o pai sabe disso?
Tento sair dali o mais rápido possível para voltar ao meu quarto e fingir que nunca ouvi esta conversa, talvez numa tentativa de me obrigar a acreditar que isto não aconteceu. Porém, oiço aquilo que sempre suspeitei:
— A Natália Rendhal é a herdeira da Sociedade.
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Implacável: A Assassina Inocente
AksiNatália Rendhal é uma jovem adulta treinada desde criança para ser uma assassina capaz de evitar qualquer emoção que prejudique o seu trabalho. No entanto, uma recente encomenda porá à prova tudo o que deveria ter aprendido a controlar. Pietro Santo...