Arrependimento. Talvez a terceira emoção mais poderosa de todas, logo a seguir à esperança e ao ódio. Se é isso que sinto neste momento, então não posso ser chamada de assassina, pois durante muitos anos me ensinaram a não sentir nada. Contudo, verdade é que neste momento estou a fazer o total oposto das minhas obrigações: tenho raiva da Sociedade por não ter zelado pela minha segurança e ter-me dado informações incorretas, tenho medo do que me vai acontecer e estou arrependida por não ter sido capaz de escapar a tempo. Só não sinto esperança, pois, quando o filho do empresário Santoro me identificou, compreendi que tudo na minha vida iria piorar a partir daí e que não há nada que eu possa fazer para alterar isso.
Mas, afinal, como vim parar a esta situação? Como é que num dia estava tão confiante em relação à minha primeira missão e passado umas horas já me estava a questionar se alguma vez voltaria a ver a minha família?
Quando era mais nova, talvez com doze ou onze anos, encontrei os meus pais a chorarem. Algo tinha corrido mal, mas nunca vim a saber o que fora. Eles viram-me mas não pararam, e eu limitei-me apenas a afastar-me e a nunca lhes perguntar o que aconteceu, por saber que é proibido. Naquele momento, eles foram humanos, tal como estou a ser agora. Naqueles curtos minutos, eles cederam, tal como estou a ceder. Porém, a diferença é que eles seguiram e frente e nunca ninguém veio a saber para além de mim. Já no meu caso, deixei transparecer todo o meu medo naquela cena do hotel.
A Sociedade não é Deus para poder decidir por nós o nosso futuro. Para além disso, comete erros, tal como aconteceu comigo. Tratam-nos de forma injusta e nunca nos informam de toda a verdade.
A própria história da SIAT é muito provavelmente uma farsa. Na altura acreditei, porém passado uns tempos voltei a pensar e mudei de opinião.
Ensinaram-nos que a primeira Sociedade foi criada dentro de uma ceita no antigo Egipto e que era totalmente independente dos faraós e da família real. Disseram-nos ainda que os trabalhos eram feitos para quem os contratava e apenas aceites após uma rigorosa análise, tal como agora. Mesmo assim, não têm nenhumas provas documentais disso, o que lhe retira toda a veracidade.
Passaram-se algumas horas desde que aqueles seguranças me deixaram num quarto trancada. Para além disso, durante toda a viagem vim tapada, o que me impediu de perceber onde fica este lugar. A única coisa que tenho a certeza é de que fica muito longe de Roma, pois o tempo que levámos no carro pareceu-me uma eternidade.
O sítio onde estou só tem uma cama simples, um armário, duas mesas de cabeceira e uma janela com vista para um longo terreno repleto de árvores de fruto. Parece-me um quarto dos empregados ou algo do género, mas não importa. Neste momento, só preciso de fazer uma coisa: escapar.
Também me pediram, antes de trancar a porta, que trocasse o vestido e os sapatos de salto alto pela t-shirt branca e as calças de ganga simples que deixaram em cima da cama, já que seria mais confortável.
Três batidas fortes soam na porta.
Todo o meu corpo estremece, e mantenho-me no maior silêncio possível.
— Signora?
Volto a não responder.
A porta abre-se e sai de lá uma mulher muito mais velha que eu, vestida com um uniforme branco e com uma expressão séria.
— Com licença, pediram-me que a levasse até à sala do lazer.
O italiano dela tem um sotaque particular, que o torna muito carregado. De acordo com a minha experiência, diria que é da Sicília, no sul de Itália.
Levanto-me, ainda sem falar, e sigo-a. Enquanto estive sozinha no quarto tirei a lente de contacto e livrei-me dela, já que os meus olhos estavam a começar a ficar secos, por isso sou obrigada a olhar para baixo e a evitar contacto visual para não perceberem que tenho um olho mais claro que o outro.
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Implacável: A Assassina Inocente
AksiNatália Rendhal é uma jovem adulta treinada desde criança para ser uma assassina capaz de evitar qualquer emoção que prejudique o seu trabalho. No entanto, uma recente encomenda porá à prova tudo o que deveria ter aprendido a controlar. Pietro Santo...