Capítulo 10

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Natália POV

Passaram alguns minutos antes de Piero regressar visivelmente transtornado.

— Está tudo bem? — pergunto por genuína preocupação enquanto se aproxima.

— Sim.

Ele senta-se ao meu lado no sofá e cruza os braços ao mesmo tempo que mantém uma expressão rígida.

— Já nos trouxeram o jantar — digo para quebrar o silêncio e numa esperança de o fazer pensar noutra coisa para além do que o está a deixar assim.

Ele não me responde e mantém o olhar fixo no sol que se põe, dando ao céu uma cor alaranjada.

— A minha mãe costumava dizer-me que cada vez que um artista morre Deus deixa-o pintar o céu — murmuro ao lembrar-me dos meus pais, e os meus lábios começam a tremer à medida que o ritmo da minha respiração aumenta e os meus olhos se enchem de lágrimas.

Ele olha para mim e, talvez por sentir empatia ao compreender a minha situação, abraça-me e encosta-me contra o peito.

— Vai tudo ficar bem.

— Não, não vai — sussurro ao fazer um esforço para parar de soluçar.

— Se depender de mim, a sua família continuará em segurança.

Afasto-me, fixo-me nos olhos dele e digo desesperadamente:

— Falhei uma missão. Se não for castigada, será a minha família.

A minha expressão enche-se de raiva e angústia.

— Vou morrer.

— Não! — Interrompe-me.

— Os meus pais vão morrer.

— Natália, por favor, pare.

— E tudo por uma estúpida missão.

Ao dizer isto viro-me para o sol, que deu lugar a um céu vermelho, tal como a cor do meu sangue derramado no chão quando alguém for enviado para me matar.

— Vamos comer e depois tratamos disso — diz Pietro ao levantar-se.

Sigo-o até à mesa e comemos em silêncio. Por ser tão delicioso, aquele sushi é capaz de me deixar mais calma.

Entretanto o céu escurece, e os candeeiros de rua ligam-se automaticamente.

— Vou destruir essa Sociedade — diz Pietro por fim, interrompendo os meus pensamentos.

— É impossível destruir algo que não existe.

— Para um Santoro nada é impossível, lembra-se?

— E como planeia fazer isso?

— Primeiro, teremos que colocar a sua família em segurança. Só depois poderemos avançar.

— Como, se nem eu mesma sei onde eles estão?

— Como assim, não sabe?

— Não, os assassinos nunca vivem num único sítio. Viajamos conforme as nossas missões e ficamos hospedados nos lugares mais improváveis por tempo indefinido.

— Mesmo assim vamos encontrá-los.

— Espero que sim...

Consigo controlar a minha vontade de desatar a gritar e a pontapear tudo à minha frente. Como é que posso estar nesta situação se tudo o que fiz foi limitar-me a seguir o que me foi pedido?

Implacável: A Assassina InocenteOnde histórias criam vida. Descubra agora