Capítulo 15

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Alexandre Rendhal POV

Tento despedir-me o mais rapidamente possível dos meus pais para evitar que algum deles acabe por se emocionar. Como assassinos treinados, já devíamos saber que qualquer emoção deve ser controlada, porém compreendo que seja difícil para os meus pais terem que permitir aos dois únicos filhos ganharem asas e voarem por si próprios.

A minha irmã partiu à quatro dias, e não temos tido notícias dela. Acabámos por não saber quanto tempo a missão duraria, pois não vinha na primeira carta. Contudo, acho estranho ser a primeira vez dela e mesmo assim lhe terem dado mais que dois dias.

Ao entrar no avião, lembro-me novamente do que acabei de fazer. Menti à minha mãe, ao meu pai e à minha irmã a pedido da Sociedade. Por norma não é comum ser obrigado a ocultar a outros assassinos o nosso trabalho, no entanto este caso é diferente pois é considerada uma missão de alto risco.

Na verdade, o meu objetivo não terá que ser realizado em Pequim, mas sim em Itália, mais especificamente em Roma.

Terei que capturar ainda vivo um dos empresários mais conhecidos do país no prazo de três dias. A missão explicita que não terei que o matar, porém não teria qualquer dificuldade nisso.

A primeira vez que matei um homem foi há seis meses, na minha missão ao Dubai. Foi mais rápido e fácil do que pensei, já que o controlo de emoções nos retira todo o arrependimento e receio que poderiam dificultar o processo.

A minha viagem aos Emirados Árabes Unidos foi como um sonho. Daria tudo para ter outra vez a  possibilidade de dormir em hotéis de luxo e de comer em restaurantes com preços exorbitantes, mas, sobretudo, de poder estar com Fatimah, a minha princesa da família real árabe, mais uma vez e a sós.

Os meus ouvidos estalam à medida que avião levanta voo por me ter esquecido completamente de comprar as pastilhas no aeroporto. Respiro fundo e, quando finalmente estabilizamos, leio a carta da Sociedade uma última vez antes de a destruir.

Caro Alexandre Rendhal,

Ao chegar ao aeroporto terá à sua espera um táxi que o levará a uma pensão, na qual passará os próximos dois dias. Nesse táxi irá encontrar uma mala com uma seringa, um frasco de Clorofórmio e um revólver carregado, que só deverá ser utilizado em último caso.

Às onze e meia da noite do terceiro dia, deverá dirigir-se à morada do anexo, seguir as instruções até à divisão indicada, onde o chefe da família Santoro passa grande parte do dia, e deixá-lo inconsciente.

No anexo também está uma foto do homem em questão e uma lista dos dados pessoais.

Depois disto vá para as traseiras do extenso terreno, deixe o corpo na segunda morada indicada, que fica pouco a sul desse terreno, e regresse ao aeroporto, preferencialmente a pé.

Se cumprir o pedido corretamente, terá à sua espera, ao regressar a casa, um cheque no valor de 50.000 euros.

Confiamos em si para que cumpra este trabalho com a mesma excelência com que cumpriu o anterior.

Atenciosamente,
A Sociedade

Sem o menor controlo de mim mesmo, começo a rir-me no meio do avião ao ponto de deixar a criança ao meu lado a olhar-me cheia de curiosidade.

Casa? A sério que a Sociedade está a usar essa palavra? 

Se bem me lembro, foram eles que nos obrigaram a abandonar a nossa verdadeira casa quando a minha irmã chegara à idade de entrar para a escola de assassinos. Porque sim, nós vivêramos durante alguns anos no mesmo sítio, porém aquela carta mudou tudo. A carta em que nos perguntavam se aceitávamos ou não seguir a mesma carreira dos nossos pais. Como se tudo fosse uma escolha. Como se a nossa resposta negativa não fosse sinónimo de morte.

Mas pronto, é errado pensar isto, pois são eles que nos dão o dinheiro para meter a nossa comida no prato, e a toda a nossa família. E ainda nos dão a possibilidade de conhecer tantos países e pessoas de culturas diferentes. Se os meus avós foram dos primeiros a ressuscitar a Ordem após tantos anos adormecida, o que fazemos não pode ser algo mau.

Ou pode?



Implacável: A Assassina InocenteOnde histórias criam vida. Descubra agora