Uma grande surpresa

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Ande logo relógio, não fique parado!

Estou doida para sair daqui, mas a hora não passa de jeito nenhum. Parece que é sempre assim, quando você quer muito que o tempo voe, ele ri da sua cara e congela! 

Essa é a última aula do dia e o enfadonho professor de história não para de falar com aquele jeito monótono. A cadência da sua voz é perfeita para fazer qualquer um dormir, na verdade os meus colegas de classe que sentam lá no fundo da sala são uns sortudos. Encolhem-se todos na carteira e dão uma cochilada na maior cara de pau. 

Eu não tive essa sorte, sento-me logo na primeira fileira...

O grande motivo dessa minha euforia toda para sair correndo da escola é que acabei de  descobrir que hoje vai ter uma festa na casa do Paulo, o cara mais gato e popular da escola. E eu fui convidada! 

Eu, que sou uma menina super comum, sem popularidade nenhuma, raramente sou convidada para tais eventos. Na ultima vez em que compareci em um eu fui de penetra junto com meus amigos, e por incrível que pareça as pessoas nos olhavam como se fossemos intrusos e não pertencêssemos àquele lugar. Depois disso nunca mais voltei em um com vergonha, porém no íntimo sempre desejei ser convidada e fazer parte de algo.

Por isso mal posso acreditar!

Moro em uma pequena cidade no Condado de Kern, na Califórina, e por aqui não temos muitas opções de entretenimento. Portanto, um dos melhores meios de diversão dos jovens são as ocasionais festas que acontecem nas casas de alguns alunos. Normalmente elas sempre acontecem nos casarões dos alunos mais populares da escola, principalmente naquelas onde têm piscina em época de verão ou nas que exuberem grandes quintais para festas de fogueira no inverno.

Minha melhor amiga Nélia e eu estávamos saindo do ginásio após uma aula de educação física, e quando íamos trocar de roupa no banheiro ouvimos a Sabrina comentar sobre a festa. 

Sabrina é a prima do Paulo, ela é uma das patricinhas da escola, parece uma Barbie ambulante. É evidente que não andamos com esse tipo de gente, não tenho nada contra ela, pois nunca me fez nenhum mal, porém somos de pólos totalmente opostos.

Enquanto ela é a garota popular, líder de torcida e considerada a mais linda da escola, eu sou aquela garota bonitinha, representante da turma de fotografia, ou seja, as pessoas mal me notam.

Portanto não liguei muito para essa notícia, pois nunca sou convidada para esses eventos da classe "A" da escola. Então imagina a minha surpresa quando Sabrina me olha de cima abaixo e sorri.

─ Você que é a Eveline? ─ Me pergunta.

─ Sim, sou eu mesma. ─ Replico atônita.

─ Ótimo! Eu estava querendo falar com você. Paulo me pediu para te convidar para a festa. Pode levar a sua amiga. ─ Sabrina me lança um último sorriso e então joga os cabelos, me ignorando novamente.

Meu Deus! Eu ouvi direito ou estou alucinando?

Olho para a minha melhor amiga e percebo que eu não sou a única de queixo caído. Nélia me puxa pelo braço e me arrasta para fora do banheiro até um canto vazio no corredor.

─ Ai. Meu. Deus. ─ Ela fala dando pulinhos de alegria.

─ Então eu não estou ficando doida, você também ouviu quando a Sabrina disse que Paulo me convidou para festa, certo?

─ Sim! E eu vou com você, é claro! ─ Ela continua em estado de euforia.

─ É obvio que você vai comigo! Se a minha parceira de crime não for eu também não irei!

O pequeno detalhe que pode arruinar meus planos é que a festa acontece essa noite mesmo. Não sei como vou convencer a minha mãe, mas Nélia e eu arrumaremos um jeito de persuadir nossos pais, que aliás são amigos também.

A verdade é que nem estou muito preocupada com isso, o que está dominando os meus pensamentos é o motivo pela qual Paulo resolveu me chamar para ir ao seu evento. Mal nos falamos, a única vez que tivemos algum contato foi na semana passada quando o treinador me pediu para tirar foto do time de Football. Esqueci de mencionar que Paulo é o quarterback, o lançador e capitão do time.

Encaro novamente o relógio e suspiro aliviada, finalmente acabou! Começo a jogar o meu material na mochila e me levanto assim que o sinal toca. 

Nunca gostei tanto desse barulho como agora!

─ Vamos combinar tudo certinho. Você dirá pra sua mãe que é uma festa de comemoração do time e que toda a escola foi convidada. ─ Digo para a Nélia quando a encontro na saída.

─ Sem problemas! Eve, vê se aparece lá em casa pra me ajudar a escolher uma roupa. Você sabe como eu sou indecisa.

─ Claro amiga! Eu me arrumo super rápido e depois te encontro para te ajudar.

Despedimos-nos e me apresso até o meu carro. 

Estou dirigindo um pouco acima da velocidade que estou acostumada, tamanha é a minha expectativa de chegar logo em casa. 

Meu celular toca e eu remexo no assento ao lado onde havia jogado o aparelho. Dou uma conferida na tela para ver quem é, quando volto minha atenção para a pista já é tarde demais... 

Tento frear bruscamente e giro o volante para o lado na tentativa de evitar uma colisão com o automóvel da frente, me embrenhando no acostamento de terra com alguns arbustos baixos da rua National Purple Heart Trail. Sinto o meu carro girar e então parar abruptamente, arremessando o meu corpo para o lado. 

Agradeço mentalmente por eu estar usando o cinto de segurança, porém ainda assim eu choco  a lateral da cabeça contra o vidro da janela.

 Sinto a visão ofuscar e luto contra a escuridão e a inércia que me abate , contudo o torpor toma conta da minha consciência e desmaio.



Era uma vez num sonho (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora