14 - Espelho, espelho meu, quem é mais bela do que eu?

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  Quando chegamos ao Rio Sul não resistimos e fomos direto atrás do crepe de chocolate.

  Nossa, que delícia!

  O crepe estava mais gostoso ainda, porque o cozinheiro caprichou nas castanhas e o chocolate estava derretendo em nossa boca. Depois desse nirvana gastronômico, comprar roupas virou uma tarefa difícil, mas nada que duas meninas freqüentadoras assíduas de todos os shoppings não pudessem fazer.

  Antes de escolher o vestido, paramos na loja de  maquiagem, porque a Jú insistiu em comprar um rímel novo que deixa os cílios em pé, mas ao mesmo tempo é duro que nem pedra. Eu não gosto muito de maquiagem. Acho lindo nas outras meninas, mas em mim fica estranho, pois não sei me pintar direito. Até tinha vontade de aprender, por isso a Júlia me fez ficar duas horas ouvindo a vendedora ensinar garotas a se maquiar, no curso para iniciantes em pinturas faciais da loja.

  - Babi, você vai ficar linda! - disse Jú dando pulinhos de alegria no meio do shopping.

  - Eu não sei fazer isso. Até aprendi alguns truques com a mulher lá, mas mesmo assim... - disse desanimada.

  - Bárbara, você é muito chata! - criticou e fez uma careta para mim.

  - Chata nada, eu gosto de ser natural e ponto final! - disse e retribuiu a careta, só que discretamente.

  - Ah, quer ser natural, é? - ironizou Jú.

  - Quero não, eu já sou toda natureba. Só como pão, macarrão e arroz integral. Fora as folhinhas que como antes do almoço - disse, dando de ombros enquanto olhava as vitrines.

  - Ah, é? Então fala para k Murilo cancelar a pizza que vocês vão comer hoje e use o vestido velho que sua mãe separou Lara doação - alfinetou Jú.

  Ô, menina danada!

  - Tá louca, garota? Quero ir linda para este encontro - disse, olhando para o espelho e constatando que eu não estava no meu melhor dia.

  - Então, para de dizer que é natural, porque você ser vaidosa não é um defeito e sim uma qualidade.

  Lá vem  sermão...

  - Ih, Júlia, não começa com seus papos chatos... - fiz careta de reprovação e de cansada desse assunto.

  - Bárbara, que mal tem em querer ficar bonita? - perguntou, indignada com o meu comentário.

  - Não tem mal nenhum, Júlia. Só deve haver limites. Tem garotas que exageram na maquiagem e nos tratamentos de beleza. Eu fico bonita me vestindo de uma forma mais simples.

  Simples que digo não é desarrumada. É que eu costumo usar roupas confortáveis, mas que sejam bonitas ao mesmo tempo. Por exemplo: uso bastante rasterinhas em vez de saltos gigantescos, abuso das blusas com decotes, mas dispenso uma orelha toda furada com um monte de brinco pendurado.

  - Claro! Acho isso um absurdo! Não concordo com as meninas de 14, 15 anos que colocam silicone no peito, ou fazem lipo. Eu sou contra plásticas para menor de idade.

  O tempo foi passando enquanto andávamos pelos corredores do shopping, e as pessoas estavam reparando na nossa conversa que estava ficando cada vez mais acalorada.

  - Sim. Eu também acho um exagero, mas você já parou  para pensar nas garotas que nasceram com orelha de abano? - parei na frente dela.

  - Sim, e daí?

  - Como e daí, Júlia? Às vezes, a menina é tão zoada na escola que não consegue nem estudar por causa disso - disse, gesticulando e sentindo meu sangue ferver com a falta de sensibilidade da Júlia.

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