CHEGANDO EM NEW PEOPPLE, apenas constatei o que já sabia, que meus pais tinham tudo planejado: um emprego no hospital local para a Bia, uma vaga como advogada para mim, na Fábrica de Papel, em Hamp, e uma casinha, que parecia de boneca, separada por alguns quarteirões de onde nós duas morávamos com eles.
Quanto à casa, posso dizer que gostei muito. Tio Eduardo deixou para nós, no entanto, estava meio abandonada. Como eu trabalhava, e não sou exatamente o tipo de pessoa que sai muito, passei a ajudar com as despesas do apartamento, então, meus pais pegaram o dinheiro que usavam para pagar minha mensalidade na faculdade, e o que gastavam comigo e com a minha irmã no Rio de Janeiro, juntaram com alguma coisa que tinham guardado e reformaram com todo amor e capricho.
Minha mãe adora atividades envolvendo trabalho manual, e ainda está terminando o nosso jardim. Ela já colocou grama, algumas flores - que eu vou morrer sem saber o nome -, fez um caminho de pedras e plantou pequenos arbustos.
Eles montaram a sala em um estilo clássico, sem muitas coisas, apenas o necessário. Acho que meus pais investiram em uma boa decoradora, porque a iluminação é perfeita!
Entrando pela porta principal, em um tom bem escuro e fechado de rosa, após pisar no tapete clichê escrito "Welcome", do lado direito, você logo vê um sofá gostoso, uma mesinha de centro com alguns enfeites, um tapete claro, um aparelho de ar-condicionado, e uma bela televisão com entradas USB e HDMI.
Seguindo, olhando para a esquerda, é a cozinha, "estilo americana", com um tamanho médio, muito prática. Na ausência de divisão entre cozinha e sala, meus pais penduraram quadros com fotos da nossa família. Três me chamaram a atenção: Uma bem grande de nós cinco, tirada no dia das mães do ano passado, quando fomos almoçar depois de comprar a roupa para a formatura da Bianca. Estávamos rindo, e todos estavam genuinamente felizes.
Do lado, uma foto minha e da Bia com o tio Eduardo, quando eu tinha uns dezoito anos, eu acho, também estava muito feliz. A outra era da minha formatura, eu e Bianca abraçadas. Percebi que ela me tocava no braço, e lembro que me sentia orgulhosa de mim mesma, e que podia sentir esse orgulho vindo dos meus pais e do meu tio, que instruíam o fotógrafo. Me perguntei o que a minha irmã via naqueles momentos registrados em nossa parede.
Perto da porta de entrada, eles penduraram dois quadros, com a moldura marrom, onde dentro do primeiro, em dourado estava o símbolo do Direito e do segundo, da mesma forma, o símbolo da Medicina. Acima, uma foto minha da colação de grau, a faixa vermelha na cintura, enquanto segurava o diploma. Tinha um prego do lado, esperando o quadro com a foto da Bianca, já que o álbum de formatura dela ainda não tinha ficado pronto.
Meu quarto que fica no corredor, à esquerda, foi feito em tons quentes, sendo a base branca e detalhes vermelhos e amarelos, com uma boa cama e um belo espaço para organizar minhas centenas de livros e uma gigante bancada para os meus três computadores.
Eu não sou daquele tipo de pessoa super apegada a bens materiais, apenas sou extremamente apegada a CERTOS bens materiais. Por isso, meus livros são organizados metodicamente. Se a Bia pegar um deles, percebo na hora! Não me importo de emprestar, porém tenho pavor de perder qualquer um – o que incomoda bastante, já que parece que sou a cuidadosa mãe de seiscentos e oitenta e sete filhos.
Também, aí está o motivo dos meus três computadores: o que tem dentro deles. O computador antigo foi o que eu usei durante a faculdade, em casa. O novo, meu presente do último natal e o notebook, o que eu levava para as aulas. Então, gosto deles ali. Quando quero determinada coisa, de determinada época, ligo o computador certo.
A porta, atravessando o corredor, bem em frente ao meu quarto, leva ao quarto da Bianca. A decoração é bem "clean", com uns toques de azul claro. Quando você entra, logo vê sua cama e um quadro gigante dela vestida com um jaleco e segurando um estetoscópio. Minha mãe contratou (!) um profissional no dia que as fotos do convite do baile foram tiradas, que fotografou minha irmã, junto com o fotógrafo já contratado pela comissão de formatura, resultando nesse quadro.
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Subterfúgio: não há tempo para pensar
Ciencia FicciónComo seria a sua vida se pudesse sentir os sentimentos de outras pessoas apenas com um olhar? Esse poder, que acompanha Nina desde que nasceu, faz dela vulnerável e privilegiada ao mesmo tempo. A mesma capacidade que a faz criar subterfúgios, recorr...