BIANCA E MIGUEL CONTINUAVAM SENTADOS ONDE OS DEIXEI. Olham para mim e minha irmã, claro, dá um sorriso, piscando um olho só e fazendo sinal de joia por trás do menino. Ela já não sabe que ele lê mentes? Espero que não esteja em atividade nesse momento.
Me aproximo deles e, mostrando o botão, falo:
- É, agora não tem nenhuma dúvida, alguém entrou aqui. Achei isso no chão do banheiro.
- Não pode ser de alguma roupa de vocês? – Miguel pergunta.
- Com certeza não. Bianca detesta essa cor, e eu não usei nenhuma camisa com esse botão essa semana. Além disso, eu aspirei o banheiro antes de sair hoje de manhã. – eu respondo.
- Nossa! Essas pessoas devem ter revirado tudo mesmo, e depois colocado tudo no lugar. E, esqueceram um botão?! Espero que não reparem nisso, ou vão pensar que vocês podem saber que entraram aqui hoje. – Ele fala, me deixando mais apavorada.
Tento abstrair os fatos. Olho para o relógio. Já passa de meia-noite. Olho para os dois e digo:
- Agora eu estou com fome.
- Acho melhor eu dormir no seu quarto hoje. – minha irmã fala ignorando o que eu disse - Seu quarto é maior, então vou colocar meu colchão lá. Pode ser?
Eu balanço a cabeça concordando. Ainda olhando para eles falo:
- Bom, qual dos dois está com fome? Porque, há um minuto atrás eu estava completamente enjoada e agora estou morrendo de fome!
- Passou o efeito do remédio. – Bianca lembra – É o Miguel, até estou com fome, não muito.
Miguel está com vergonha e fala:
- Esqueci o lanche que pedi para viagem no carro. Vou lá pegar!
- Não! – Eu digo saltando na frente dele de forma meio exagerada – O tempo que está lá, nesse calor, no carro abafado... Deixa para lá! Além disso, nem por um decreto eu abro essa porta desnecessariamente! Pode deixar, vou descongelar uma pizza para a gente. Calabresa, gosta?
Ele responde que sim com a cabeça. Dou a volta e transfiro a pizza do congelador para o forno. Os dois seguem para o balcão da cozinha e Bianca começa a falar:
- Então, não está curiosa para saber se conseguimos fazer algum progresso?
- Estou, se não tiver nada embaraçoso e o Miguel não se importar de dividir – falo olhando para ele.
Outra vez, ele não responde com palavras, só concorda. Além da fome, ele está se sentindo intimidado, com vergonha e levemente animado. Me pergunto se ele ativou o negócio de ler mentes. Tenho certeza que sim, porque meu primeiro pensamento depois de lembrar do poder dele foi o fato de eu ter tentado ficar bonita quando saí do banho, e automaticamente me sinto alegre. Além disso, ele claramente está tentando disfarçar um sorriso.
Bianca interrompe, sem perceber, essa nossa "comunicação" e começa a falar:
- Bom, resgatamos vários momentos do Miguel quando era criança. Alguns que ele nem se lembrava, como, por exemplo, quando ele "ativou" esse negócio de ler mentes. Foi antes de ir para a primeira casa. Ele queria saber se tinha mãe, e pensou se a freira poderia saber. Sem querer, ele desejou ler os pensamentos dela e passou a ser uma coisa natural. Só depois que ele fez doze anos é que descobriu que podia meio que desligar.
- É, então a Bia viu meus pensamentos mesmo quando eu nem tinha um ano. Eu já sabia que por algum motivo tinha várias recordações antigas que não são cientificamente normais. – Miguel estava animado.
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Subterfúgio: não há tempo para pensar
Science FictionComo seria a sua vida se pudesse sentir os sentimentos de outras pessoas apenas com um olhar? Esse poder, que acompanha Nina desde que nasceu, faz dela vulnerável e privilegiada ao mesmo tempo. A mesma capacidade que a faz criar subterfúgios, recorr...