Bad Girl

Primeira noite em família.

Era a primeira noite de Mica em nossa casa. Estava tão feliz que nem podia cogitar lembrar das dores que sentia de vez em quando.
Eu acordei de um longo sono, estava muito cansada da cama do hospital, era ótimo sentir o cheirinho da minha casa. Me levantei e fui tomar um banho, fiz um rabo de cavalo no cabelo e pus a minha antiga camisola, era tão bom ver ela cabendo em mim novamente. Sorri, estava com muitas mais curvas agora, Tá legal, estava com algumas estrias e um pouco cheinha, mas estava muito mais feliz. Desci as escadas com um pouco de dificuldade pois tudo em mim doía um pouco, o médico disse que com o tempo os pontos iriam cair sozinho. Fui até a cozinha, fiz uma janta rápida mais estranhei o silêncio, então, cheguei até a sala e olhei de um lado para o outro, ao me deparar com o sofá, vejo os dois homens da minha vida em um sono de paz, silenciosos, como se a vida fosse pura paz e amor.
Cheguei mais perto pra admirar a cena, Mica era idêntico ao pai. Seus olhinhos pequeninos, sua boca macia e seus lábios pequenos com aquele furinho que eu amava, no queixo. Seu cabelo macio e negro, seu nariz arrebitadinho, era a perfeição em pessoa. Agora sempre que eu olhasse pra Mica, seria como ver Pedro, o grande amor da minha vida.
Entre altos e baixos na nossa relação, olha onde estamos agora, pensei.
Pedro acordou e por instinto Mica também, então Pedro se espreguiçou sorrindo para mim e logo Mica abriu o berreiro. Peguei ele no colo.
-Own, o que foi meu amor, papai acordou você foi?- falei com aquela voizinha fina
Pedro riu.
-Que foi?- falei pra Pê.- nunca viu uma mãe falando com seu filho não foi?
-Vê eu já vi- respondeu ainda rindo
-Então por que a risada?- perguntei intrigada
-Só nunca vi você, Atena, falando assim com um bebê.- falou sorrindo carinhoso.
Lhe dei a língua, acho que vi Mica sorrindo, era uma perfeição só.

Eram três horas da manhã e Mica chorou, fui até seu quarto que era ao lado do meu, que também era meu antigo quarto. Peguei seu pequeno corpinho em meus braços e lhe acariciei.
-O que foi meu amor?
Lhe balancei um pouco, passei a mão em seus cabelos macios.
Ele parou de chorar na hora, pousando sua mãozinha gordinha em meu seio. Ele queria mamar.
Lhe dei de mamar e depois sentei na cadeira estofada, aquela mesma que dias atrás estava somente eu e Pê aqui nesse quarto vazio, e uma barriga enorme. Mica em meu colo, os olhinhos fechados a boca mechendo suavemente como se tivesse engolindo leite ainda existente nos cantos da boca.
Lembro me de uma canção que mamãe cantava quando eu era pequena, ainda me lembrava, com minha voz um pouco falhada e cansada, comecei a cantar, fazendo pausas, minha mão deslizava sobre o corpo macio de Mica, apenas alguns dedos acarinhando meu filho, ao final da canção lhe dei um beijo na testa e sua bochecha se mexeu. Pus ele no berço com muito cuidado para não acorda-lo denovo.
-Bela canção.- falou Pedro encostado na porta, só de cueca box e de braços cruzados, um sorriso calmo brotava em seus lábios.
Sorri.
-Minha mãe costumava cantar pra mim quando eu era pequena.-falei cobrindo o corpo de Mica.
Pedro vem até mim e me abraça por trás, seu queixo se apoiou sobre meu ombro. Nós sorriamos felizes, os olhos brilhavam mais do que qualquer estrela, enquanto encaravamos nosso filho.
-Ele é um anjo né?- falei.
-Sim, só faltou as asinhas, aí ficava perfeito.
Ri
-Pensa em ter outro?- perguntei
-Com você? Sempre vou pensar.- soltou, calmo.
-Fico feliz em saber.- sorri
Mais uma vez a minha vida me mostrou que nem tudo é malandragem. Que talvez, o que faltasse em mim, fosse tudo o que eu tinha agora. Porque afinal, o que eu tinha antes? Nada. Mais agora, ao lado desses dois homens maravilhosos, eu tinha tudo. E era maravilhoso poder sentir que a vida estava de bem com você, sentir que a vida esta sorrindo pra você. E era assim que eu me sentia agora, tendo tudo em minhas mãos, a felicidade finalmente chegou pra mim, e agora não iria deixar que ela fosse embora.