Era um péssimo dia, sair de São Paulo pra me mudar pra uma cidade do interior era a pior coisa que já passei. Minha mãe já estava decidida, já que ela era responsável por mim, eu teria que ir.
Quando coloquei minha ultima camisa na mala, Carol me mandou mensagem.Best: Ramón? Tá ai amor?
Me: Oi Cáh, tô arrumando minha mala :(
Best: Nossa :( vou sentir muito sua falta, desculpa não poder ir ver vc nos seus ultimos momentos aqui, preciso estudar.
Me: Eu sei minha ursinha, relaxa, devo voltar em breve.
Minha mãe me gritou, era hora de ir. Olhei a ultima vez pro meu quarto, tinha uma parede vermelha, toda desenhada com letras e notas musicais, as paredes que ficavam do lado da minha cama tinham posters da minha Queen, Ariana.
Uma lagrima caiu do meu rosto, enxuguei e desci com cara de poucos amigos. Minha mãe me olhava com um sorriso afetuoso, a Dona Andreia sabia me conquistar, deu um sorriso falso e coloquei meus fones, talvez me deixassem menos fulo da vida.
A viagem correu bem, eu fiquei olhando a janela todo o tempo imaginando como seria a tal cidade de Guará. Obviamente, passou por minha cabeça vacas, pastos gigantescos e nada de shopping, o que me matava. Aqueles caipiras, com botinas e falando "uai". Me deu arrepios.
- Filho, olha ali - apontou ela pra uma cidade - Chegamos.
Aquilo era completamente diferente do que eu tinha imaginado. Alguns prédios não muito altos, uma bela vista tenho que dizer. As casas eram novas e bem bonitas, no tom de casa de praia. O bairro onde ficamos era calmo, as poucas pessoas na rua pareciam cansadas, talvez por ser 17h de uma sexta feira. Minha casa era amarela, de esquina, parecia ter três andares. Entramos e eu fui explorar a casa. No primeiro andar, havia a sala, grande por sinal, com dois sofas de couro preto, alguns quadros na parede, uma mesa de centro com um vasinho de flor, e a TV.
Do lado, uma copa, parede num tom caramelo e luz branca. A mesa de vidro e fotos num armário pequeno no canto da parede. A cozinha era branca, com o armário preto e branco nas paredes da cozinha, a geladeira deu destaque na minuscula cozinha, sendo um pouco menos chamativa que o fogão.
Não havia quintal nos fundos, só um jardim morto na frente e duas garagens. Subi as escadas e notei que haviam uma mini biblioteca, um cômodo vazio, o quarto da minha mãe e outra sala, toda arrumada pra ser a futura sala de visitas. Quando abri a porta do meu quarto, no ultimo andar, me surpriendi com o teto de vidro, minha cama de casal, alguns "pufs" perto da janela, uma mesa pro computador, uma estante de livros e meu mural de fotos. A sacada tinha uma mesa de ferro e granito e duas cadeiras, além da luminária.(...)
Depois de arrumar tudo no lugar, desci e minha mãe sugeriu que fossemos comer algo fora, eu aceitei. Coloquei minha camisa xadrez vermelha e preta, uma calça jeans preta e um sapato marrom.
Fomos andando, o que me fez torcer o nariz. Ela ia indicando locais, como Mercearia, Farmácia e alguns locais que ela passava a infância. Quando chegamos perto da lanchonete, notei um grupo de jovens conversando. Passei sem olhar, não queria fazer amigos, não hoje. Me sentei com minha mãe e ela ficou me encarando, enquanto eu fuçava meu celular.
- Você deveria fazer amigos Ramón, aqueles ali parecem legais - disse ela juntando as mãos.
- Hoje não Mãe - respondi. Dei uma olhada nela e notei a cara de reprovação dela, até ver que ela olhou por cima da minha cabeça e acompanhou alguém que estava vindo.
Droga!!!
Uma menina, de cabelos escuros enrolados nas pontas, usava uma blusinha de alça fina preta e um short jeans curto. Chegou do meu lado com um pulinho, ela sorria pra mim e pra minha mãe.
- Oi! Meu nome é Patrícia. Moro na casa de frente a de vocês. Como vocês se chamam?- Disse ela me olhando.
- Oi vizinha, meu nome é Andreia e esse é meu filho, Ramón - Respondeu minha mãe com uma risadinha.
- Prazer, Ramón, quer conhecer a galera? - Perguntou ela apontando pros outros três, no fundo da lanchonete.
Olhei pra minha mãe que me encorajava sorrindo.
- Tá, pode ser - respondi seco.
Levantei e ela segurou minha mão e me puxou, olhei pra minha mãe com cara de assustado, ela riu baixo e me fez sinal pra ir.
Cheguei onde os três estavam, eles me olharam e o rapaz de cabelo preto liso riu alto e disse.
- Nossa Pati, você não perdoa ninguém hein! - Disse apontando pra mim.
- Quieto Lucas, vai assustar o garoto - disse ela erguendo a mão como se fosse bater nele - Esse é Ramón, meu vizinho de frente. Ramón, a loira é a Joyce, o moreno ali é o Juan e essa mula sorridente é o Lucas.
Fiquei pasmo no quanto o Lucas era bonito. Sua pele branquinha e seu cabelo preto combinaram perfeitamente com seus olhos cor de mel, ele parecia ser forte, tinha um peitoral chamativo. Seu sorriso era encantador.
Joyce era magra, corpo de uma menina de dezessete anos, mas pequena. Juan era alto, braços de tipo médio e pernas grandes.
- Oi, legal conhecer vocês - respondi envergonhado.
Todos eles riram, quando o telefone do Lucas tocou.
- Alô Mãe! - Disse ele sorrindo, porém seu sorriso sumiu - Mas mãe eu... Deixa eu... Ah mãe... Tabom... To indo - e desligou.
Coloquei meu fone de uma maneira discreta, quando Patricia me olhou e disse:
- Temos que ir, mas prometo que sairemos outra vez tá? - disse ela com uma cara de despedida.
- Nossa que pena, mas haverão outras oportunidades - disse mentindo, eu era um ótimo mentiroso.
Eles se despediram e eu voltei pra mesa da minha mãe, que comia seu lanche e sorriu quando me viu. Quando ela foi falar, eu ergui meu dedo indicador, significava que eu não queria falar nada.
Comemos em silêncio e voltamos, ela ainda indicando coisas da infância dela. Chegamos em casa e fui direto pro quarto, tirei minha calça e deitei, olhando as estrelas. Era a primeira de muitas noites ali, longe da minha cidade amada. "Ah, que saudade, mas eu voltarei" pensei. E mais uma vez, eu coloquei meu fone e deixei Ariana fechar a noite.
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Tudo o que é Meu
RomanceTodos os seres humanos se apaixonam, cada um com sua forma de amar. Jovens amam sem pensar, se jogam de cabeça no amor. Os adultos amam de forma controlada, as vezes esquecem do tempo dedicado a isso. Os idosos amam com ternura e valor, pois ja apre...