Tudo o que é Meu

Tarde de Domingo

Acordei 12h30, ótimo horário pra mim. Olhei pro teto de vidro e reparei que estava nublado. A janela estava entre aberta, um vento frio entrou me fazendo arrepiar.
Fiz a minha higiene matinal e desci, na busca de algo pra comer. Minha mãe me deixou um bilhete dizendo que iria se encontrar com uma amiga, e que voltaria a noite. Peguei um pedaço de pão e subi. Olhei meu celular, meu coração tremeu quando vi a mensagem de Lucas:

Lucas: Acordaaaa paulixta u.u hahahahah ei, ta mega frio hoje hein

Me: oi Lucas kkkkk ta mesmo!

Lucas: que tal tomar chocolate quente? Eu levo um bolo que minha mãe fez e nós comemos... Topa?

Sinceramente, eu fiquei muito feliz com esse convite. Estar com ele me fazia lembrar de São Paulo. E também me fazia sentir alegre. Desde que o Dia "D" aconteceu, eu perdi a vontade de fazer qualquer coisa.

Me: claro! Pode vir!

Lucas: blz man, já que tô ai ;)

Me: okay :)

Lucas: ah! Quer que eu chame mais alguém?

Aquela pergunta me fez refletir. Não sabia se eu queria uma galera ali com a gente. Ainda não me sinto tão bem em grupos.

Me: vc que sabe haha por mim, td bem.

Lucas: okay.

Comecei a arrumar meu quarto o mais rapido que pude. Peguei minha blusa de lã preta, que era bem grande e quentinha, minha calça de moletom cinza e meias. Desci e procurei alguns doces e coloquei numa bandeja e subi. Dei uma arrumada no cabelo, liguei a TV e fui pra sala do primeiro andar. Quando ele chegou, não tinha ninguém com ele, o que me fez sorrir. Ele entrou, mas antes de fechar a porta, eu escutei alguém gritar:
- Ramón! Oi! - gritou Patrícia.
- Oi Patricia! Tudo bem - respondi, por dentro eu queria fuzilar ela, mas fiz cara de simpático.
Lucas apareceu na porta, e Patricia fechou a cara.
- O que ta fazendo aí Lucas? - Disse ela cruzando os braços.
- Ué, vim visitar meu amigo poxa, tomar café - disse ele sorrindo.
- Ótimo! Também vou fazer uma "social" com vocês - disse ela vindo na minha direção. Confesso que odiei aquilo, mas tive que engolir.

(...)

O dia foi um tédio, Patricia fazia de tudo pra chamar a atenção, o que me irritava muito. Lucas tentava conversar comigo, mas ela sempre nos cortava. Quando foi 16h, ela disse que tinha compromisso, quase ergui as mãos pro céu e agradeci. Ela desceu olhando de cara feia pra Lucas, que pareceu não se importar.

- Ufa, ela já foi - disse ele sorrindo.
- Ela pareceu não gostar de você vir aqui... Vocês tem algo? - perguntei olhando meu chocolate, tava com muita vergonha de fazer aquela pergunta.
-Eu e ela? Jamais! As meninas dizem que ela gosta de mim, mas não vai rolar - disse ele fazendo charminho.
Eu ri da palhaçada dele.

- Mas porque a pergunta? - Disse ele confuso - Ta apaixonado por ela? - perguntou fechando a cara.
- Meio obvio que não - respondi seco.
O assunto acabou ali... Deitei no puff e comecei a assistir tv, ele levantou e colocou o puff dele colado no meu. Eu olhei desconfiado mas resolvi não falar nada. Eu estava ficando com sono e meu chocolate tinha acabado. Lucas, todo discreto, foi colocando a mão por trás do meu puff, fingi não perceber nada.
Comecei a cochilar. Quando acordei, eu estava deitado no ombro de Lucas, que também dormia, pulei de susto e ele acordou:
- Lucas me perdoa! Eu não queria! - eu disse me arrumando.
- Ei calma! Nós só dormimos, não tem por que se desculpar - disse ele gargalhando.
Eu me senti muito mal naquele momento. Não queria que ele tivesse uma má impressão sobre minhas intenções com ele. Ele se levantou, e espreguiçando, sorriu e disse:
- Bom, acho que vou indo... Quer ajuda pra lavar a louça? - perguntou pegando os copos.
- Não tudo bem, eu lavo amanhã, pode ficar mais se quiser - eu disse, queria ter mais tempo com ele.
- Não dá, vou a missa ainda e preciso tomar banho, mas amanhã nos vemos na aula né?
- Ah verdade! Aula - aquilo me fez arrepiar
Ele riu e descemos. Ele me falava alguma coisa sobre a escola, que por sinal eu não prestava atenção. Eu ainda estava curtindo a lembrança de dormir nele.
Antes de sair, ele tocou na minha mão e se desculpou por Patricia, o que me fez revirar os olhos. Ele saiu e eu subi, ainda delirando sobre a nossa soneca da tarde.
(...)