O dia

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Depois de toda a confusão, eu resolvi ouvir a música que ele tinha me falado...
" Você pode me fazer sorrir
E não há mais nada a acrescentar
Hoje vivo sem nenhum vazio
Agora tudo tanto faz
Se minha paciência longe vai
Posso ouvir um "fica um pouco mais"
E o eco que sua voz produz
Me dá mais motivos pra estar (tão bem)
Tudo o que é meu
A você eu dou não importa o que
Tudo o que é seu
Quero que seja meu não importa o que
E assim eu vivo tão feliz
Só mudei meu jeito de enxergar
E esse pouco se tornou muito pra mim
Não posso esquecer jamais
De onde vim e quem eu sou
É que eu voltei
Aprendi na estrada o preço que paguei
Por tudo aquilo que eu não vivi
Tudo o que é meu
A você eu dou não importa o que
Tudo o que é seu
Quero que seja meu não importa o que..."

A música era muito bonita. Enquanto ouvia, eu me lembrava do nosso banho. Os toques dele, a massagem e a sua respiração forte no meu pescoço. Eu me arrepiava só de pensar nisso.

(...)

Minha noite foi comum, não me lembro do sonho. Meu celular despertou e eu me levantei. Fiz minha higiene matinal e me preparei pra ir pra aula. Olhei meu celular e não havia mensagem. Isso me surpriendeu, Lucas tinha costume de mandar mensagem e desde ontem quando saiu não tive contato.
Coloquei uma calça jeans preta e uma blusa de lã azul, e minha camisa com simbolo do Batman.
Peguei minha bolsa e sai. Quando andava, ouvi alguém me chamar. Imaginei ser Lucas e virei sorrindo...
- Nossa eu pensei que você manda... - parei quando vi que era Patricia.
- Eu o que? - disse ela sorrindo.
- ah, é... Nada.
Era visível que eu não estava feliz com essa situação. A alguns dias, ela tinha sido extremamente inconveniente. Eu ainda sentia um pouco de raiva disso. Ela foi ao meu lado pra escola, tagalerando o tempo todo sobre um certo grupo de canto na escola. Eu sinceramente não ligava pra nada que ela dizia, mas eu sorria sempre, dando a entender que eu ouvia tudo.
Chegamos na escola e eu fui direto pra sala. Me sentei e coloquei o fone, me preparando pra mais uma aula de Português. O sinal tocou e todos entraram, menos Lucas. Eu fiquei olhando na porta esperando ele entrar, o que não aconteceu. Pelo menos nas aulas de português.

(...)

O ultimo sinal tocou e nada de Lucas, nem na escola e nem mensagem de texto.
Esse clima se seguiu pelo resto da semana. Lucas não foi a aula e nem deu notícias. Eu já sentia falta dele. As brincadeiras, as visítas inesperadas e as ações inesperadas. Aquele dia da chuva me fez gostar mais dele. Eu o queria perto de mim, mesmo que fosse na amizade, ele me fazia bem. Era meu único amigo ali na cidade. Eu sentia muita falta de SP, mas quando estava com ele, eu queria ficar ali. Na sexta feira, ao invés de passar o dia lendo ou assistindo TV, fui ao shopping. Claramente era menor do que os de SP, mas servia pra esfriar a cabeça. Fui olhar o cinema, pra ver se Cidades de Papel já estava em cartaz. Enquanto olhava, ouvi uma voz familiar:
- Abra a mão e feche os olhos - disse a voz. Eu sabia que era ele, eu o conhecia. Seu cheiro, sua respiração. Me virei e ele colocou algo em minha mão. Parecia uma caixa, eu apaupei e ele ria, sua risada me fazia sorrir. Aquele bocó me fazia bem.
- Pode abrir os olhos, e não brigue comigo - disse ele.
Quando abri, fiquei pasmo com o que vi: uma caixa com bombons e um tablete de chocolate escrito "me desculpa". Eu o olhei, boqueaberto, tinha nele um sorriso meio preocupado com minha reação.
- Foi o único jeito que achei de te pedir desculpa, por isso fiquei sem falar com você, eu não sabia como te pedir desculpa por ter ido longe demais aquele dia... - disse ele, olhando pra baixo e ficando vermelho.
- Não precisa pedir desculpa, eu e você nos deixamos levar pelo momento, e sobre esse presente, eu nem sei o que dizer... - eu realmente estava muito sem graça.
- Eu digo por você, vamos ao cinema, eu pago! E se reclamar, pago sua passagem também - disse ele me puxando.

(...)

A sala de cinema estava quase vazia, além de nós dois tinham cerca de 6 pessoas. Nos sentamos e logo o filme começou. Eu estava muito feliz. Lucas me olhava e toda hora me perguntava se eu estava gostando, o que era impossível negar. O filme era interessante, e eu estava me fixando em assistir. Lucas passou a mão por trás do meu banco, cutucando meu ombro do lado contrário de onde ele estava. Eu olhei e não ví ninguem, ele tampou a boca e gargalhou baixinho. Eu fuzilei com os olhos e me virei dando as costas. Ele veio assoprando minha nuca e eu me virei. Ficamos a 2cm de distância. Eu sentia sua respiração no meu rosto e seu hálito de menta. Queria tomar alguma atitude, queria ter coragem pra fazer alguma coisa, mas não tive. Apenas fechei meus olhos, esperando algo acontecer.

A respiração dele ficou mais perto, eu ja sentia que a boca dele estava perto da minha. Ele se inclinou, fazendo nossos lábios se encaixarem como peças de um quebra cabeça. Foi um selinho demorado. Minha cabeça girava e minhas pernas tremiam. Eu estava em extase, finalmente descobri o que eram as famosas "borboletas no estômago". Ele segurou meu rosto, e então seu celular tocou. Eu virei meu rosto, sabia que estava roxo de vergonha e que eu jamais conseguiria olhar nele outra vez.
Lucas se levantou e saiu da sala pra atender, eu esperei um pouco. Ele estava demorando, então fui ver se estava tudo bem.
Saí da sala e ele estava vindo correndo, sua expressão me assustou.
- Ramon me perdoa, mas eu preciso ir. Minha mãe passou mal e eu vou ver ela - disse ele.
- Quer que eu vá com você? - Perguntei preocupado.
- Não, vá pra casa e assim que eu puder eu vou pra lá, pode ser? - perguntou pegando o celular.
- Tá, me dê notícias - gritei, já que ele tinha saído correndo.

(...)

Cheguei em casa e minha mãe estava lá, já havia chegado do trabalho e estava na cozinha.
- Oi filho, como foi seu dia? - perguntou ela cortando os legumes.
- Ótimo mãe, só estou um pouco preocupado com o Lucas, a mãe dele passou mal - disse me sentando a mesa.
- Fique calmo, logo as coisas se acertam, liga pra ele - disse ela sorrindo.
- Tá, vou subir e ligar.

Subi pro meu quarto discando o número dele. Tocou e caiu na caixa postal.
Troquei de roupa e meu celular vibrou, era ele.

Lucas: minha mãe já tá bem, pode descansar. Depois nos falamos ta? Boa noite.

Eu lí a mensagem, que me aliviou. Deitei e comecei a lembrar do meu dia, principalmente no beijo. Eu agora me sentia ainda mais feliz de ter Lucas como amigo. Ainda muitas dúvidas pairavam pela minha mente. Fiquei relembrando o dia, e o sono veio vindo. Fui cochilando, na lembrança do meu dia perfeito...

Tudo o que é MeuOnde histórias criam vida. Descubra agora