Tudo o que é Meu

Chama Ascendente

Depois de algumas semanas, eu e Bruno nos aproximamos cada vez mais. Ele vinha em casa todos os fins de semana e nos falávamos por mensagem o dia todo. Lucas não tinha mais dado as caras, e Juan também havia sumido.
Desde que Juan me viu um dia desses com Bruno na escola, ele estava estranho. Toda vez que ia falar com ele, Juan era seco e me deixava falando sozinho. Eu até pensei em correr atrás, mas algo me dizia que ele precisava de um tempo, por isso o deixei.
Patricia também tinha sumido (pela graça de Deus), ela veio se gabando pelo fato de estar fazendo uma coleção de fotos. Dizia que era a modelo preferida da Agência. Obviamente eu não discordaria, pra poupar a possível briga com ela. Então seus "cafés" com minha mãe se tornaram menos frequentes.
- Ah filho, ela é uma ótima amiga. Pare de reclamar - disse minha mãe se sentado no sofá comigo.
- Tenho discordância sobre isso mãe, ela não é tão boa assim, pelo menos pra mim - eu disse enquanto procurava algo decente pra assistir, que não fosse uma série chata ou um filme antigo.
- Eu acho que está reclamando de barriga cheia - minha mãe tinha o péssimo hábito de ser mais amiga dos meus amigos do que eu mesmo.

Já era sexta e estava preparando as coisas pra quando Bruno chegasse. Ele dormiria esse fim de semana em casa pra fazermos maratona de Animes. Eu estava arrumando meu quarto quando ele entrou, com o sorriso tímido de sempre, minha mãe veio logo atras com uma bandeja de Doritos (por sua vez, melhor salgadinho "ever") e mais algas coisas.
- Trouxe pra vocês. A propósito, amanhã é dia de cozinhar, então vamos ao mercado - disse ela saindo.
- Okay mãe.
Bruno me olhava tímido. Ele vestia uma camiseta de mangás cumpridas vermelha, uma bermuda preta e um chinelo. Estava com seu óculos (o que deixava cada vez mais fofo).

-Eai? Qual anime assistir? - Perguntou ele me olhando animado.
- Huum, não sei. Bleach é bem legal pra começar - sugeri pulando na cama.
Ele com todo cuidado, se sentou na cama e ficou olhando pro teto de vidro. Estava um céu estrelado e lindo.

(...)

Ao decorrer dos episódios, ele se deitou de bruços assim como eu, ao meu lado. Comentávamos as vezes sobre algo da história que fosse interessante, mas na verdade apenas curtimos o momento. Estar com Bruno me fazia bem. A cada vez que ele estava aqui comigo, eu sentia que podia confiar nele de todas as formas e entregar tudo a ele. E eu sabia que, mesmo na sua timidez, ele ainda sim se aproximava de mim também. Os episódios foram se passando e eu fui ficando com sono. E ele também. Eu conseguia sentir a respiração dele na minha nuca.

Eu estava realmente cansado, e já passava das 3h. Quando me virei para Bruno, nossos lábios quase se tocaram, eu fiquei o olhando e ele a mim.

- Será que posso dormir na c-cama c-com você? - Perguntou ele desviando o olhar.
Aquela pergunta realmente me pegou de surpresa. Eu fiquei o olhando um tempo, e quando percebi que estava em transe, respondi.
- Claro poxa! Eu também não gosto de dormir no chão - disse sorrindo.
Ele se levantou, e foi ao banheiro colocar o pijama. Eu peguei minha regata gigante (digo isso pq ela realmente é grande, fica igual uma camisola em mim), meu short de corredor e deitei. Bruno logo saiu do banheiro, e se deitou tbm. O silêncio era ensurdecedor naquele momento. Porém, lembrei da frase de um sábio, e a deixei no ar em minha mente:

"O silêncio fala muito, e não comete erros..."

Enquanto eu pensava nisso, algo que eu jamais imaginei aconteceu. Bruno me abraçou por trás, e me  apertou contra seu peito. Ele era mais baixo que eu, mas mesmo assim, foi muito bom. Eu o segurei e apertei seus braços em minha barriga, e ali ficamos, de "conchinha" até que dormimos.

No momento em que ele me abraçou, eu não soube identificar o sentimento que veio a mim. Ao mesmo tempo, senti a alegria, a insegurança, o medo, a euforia, a animação. Tudo de uma vez, mas me deixei levar pelo único sentimento que realmente me importava naquele momento: a Paz. Sentia algo em meu peito, algo que queimava aos poucos, sem me machucar. Algo que me fazia ir às nuvens , sem tirar os pés do chão. Algo que me fez sonhar, sem estar dormindo.