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Em casa, Ana repassou as imagens de sua consulta várias vezes mentalmente. Aquilo tudo era uma loucura sem tamanho, mas não tinha como negar que estava curiosa. O sono preencheu a menina cedo da noite fazendo com que dormisse de estomago vazio e acordasse na manhã seguinte com a fome de quem não comia há dias.

Olhou para o relógio, já eram 10h15min. Levantou coçando os olhos para espantar o sono e foi para o banho. Vestiu-se em um vestido e pôs sapatilhas. Seus longos cabelos negros e emaranhados foram penteados e presos em um rabo de cavalo.

Ao chegar à cozinha, Ana se deparou com uma mesa recheada de coisas que adorava, mas não perdeu muito tempo comendo e logo estava no ponto de ônibus. Por sorte, não houve demora, e chegou rapidamente no endereço do cartão.

Era um dos bairros mais nobres da cidade. As casas eram enormes, se é que podem ser denominadas com casas. Esta em que Ana se encontrava não era diferente. Ela era grande e arrodeada por portões. De fora era possível ver o azul da piscina e o verde do jardim. Tocou a companhia e uma voz eletrônica perguntou quem era e em seguida o portão foi aberto.

Lá dentro, um homem, provavelmente um mordomo por suas roupas preto e branco, recebeu a menina com um sorriso nitidamente falso.

_ Bom dia, senhorita. O doutor Morfeu a espera. Venha._ falou e gesticulou para que o seguisse.

Dentro era ainda mais bonito. A sala era grande e tinha um formato oval, uma escadaria se encontrava de frente para entrada, o teto parecia com de uma igreja, alto e com grandes lustres. A direita havia poltronas sobre um tapete cor de chocolate onde um homem se encontrava sentado com uma xícara na mão. Era Morfeu.

Desta vez estava vestido de forma menos formal, uma calça jeans, camiseta branca e um blazer.

_ Fico feliz que tenha vindo, senhorita Fernandes._ fez menção para que sentasse e Ana assentiu_ Quer chá?

_ Não, obrigada_ dispensou a menina.

_ Suponho que eu não tenha sido claro da ultima vez que nos vimos, mas não tem uma maneira fácil de lhe explicar tudo isso. Então, acho melhor começarmos do começo.

Ana se apruma na cadeira grande demais para ela e ouve atentamente Morfeu.

_ Quando era mais jovem, e estava terminando meu curso na Inglaterra , minha cabeça estava preenchida por ideias e nada mais me importava além da ciência. Aquilo era maravilhoso para qualquer brasileiro, principalmente naquela época. Até que conheci uma mulher e ela me ajudou a tirar um pouco o foco dos estudos, me ajudou a viver. Nós nos apaixonamos e nos casamos. Mas algo sempre me intrigava nela. Havia momentos em que ela estava comigo, mas ao mesmo tempo não estava. Como se o que estivesse ali fosse apenas seu corpo, mas sua consciência estivesse em outro lugar. Ela era especial, ela era... Como você.

"Como todo bom cientista, questionei e procurei saber de casos parecidos. Mas não havia absolutamente nada que explicasse o que acontecia com ela. Acabei fazendo de minha mulher objeto de estudo. Monitorei suas atividades cerebrais, questionava ela. Perguntava o que sentia e ela sempre me respondia o mesmo. Respondia que era como se fosse tirada do chão, via lugares ao qual nunca tinha ouvido falar, locais que pareciam ser de outro mundo. Com o tempo minha fascinação só aumentava. Mas enquanto via isso como avanço minha mulher temia que eu ficasse obcecado com aquilo. Fui mais devagar com minhas pesquisas pelo bem dela, afinal ela me deu o melhor presente de todos, minha filha. Ela acabou falecendo..."

Morfeu adquire uma palidez que entristeceu Ana.

_ Criei minha filha sozinho_ continua Morfeu se recuperando da triste lembrança_ lhe levei a escola, ensinei o português, a vi crescer. E quando completou seus nove anos, notei algo diferente em seu comportamento, algo que herdou de sua mãe, algo que a senhorita também possui.

Morfeu olha para Ana esperando alguma manifestação da garota, mas ela apenas abaixa a cabeça já não suportando o peso do olhar. Quando volta para ver Morfeu, ele apontava para o alto da escadaria. Lá havia uma menina que os observava. Ela desce as escadas.

De perto, Ana pode perceber o quanto ela era bonita. Tinha cabelos loiros e cumpridos bem cacheados, sua pele era branca, porém não transmitia palidez, o que era possível ver pelas suas bochechas rosadas. Seus olhos eram de um castanho tom de mel. Não era muito alta, ainda mais baixa que Ana, mas isso não prejudicava sua elegância.

_ Senhorita Fernandes, essa é a Aribella, minha filha._ apresenta o doutor Morfeu.

A menina estende a mão sorrindo e Ana aceita. Se as poltronas já eram grandes para Ana, para Aribella conseguia ser pior. A garota ficava praticamente perdida naquilo, seus pés nem ao menos alcançavam o chão.

_ Agora sabe que não é a única_ diz Antônio Morfeu_ o que eu proponho é que a senhorita venha participar do que digamos... Seria um grupo de estudo. Eu sei o quão desagradável esses devaneios podem ser, eu posso lhe ajudar. Então, aceita?

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