A MUDANÇA

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C A S S I A N A   A N D R A D E

Era mais um dia ensolarado — eca — na cidade do Rio de Janeiro e eu estava enfurnada no meu quarto debaixo do ar-condicionado durante praticamente o dia todo e só saia para comer, isso quando sentia fome.
Eram quase dez horas da noite, e eu estava quase no final do livro do Drácula de Bram Stoker imersa numa história de suspense e terror que me tirava o fôlego quando meu pai abriu a porta do meu quarto sem bater, interrompendo a minha leitura. Logo lancei um olhar de reprovação. Não se entra assim no quarto de uma dama sem bater.

— Eu não acredito que você ficou o dia todo lendo. — meu pai falou com certa reprovação na voz.

Revirei os olhos e o encarei.

— Nossa, fala como se fosse uma coisa ruim.


— Ficar intocada aí dentro o dia todo é bastante ruim. — respondeu cruzando os braços e caminhou até às janelas, abrindo as cortinas. — Olha essa escuridão. Não deixa nem o sol entrar.


— E espera o que? — Questionei, mas nem dei tempo para ele me responder e fui logo dizendo — Que eu saia há 50 graus? Deus me livre! — eu coloquei o marcado no livro e fechei mostrando a capa para ele. — Pai, eu sou como uma vampira, a luz do sol pode até me matar! — dei uma pausa dramática e levantei fechando as cortinas. — Só saio a noite, sob a luz das estrelas.


Meu pai revirou os olhos com uma encenação dramática, mas com um sorrisinho, achando graça. Ele puxou a cadeira da mesa do meu notebook e sentou-se à minha frente.
Eu estava voltando para meu lugar, um puf roxo enorme, macio e confortável. O observei se acomodar na minha cadeira de rodinhas a minha frente, sentou como naqueles filmes policiais, a cadeira ao contrário e ele apoiada no encosto. Quase perguntei se ele fazia isso nos interrogatórios, mas dispersei a ideia percebendo que ele havia mudado a expressão para uma um tanto insegura.

— Tudo bem? — perguntei preocupada, pousando o livro ao lado e focando nele. Seu comportamento estranho requer minha total atenção. O meu pai, Rodolfo Andrade, o melhor delegado e investigador da cidade era tudo, menos inseguro. Ele tinha algo para contar e era sério. A última vez que ele ficou assim foi quando anunciou que foi promovido a investigador chefe, por tanto ia trabalhar ainda mais e ficou preocupado com a minha aprovação, se estava sendo um pai muito ausente, um pai ruim. Para sua surpresa eu vibrei com a notícia e super aprovei a promoção. E disse que nada disso reflete no excelente papel de pai que ele exercia, que era ótimo por sinal.


— Sim, claro. — respondeu dando um sorrisinho, tentando eliminar as tensões no ar. — Tenho uma notícia.


— Foi promovido? — perguntei já fortalecendo a minha teoria, mas para a minha surpresa ele balançou a cabeça negativamente.


— Não. Não tem nada a ver com o meu trabalho... — agora ele quem deu uma pausa dramática e olhou para o anel de noivado em seu dedo. — Sim, havia ficado noivo quando completou dois anos junto com uma importante advogada da vara de família e adivinha em que data ocorreu esse noivado? Sim, no ano novo. Clichê? Suuuper! — Ele desviou o olhar do anel me encarando. — É sobre a mudança.


Eu joguei a cabeça para trás suspirando cansada, já cheia desse assunto.


— Ahh, pai! Já falamos sobre isso. Vocês estão apressando demais as coisas....

Mas ele me interrompeu elevando a sua voz sobre a minha, me interrompendo.

— A nossa mudança não vai ocorrer mais.

Um sorriso se formou no meu rosto, grande demais, tentei me controlar, mas não consegui, foi mais forte que eu. — Esse sorriso é de alívio. — me expliquei rapidamente olhando para ele. — Ainda bem que pensaram melhor e...

STALKER - O Fantasma cibernéticoOnde histórias criam vida. Descubra agora