O SUSPEITO

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C A S S I E   A N D R A D E

Sai de casa irritada, quem ele pensa que é para dizer aquelas coisas? Que eu não tenho uma vida e nem amigos? E fica repetindo isso como se me conhecesse. Príncipe da vara de infância estúpido! Só saí mesmo porque tenho mais o que fazer ou faria questão de infernizar ele e seu grupinho idiota.


É claro que tenho amigos, amigos de infância, da escada, mas a vida segue! Não é todo mundo que pode pagar mensalidades absurdas das faculdades igual ao idiota do príncipe.
Juliana e David, meus melhores amigos, fizeram o ENEM e passaram. Agora eles estão estudando em outros estados morando no campus. Eu também passei para algumas faculdades fora do Rio de Janeiro. Nos cursos que eu mais queria, mas jamais deixaria meu pai para ir morar em Curitiba em um campus ou em qualquer outro estado. Então eu menti, desistir das vagas disse que não passei.

Meu pai me apoiou, disse que estava tudo bem e que poderia tentar de novo no ano que vem e conseguiria passar pra onde quisesse.

O surpreendi dizendo que iria pegar uma bolsa de 80 por cento numa faculdade particular mesmo, aqui perto. Mesmo sem precisar, pois minha bolsa era de quase 100 por cento, meu pai para aumentar a renda, além de trabalhar como delegado na delegacia, também resolveu trabalhar de investigador. Eu também iria atrás de um bico para não sobrecarregar ele.

Eu gosto da minha cidade, gosto de ficar perto do meu pai e minha vida estava estabilizada aqui. Ele amou a decisão, era durão, mas não queria sua filhinha longe dele, mesmo não querendo admitir. Afinal, quem ele iria tentar controlar, dá broncas e etc? Nós só tínhamos um ao outro, e prometemos sempre estar presentes um para o outro.

Isso até agora né. Agora ele também tem a monarquia da vara da família. Revirei os olhos só em lembrar daquele povo na minha casa.

Eu estava a caminho do mercado para comprar algumas besteiras para passar o tempo e outros ítens que meu pai pediu antes de ir trabalhar.
Quando estava voltando, terminando de conferir a lista mentalmente vi um filhote de cachorro correr inocentemente para a pista com o sinal aberto e um carro avançava acelerando. Arregalei os olhos e corri sinalizando e gritando igual uma louca.


— PARA MOÇO! PELO AMOR DE DEUS! PARA!


O motorista freou o carro assustado e me xingou. Com o coração disparado, abaixei e peguei o filhote no colo voltando para a calçada e sentindo o coraçãozinho do filhote também disparado.

Sentei no meio fio, um pouco trêmula pela adrenalina de ser quase atropelada junto com um cachorro. O filhote começou a lamber minha mão, como se tivesse agradecendo. Sorri derretida fazendo carinho. Suspirei imaginando que o filhote no meu colo deveria ter apenas alguns meses, cinco ou menos, ele era um pequeno vira-lata misturado com alguma outra raça, talvez um pastor alemão. Estava sujo e sem coleira com os olhinhos dizendo: Me leva para casa. Quem resiste? Eu não!


No caminho de casa passei em uma casa de ração e encomendei um saco de uma boa ração para filhotes, comprei sabonete anti-pulgas e carrapatos e contra outros tipos de pragas, comprei um shampoo cheiroso, alguns brinquedinhos, coleira e corrente.

Quando cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi fechar o portão para ele não correr pra rua de novo, colocar as sacolas na mesa e soltar o cachorrinho no quintal, ele imediatamente correu feliz e saltitante.

Observei com um sorriso, o pequenino cheirar cada canto do nosso curto quintal todo curioso.

Cheirei a minha mão em um instinto automático e senti aquele fedorzinho básico de cachorros de rua. E então aproveitando outro dia de sol — eca — eu peguei a mangueira e chamei o filhote para um banho.

STALKER - O Fantasma cibernéticoOnde histórias criam vida. Descubra agora