AS REGRAS

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AS REGRAS


C A S S I E    A N D R A D E


Nessa manhã saí de casa umas nove horas — eu sei, eu sei que eu disse que só saio a noite de casa e blá, blá, digamos que é uma verdade de meio termo, eu prefiro sair de noite, mas não quer dizer que eu não vá sair de dia, até porque sou obrigada pelo meu pai — e quando voltei para casa eram um pouco mais de meia noite — ai meu Deus do céu, como é bom ser vida louca — e quando fechei a porta por trás de mim ouvi palmas de leve. Meu pai estava se levantando do sofá e acendeu a luz me encarando como se tivesse fazendo pouco-caso — o que para o meu azar era mentira — ele juntou as mãos e começou.

— Sai sem avisar, não atende o celular, não liga para casa e volta de madrugada. — disse enumerando meus atos.


— Eu tenho 18 anos! — contestei imediatamente. — Já sou grandinha. E são meia noite e vinte!


— O que não significa nada. O que não justifica sua falta de responsabilidade e consideração por mim. — retrucou me encarando.


Revirei os olhos — senhoras e senhores vai começar mais um capítulo de novela mexicana, podemos chama de Papa. — eu umedeci meus lábios secos e comecei a falar. — Desculpa pai, eu estava na casa de uma amiga. Dei tempo para o povo se instalar à vontade. Educadinha como papai me ensinou.

Ele balançou a cabeça negativamente, sem achar graça.

— Mais tarde a gente conversa.

E subiu para o quarto, com sua cara fechada.

Eu fiquei observando ele subir de boca aberta — mais tarde a gente conversa? Como assim mais tarde a gente conversa? Normalmente ele teria gritado, brigado e tirado a internet ou notebook ou os dois. Com certeza a rainha da vara de família tinha algo a ver com isso. E olha, não achei ruim. — tirei meu chinelo e subi para o meu quarto descalça, ao abrir a porta apenas uma luz fraca iluminava um rosto do outro lado do quarto. Eu acendi a luz e ele resmungou um palavrão.

— Sua mãe sabe que você xinga? — perguntei em tom sarcástico.


O rapaz se sentou na beirada da cama com um sorriso no rosto ao me encarar.


— Então você é filhinha do Rodolfo. Pensei que fosse mais velha. — disse me analisando de cima a baixo.


Balancei a cabeça pendurando a mochila no cabideiro e me virei para sua direção, franzido o cenho. — Tu acha que eu tenho quantos anos?


— Uns 14... — respondeu.


— Eu lá tenho cara de 14! — retruquei.


— Ah tem, e a altura também— debochou, rindo da minha cara de incredulidade ouvindo isso.


— E você é muito... — eu parei de falar quando ele veio em minha direção e comparou nossas alturas. Ele era significativamente mais alto... tipo quase 1,80 contra meus 1,60. Eu o encarei com desdém — Nem todo mundo tem sangue de ciclopes...

O príncipe da vara de família estava rindo. — Você é bem diferente do que eu imaginava.


Revirei os olhos — E como você me imaginava? — perguntei já me arrependendo.

— Sei lá, bem Rodolfo, só que mulher. Tipo, Rodolfinha.

— Por outro lado, você é tudo que eu imaginei. O pequeno príncipe da vara de infância.

— O que? — ele perguntou sem entender a minha piada interna.

Balancei a mão, como se dissipando o assunto no ar, mas algo atrás dele me chamou a atenção, eu me inclinei e meus olhos arregalaram quando vi o que estava atrás dele, na parte do quarto dele.

STALKER - O Fantasma cibernéticoOnde histórias criam vida. Descubra agora