Capítulo X

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"Amor é um livro

Sexo é esporte

Sexo é escolha

Amor é sorte"

(Rita Lee)

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Fernanda Albuquerque


Sempre achei as segundas, dias péssimos. Elas acabam com os nossos sonhos do fim de semana, e nos fazem acordar amargos, descrentes da vida, pelo menos comigo era assim que funcionava. Meu humor só melhorava à tarde, tudo isso porque após um fim de semana acordando sem o barulho do despertador, ouvi-lo tocar às cinco e trinta da manhã, não me causava nenhum pensamento positivo, maldizia mentalmente o infame despertador, enquanto me espreguiçava.

Fiquei mais uns dez minutos apertando a função soneca, até que reunir forças do além e levantei da cama. Desde nova, eu sempre planejei tudo na mina vida, por isso criei o hábito de ter agendas, eu tinha diversas. Uma para assuntos pessoais, outra para o trabalho, com todos os meus compromissos anotados. Com a minha vinda para o Rio, tive que comprar mais uma agenda, para incluir minha nova vida nela. Assim que cheguei, me matriculei numa academia próxima ao hotel que oferecia Aulas de Muay Thai, eu já fazia minhas aulas em São Paulo e queria continuá-las, as aulas aconteciam as segundas e quartas às seis e trinta da manhã, único horário disponível que consegui para conciliar o trabalho e a atividade física.

Vesti minha roupa de treino e fui caminhando para a academia, ela ficava apenas a duas quadras do hotel. Apesar de cedo, a academia já estava lotada, as pessoas parecem dar muito mais importância ao corpo saudável por aqui, uma simples caminhada na orla e já vemos pessoas de todas as idades fazendo algum tipo de exercício físico. A academia estava localizada no andar de cima do centro de treinamento de MMA então é comum esbarrarmos com homens super musculosos e exalando testosterona e era lá que minhas aulas ocorriam.

- Pulou da cama Fernanda?! - indagou André Viana, um dos treinadores, assim que entrei no tatame já animada.

- Bom dia... Vim descarregar a energia antes de ir trabalhar - falei já colocando as luvas.

- O Bob é todo seu - indicou. Bob é o boneco de pancada que simula perfeitamente a anatomia do corpo humano, dessa forma o mesmo proporciona um excelente realismo durante o treinamento, era bastante utilizado para nos aquecermos.

- Fernanda acordou com sangue nos olhos. Antes das sete e a mulher já ta com todo gás, deixando o pobre do Bob cambaleando - perturbou Sandra uma das alunas que acabara de chegar.

- Quando ela não ta? Da última vez que me distrair, saí com minhas partes baixas doloridas - completou Gustavo um dos instrutores fazendo o nosso grupo de seis mulheres gargalharem.

- Agora vamos deixar a conversa de lado. E começar a bater no Bob moças! Extravasem nele toda a energia reprimida. Vão se aquecendo com o Bob que já já, vocês partirão para cima dos nossos instrutores sedentos por apanhar.

Após quinze minutos batendo no Bob, já estávamos aquecidas para deferir nossos golpes nos instrutores. Como eram apenas quatro instrutores, sempre duas alunas treinavam entre si, até um instrutor estar livre. Desde a primeira aula, a Daniela se tornou minha dupla, enquanto as outras treinavam com os instrutores. Ela era fotógrafa profissional, com livros já publicados e premiações devido ai seu olhar fotográfico. Mas nos dias normais, como ela mesma gostava de dizer, era fotógrafa de books de casamento, a diferença é que ela gostava de captar o antes, o preparo, o noivado, o dia da noiva, o grande dia ela deixava para sua equipe. Segundo ela, captar esses momentos era tão importante quanto registrar o dia do casamento.

- Minhas fotos estarão em exposição na próxima semana na Galeria Mascarenhas, separei dois convites para você! - ela falou enquanto me atacava com um jab direito que eu defendi.

- Claro que irei! - falei proferindo nela um kao tom.

- Tenho pena do cara que aprontar com você. - ela disse sorrindo, enquanto era atingida pela minha joelhada. Apenas sorri e trocamos de posição, agora com os treinadores.

- Eu concordo, já viu o cruzado dela? Deixa qualquer um no chão. - falou Marta passando por nós.

- Eu adoraria ficar no chão com você - disse Fabrício meu companheiro de treino. Sorri e ignorei sua cantada, atingindo ele com uma sequencia de golpes, ele defendia todos na mesma velocidade.

- Porra você leva a sério, a aula.

- Eu não pago caro para ficar olhando para seus belos olhos azuis Fabrício - falei atingindo ele com um chute na cabeça, defendido por ele.

- Que bom que notou meus belos olhos azuis - ele falou me atacando com cruzados - a propósito, o que mais notou em mim? - perguntou me encarando.

Eu sorri e fingir pensar na resposta e ele baixou a guarda e sem dó nem piedade eu o atingi com um chute que acertou seu calcanhar, fazendo-o cambalear e cair.

- Não acredito que cair nessa - ele falou sorrindo no chão- caralho você atingiu round kick perfeito. Casa comigo?

Estendi a mão e o ajudei a levantar. Ele me puxou para si e sussurrou:

- Ainda não respondeu minha pergunta, que tal continuarmos essa conversa em outro lugar?

- Quem sabe um dia. - respondi me esquivando.

- Pessoal, por hoje nossa aula chegou ao fim, até quarta.

Saio da aula, com duração de 45 minutos, leve. Pronta para enfrentar um dia na Albuquerque's. Chego ao hotel tomo um banho longo, escovo meus cabelos, e começo a me maquiar, a marca roxa ainda não desapareceu por completo e eu aplico mais uma vez um corretivo facial para esconder essa maldita chupada. Visto uma saia lápis preta, uma blusa de seda vermelha e um terninho preto, nos pés uso meu salto agulha Christian Louboutin e saio de casa. Vou comendo a caminho do escritório, tomo um shake de proteínas, o trânsito carioca a essa hora da manhã, permite que eu faça minha refeição no carro com tranquilidade.

Estaciono meu carro no estacionamento e caminho em direção ao elevador, por uma infeliz coincidência estão o aguardando Marcos e Thalita, penso em voltar para o carro na desculpa de ter esquecido algo, mas o Marcos já me avistou e acenou dando bom dia. O que eu falei sobre segundas-feiras mesmo? Faltei acrescentar que odeio encontrar babacas e cunhadinhas não desejáveis logo no início do dia.

- Bom dia. - me limito a dizer, enquanto aguardamos o elevador.

- Bom dia! - Responde Thalita.

- Bom dia. E aí como passou o final de semana? - perguntou Marcos.

O elevador chega e eu invento que acabei de esquecer a minha agenda no carro.


DESTINO - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora