Você e meu vício!

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Capítulo 12

- Ei, acorda!
Pulei de susto, abrindo os olhos devagar e me deparando com Bruna de pé à minha frente, me cutucando e rindo. Eu estava sentada no mesmo lugar onde costumávamos esperar o sinal tocar e o período de aulas começar, mas naquele dia eu milagrosamente tinha chegado mais cedo que ela.
- Oi - suspirei, toda encolhida e abraçada às minhas pernas, sentindo minha garganta arranhar e fazendo com que meu cumprimento não passasse de um sussurro esganiçado. Minha voz costumava ficar uma merda de manhã.
- Pelo visto, sua mãe tem sido cada vez mais pontual, conseguiu fazer você chegar antes de mim - ela comentou, parecendo bem humorada como sempre, mas logo franziu a testa, contagiada por minha expressão cansada - Que foi, não dormiu direito outra vez?
Estremeci de leve, ainda sonolenta, ao me lembrar da noite anterior. O dia anterior em si tinha sido horripilante. Todo aquele... Acidente no laboratório se repetia como um filme em minha cabeça, um disco arranhado. Não passou de um deslize, uma falha, coisa de momento, disso eu tinha certeza absoluta. E não aconteceria de novo. Jamais. Fe não merecia aquilo, muito menos o safado do Rafael.
- Acho que fui contaminada por um zumbi e não sei - murmurei desanimadamente, apoiando meu queixo nos joelhos e observando vagamente o pátio vazio - Tô ficando incapaz de dormir bem.
Bruna soltou um risinho divertido, que eu ignorei. Meu humor não estava macio o suficiente pra esboçar qualquer tipo de alegria. Alguns minutos de silêncio depois, nos quais eu não pude deixar de me sentir mal por ser involuntariamente ranzinza com Bruna , ouvi vozes masculinas vindas da entrada da escola, e nem precisei olhar pra saber a quem pertenciam. Às formas humanas de meu melhor sonho e meu pior pesadelo, claro.
- Bom dia, meninas - Fe sorriu ao passar por nós, parecendo bastante animado, o que fez meu estômago revirar. Ninguém parecia notar o incômodo insuportável que se alojara dentro de mim e parecia não querer mais me deixar.
Pelo menos eu não precisei encarar os olhos extremamente culposos de Rafael quando sorri fraco para Fe, porque mesmo estando bem ao lado do amigo, ele pareceu não querer me olhar também. Desviou sua atenção para algo em seus tênis, que a julgar pela inexpressividade em seu rosto, deviam ser bastante desinteressantes. Agradeci mentalmente por não notar nenhum sinal de que ele tinha contado algo a Fe, e por ele parecer concordar como que telepaticamente com meu plano de ignorarmos um ao outro. Bom, não custava nada tentar manter meu corpo insanamente desejoso do dele longe do laboratório.
O dia se arrastou preguiçosamente, fermentando meus pensamentos com a falta de concentração. Cada vez que eu piscava, a imagem dos olhos Castanhos de Rafael vinha à minha mente, penetrantes como adagas. Por várias vezes, senti meus pêlos da nuca se arrepiarem só de lembrar daquela sensação viciante das mãos dele passeando pelo meu corpo, firmes e determinadas, dos lábios dele me enfeitiçando, de sua respiração entrecortada batendo rudemente em meu rosto e me provocando ainda mais. E quando eu me dava conta de que alguns minutos de aula tinham se passado sem que eu prestasse atenção, meu coração desenfreado custava a se acalmar. Definitivamente, eu só podia estar enlouquecendo.
No intervalo, Fe não deu sinal de vida. Como nenhum outro professor apareceu (pra minha alegria, já que havia um em especial que eu adoraria evitar) e a porta da sala dos professores se manteve fechada, deduzi que eles estavam em alguma espécie de reunião. Não estava dando pra reclamar muito da minha sorte, pelo menos, já que todas as atitudes das pessoas ao meu redor pareciam conspirar ao meu favor. Bruna teve uma crise forte de cólicas e foi embora na segunda aula, portanto eu não precisei fingir que estava razoavelmente bem e puxar qualquer tipo de assunto com ela. Nada contra minha melhor amiga, eu a adorava, mas em dias sombrios como aquele, eu preferia ficar isolada de tudo e de todos.
Assisti às últimas aulas vagamente, me desligando quase que totalmente do mundo real. Estava inerte, devaneando, sem realmente saber no que estava pensando, mas com certeza pensando em alguma coisa. Minha mente estava se tornando bastante confusa, até para mim mesma. Fui a primeira a deixar a classe quando o sinal anunciou o fim da última aula, e apressadamente me sentei na mureta onde sempre costumava esperar minha mãe. Nem bem o azulejo da mureta esquentou sob meu corpo, meu celular vibrou. Era minha mãe, dizendo que se atrasaria um pouco, por volta de meia hora, mas que eu devia esperá-la na escola. Foi só pensar em minha súbita sorte, que até então ia bem, pra receber um evento azarado como resposta.
Suspirei profundamente, ainda observando a bagunça de alunos que se acumulavam na frente do colégio, e de repente vi Fe um pouco mais à frente caminhando em direção à rua, falando reservadamente ao celular e tão concentrado no que dizia que mal olhava para os lados. Andava apressado, como se não quisesse ser visto, e apesar de estranhar aquela atitude dele, preferi não chamá-lo. Podia ser algo sério, e de qualquer maneira eu daria um jeito de descobrir o que era no dia seguinte. Sem falar que, do jeito que eu estava, era melhor mesmo esperar até o dia seguinte para falar com ele.
Voltei a encarar os carros que entupiam a rua, com a falsa esperança de encontrar logo o Land Rover de mamãe. Novamente, meu olhar se perdeu em meio aos veículos barulhentos, viajando por algum lugar sombrio de meu subconsciente. Novamente, eu me peguei pensando nele. Em como aquilo tudo parecia tão errado, tão terrivelmente errado... Tão terrivelmente inevitável. Olhei na direção dos largos portões da escola, com um impulso teimosamente crescente dentro de mim, e quando me dei conta do que fazia, meus pés haviam me levado ao andar do laboratório de biologia.
O que eu estava fazendo ali? Eu tinha prometido a mim mesma que nunca mais me permitiria ficar sozinha com ele, nunca mais me deixaria levar por aqueles arrepios que a mera lembrança dele me causava... Então por que meus pés não conseguiam parar de me levar cada vez mais pra perto da porta do laboratório, impossíveis de serem detidos? Que poder era esse que acelerava meu coração, aguçava meus sentidos, me deixava doida pelo simples fato de tê-lo perto de mim?
Parei a alguns passos da primeira bancada, finalmente conseguindo controlar meus movimentos. Pena que foi um pouco tarde demais. Meus olhos aflitos pousaram em Rafael, sentado em sua cadeira. Como sempre, ele travava uma luta contra os inúmeros relatórios que abarrotavam sua pasta, com um cotovelo apoiado na mesa e a cabeça preguiçosamente apoiada na mão. Seus olhos inquietos estavam ainda mais sobrecarregados devido às sobrancelhas franzidas sobre eles, o que só o tornava ainda mais bonito. Os lábios levemente contraídos complementavam sua típica expressão de concentração, ou pelo menos de uma tentativa muito forte de obtê-la.
Minha respiração parou, a garganta secou, o coração acelerou, tudo ao mesmo tempo, assim que o vi, tão lindo e tão... Próximo. Bastavam alguns passos e eu podia tocá-lo, como eu tanto desejava desde o dia anterior. Minhas pernas tremiam de leve, com a adrenalina correndo desenfreada pelas veias, e quando o choque por vê-lo se dissipou, um suspiro tenso se apoderou de meus pulmões. Faltava muito pouco pra que eu perdesse a razão... Ou seja, estava mais do que na hora de sair dali.
Infelizmente, também já era tarde demais para isso. Mal eu me dei conta de que observá-lo estava ficando perigoso, e ele ergueu seu olhar pra mim, parecendo surpreso em me ver. Foi impossível desgrudar meus olhos dos dele, tão Castanhos e faiscantes na minha direção. Meu sangue borbulhava dentro de mim, eu quase podia sentir a euforia pinicando freneticamente nas paredes de minhas veias.
Rafael não disse nada, apenas semicerrou os olhos, tentando entender minha presença ali. Me senti totalmente patética, parada ali com cara de nada, e após alguns segundos buscando minha voz em algum lugar de minha garganta, gaguejei:
- D-desculpe, eu... Não sei o que vim fazer aqui.
Com a vergonha imensa que sentia transparecendo em minhas bochechas ferventes, desviei meu olhar do dele com esforço, tentando em vão dar nem que fosse um mísero passo na direção da porta. Mas antes que meus músculos rebeldes pudessem ser convencidos a me obedecer, ouvi sua voz confiante perguntar:
- Tem certeza de que não sabe?
Todos os meus esforços desceram pelo ralo, e minhas pernas se fincaram com ainda mais força no chão com a resposta dele. Quando voltei a encará-lo, vi que ele estava de pé, caminhando calmamente até mim com a expressão transbordando malícia, e gemi por dentro. Por que ele não podia simplesmente facilitar as coisas e me deixar ir embora?
- Não pensei que voltaria tão rápido, Santoni - Rafael disse enquanto andava, com a voz mais cordial agora, e um sorriso torto preencheu seus traços - Realmente, você não pára de me surpreender.
Perplexa com sua maneira de lidar com os fatos e sentindo uma certa raiva borbulhar dentro de mim pelas palavras vitoriosas dele, continuei imóvel enquanto ele fechava a porta do laboratório. Não satisfeito com aquele grau de privacidade, ele lentamente girou a chave na fechadura, fazendo o barulho da tranca enferrujada ecoar pelas paredes. Senti Rafael se virar para minhas costas, ficando praticamente colado em mim, e seu perfume invadiu suavemente meus pulmões, numa intensidade bem mais fraca do que a que eu gostaria. Bem mais fraco do que eu precisava.
- Eu acho que essa história de pedir desculpas toda hora tá ficando meio confusa - ele começou, colocando meus cabelos para um lado só e beijando lentamente as partes expostas de minha nuca e pescoço - Então eu estava pensando... Que tal arranjarmos um novo jeito de nos... Entendermos?
Meus olhos se fecharam pesadamente, como se os leves toques de seus lábios em minha pele tivessem o mesmo efeito de soníferos, que de alguma maneira só deixavam meu coração ainda mais acelerado. A respiração quente e fraca dele ao pé do meu ouvido estava me dopando, arrancando meus pés do chão e me levando às alturas. Ainda incapaz de dizer qualquer coisa, apenas o deixei continuar.
- Você me causou vários danos... Não só morais, mas também materiais, já que a minha BMW virou ferro velho por sua causa - Rafael sussurrou devagar, interrompendo-se entre algumas palavras pra seguir sua trilha de beijos até a minha orelha - Mas quero que saiba que não me importo com nada disso. Não sou o tipo de pessoa que guarda rancor.
A discreta rouquidão em sua voz ao pronunciar cada uma daquelas palavras, como se estivesse tão entorpecido como eu, só ajudou meu coração a se debater com mais força contra meus pulmões, provocando uma falta de ar ainda maior. Rafael envolveu minha cintura com suas mãos, desenhando seu formato até alcançar meus quadris num movimento tentador. Àquela altura eu já estava arrepiada da cabeça aos pés, sem fazer questão de esconder. Era até bom mesmo que ele soubesse que nada mais me importava naquele momento a não ser ele, e a inexplicável necessidade que eu tinha de tê-lo o mais próximo possível de mim para que toda a minha aflição sumisse.
Ele roçou a ponta de seu nariz no lóbulo de minha orelha, mordiscando a região lenta e torturantemente logo depois, e em meu último instante de sanidade, pude ouvi-lo soprar:
- Sorte sua.
Sem conseguir mais resistir, com o corpo todo tremendo de luxúria, eu me virei pra ele, agarrando seus cabelos com determinação e colando nossos lábios desesperadamente. Já esperando essa reação, Rafael continuou segurando firmemente meus quadris com uma mão e subindo a outra até minha nuca, retribuindo mais intensamente as carícias furiosas de minha língua com a sua. Senti que ele sorriu vitoriosamente durante o beijo, mas estava descontrolada demais pra formar uma opinião sobre o assunto.
Uma superfície vertical e dura se chocou contra minha região lombar, e só então eu percebi que ele tinha me prensado entre seu corpo e a bancada. Inconsciente de meus movimentos, me vi pegando impulso com as mãos espalmadas sobre o balcão, e logo em seguida sentando sobre ele. Sem perder tempo, Rafael se encaixou entre minhas pernas, declarando nitidamente que não pretendia se afastar de mim.
As mãos dele corriam livremente pelas minhas coxas e barriga, assim como as minhas exploravam seu tórax, abdômen e braços muito além de sarados. Vez ou outra ele sorria discretamente, parecendo maravilhado com seu feito. Eu, Isabella Santoni, totalmente entregue aos encantos de Rafael Vitti. Há algumas semanas atrás, isso me pareceria completamente insano. Hoje, a idéia parecia ainda mais absurda, mas de alguma maneira, extremamente necessária.
Os dedos ágeis dele começaram a passar mais tempo do que deveriam brincando com a barra da minha blusa, fazendo minha respiração falhar com ainda mais freqüência. Sentindo ondas de calor cada vez mais fortes percorrerem meu corpo a cada segundo, segurei suas mãos e as coloquei sobre meus seios sobre a blusa mesmo, totalmente fora de mim. Talvez assim ele sentisse a arritmia crítica que regia meu coração, e terminasse logo com aquela agonia insuportável urrando em meu interior.
Visivelmente surpreso com minha atitude insana, ele não demorou a explorar meu busto, fartando suas mãos em meus seios e demonstrando satisfação. Obrigada por meus atributos físicos decentes, papai do céu. E muito mais que obrigada pelos dele também. Meus movimentos involuntários e enlouquecidos continuaram, e só quando senti a pele quente de seu tórax contra meu peito nu, percebi que eu tinha arrancado não só a minha blusa, mas também a dele.
Nossa falta de ar era tão gritante que já não ofegávamos mais, soltávamos espécies de grunhidos desesperados por oxigênio, e ele pareceu decidir que era hora de seguir adiante. Ótimo, porque eu também pensei a mesma coisa. Rafael afastou apressadamente seus lábios dos meus e começou a se desfazer do resto das roupas que ainda usava. Sem nem me dar ao trabalho de me levantar, fiz o mesmo, e em tempo recorde, já estávamos grudados de novo, sem nenhum tecido nos atrapalhando.
Rafael me beijou por alguns segundos, insanamente descontrolado por me ver nua, mas logo deu um jeito de livrar seus lábios dos meus pra resolver um assunto importantíssimo: abrir a embalagem do preservativo que ele tinha tirado da carteira, guardada no bolso traseiro da calça. Enquanto eu agarrava a maior quantidade possível de cabelo dele, suspeitando até de que tinha arrancado alguns fios, e beijava seu pescoço cheiroso sem a menor vergonha, ele colocou a camisinha, provavelmente acostumado a fazer isso com garotas penduradas nele. Mas eu não me importava de estar sendo só mais uma dentre as várias alunas que ele já havia pegado, seria a primeira e última vez mesmo. Era apenas uma irresistível e momentânea atração física, e jamais passaria disso.
Precauções tomadas, ele voltou a me beijar, faminto graças aos meus talentos para lidar com pescoços perfumados, e eu acariciei firmemente seus quadris, dedilhando suas "entradas" deliciosas. Escorreguei minhas mãos um pouco mais para baixo e para a parte de trás, e me surpreendi com o relevo que encontrei. Eu me lembrava de ter observado aquela bunda (sem querer!) antes, mas não imaginei que no quesito tato ela pudesse ser tão melhor.
Rafael apertou minha cintura com firmeza, e sem nem me dar tempo de assimilar o que pretendia, ele me invadiu, me fazendo pensar por um momento que me rasgaria por dentro. A força com a qual ele investiu, somada ao efeito único que seu corpo tinha no meu e ao nítido tesão em sua expressão fechada, me causaram uma sensação que eu jamais tive com nenhum outro homem. A maneira como ele continuava investindo, incessantemente firme, enquanto soltava ruidosamente o ar em meu ouvido, me faziam retorcer os dedinhos dos pés e agarrar seus ombros como se eu dependesse daquela força pra viver. Meu corpo todo estava tenso, sobrecarregado de prazer, e ainda assim ansioso por mais.
Ele dava leves selinhos na curva entre meu pescoço e meu ombro de vez em quando, provocando choques elétricos a cada vez que seus lábios tocavam minha pele. Qualquer contato entre nossos corpos provocava essa sensação, e agora eu podia afirmar que a eletricidade entre nós poderia abastecer uma cidade inteira. Nunca na minha vida eu pensei que fosse gostar tanto daquela maneira rude, quase dolorosa, mas agora eu podia entender por que algumas pessoas não conseguiam viver sem aquilo. Era sem dúvida a sensação mais viciante do mundo.
Após alguns minutos me adaptando à coisa mais prazerosa que eu já tinha experimentado na vida, recuperei meus movimentos, e logo voltei a perder o controle sobre eles. Meus lábios grudaram em seu pescoço úmido de suor como se eu fosse uma sanguessuga, dando chupões que provavelmente deixariam marcas, e minhas mãos trêmulas contornavam seus ombros tensos e maravilhosos, isso quando não estavam percorrendo o resto de pele alcançável dele. É normal um cara suar morango com champanhe ou seria uma alucinação da minha cabeça?
Quando já tinha perdido a conta de quantos orgasmos ele já tinha me causado, o cansaço começou a me dominar. Lutando contra a exaustão que teimava em querer interromper aquela sensação incrível que o corpo dele provocava em mim, joguei a cabeça pra trás, segurando seus cabelos entre meus dedos enquanto ele beijava intensamente meu pescoço e colo. Sem sucesso algum em me manter firme, voltei a deixar minha cabeça na posição normal após algum tempo, procurando os lábios dele na tentativa de afastar aquele cansaço mais do que inconveniente. Rafael conseguiu me reanimar com seu beijo provocante, até soltar um gemido rouco rente aos meus lábios e finalmente gozar, também esgotado.
Abracei seu pescoço devagar, me sentindo um pouco tonta, e apoiei minha testa em seu ombro. Respirei por alguns segundos, de olhos fechados, tentando colocar um pouco de ar em meus pulmões, mas meus músculos ainda pareciam contraídos demais pra permitir isso. Senti as mãos de Rafael acariciarem minha cintura e minhas costas lentamente, e ele de leve depositou um selinho demorado e gostoso em meu pescoço.
- Quando eu apenas imaginava como seria te ter, você já era meu vício - ele sussurrou, arrepiando meus cabelos da nuca com seu hálito quente - Agora que eu realmente te tenho... Não vou conseguir te tirar da cabeça.
Abri os olhos com cuidado, e agradeci por não estar mais tonta. O oxigênio já fluía mais tranquilamente por minhas vias respiratórias, e meu corpo parecia mais relaxado. Ergui minha cabeça sem pressa até conseguir olhar pra ele, e sua expressão demonstrava um deslumbre retraído, intrigado. Era como se eu fosse algo ainda a ser desvendado, algo que ele não conseguia compreender. Apesar de meu rosto só demonstrar cansaço, Rafael também tinha um significado incompreensível pra mim, ainda mais depois de tudo aquilo.
Fechei meus olhos novamente, sem agüentar encarar aquele brilho ofuscante no olhar dele por muito tempo. Meu coração precisaria de algum tempo pra se recuperar, e olhá-lo tão de perto nos olhos era suicídio. Respirei fundo, e quando estava prestes a abrir os olhos novamente, senti os lábios dele nos meus, daquele jeito que não me dava outra escolha a não ser corresponder. Não porque ele não me dava chance de escapar, mas porque meu corpo o correspondia sozinho, sem nem pedir autorização. Uma de suas mãos envolveu um lado de meu rosto, e a outra me abraçou pela cintura de um jeito reconfortante.
Alguns segundos perdida naquele beijo e um turbilhão de memórias passaram pela minha cabeça.
Fe.
Por Deus, o que eu estava fazendo ali outra vez?
- Pára, Vitti - soprei, afastando-o com esforço pelo peito com a expressão vagamente alarmada - Eu tenho que ir.
Rafael me encarou por pouco tempo, indo da confusão à resignação em poucos segundos. Me deixou levantar, dando as costas para mim enquanto caçava suas roupas, e eu não ousei olhá-lo outra vez, por mais que meus olhos teimosos estivessem diante do fato de que ele sem roupa era ainda mais atraente do que quando estava vestido. Fiz o mesmo que ele, me vestindo rapidamente e ainda cambaleando algumas vezes. Quando terminei, me virei em sua direção, mas ainda sem coragem de olhar diretamente em seus olhos.
Rafael já estava com sua blusa grafite, sua calça jeans escura e seus tênis perfeitamente brancos. Com menos roupas pra vestir do que eu, ele já tinha tido tempo pra arrumar o cabelo, despreocupadamente bagunçado do jeito de sempre, enquanto eu ainda procurava um elástico nos bolsos de minha calça pra prender o meu. Com o calor que eu ainda sentia, quanto menos coisas me abafando, melhor.
Quando meu cabelo já estava decentemente preso num rabo de cavalo alto, eu o encarei, mordendo meu lábio inferior um pouco dormente. Rafael estava com as mãos nos bolsos a poucos passos de mim, e seus olhos me instigavam a falar alguma coisa, mesmo que ele não tivesse emitido um som sequer.
- Isso... Isso foi... Isso foi extremamente... Errado - gaguejei, abrindo e fechando a boca sem dizer nada por várias vezes entre as palavras - E não vai acontecer de novo. Definitivamente não.
Ele continuou me encarando, sem expressão a não ser pela intensidade de seu olhar, e alguns segundos depois, um sorriso se formou em seus lábios avermelhados. Um sorriso convencido, nem um pouco preocupado com o ponto final taxativo que eu havia dado naquela situação.
- Que progresso - ele murmurou, erguendo as sobrancelhas por um momento em tom de surpresa - Hoje você preferiu falar alguma coisa a sair correndo com cara de horror. Isso aumenta bastante minhas esperanças.
Meu olhar estremeceu rapidamente quando ouvi sua voz carregada de prepotência. Por algum motivo, ele tinha certeza de que aquilo aconteceria novamente. E de alguma forma, eu não me sentia totalmente firme para contrariá-lo. Minhas pernas ainda não tinham parado de tremer, e as sensações que ele tinha me provocado estavam bem frescas em minha memória.
- Você não ouviu o que eu disse? - perguntei, tentando evitar que minha voz falhasse, mas foi totalmente em vão - Não vai acontecer de novo. Eu odeio você.
Dizer as últimas três palavras não foi tão convincente como costumava ser antes. Eu não sentia nenhum tipo de afeto por ele, mas odiar parecia não descrever exatamente o que ele representava pra mim. Era algo mais... Indescritível, talvez.
- Claro que ouvi - Rafael respondeu, irônico, assentindo uma vez e erguendo uma sobrancelha de um jeito que o deixava ainda mais sensual - Pude ler essas mesmas palavras escritas na sua testa ontem, com a mesma firmeza impressionante. E olha só que coisa, você está aqui hoje. De novo.
Engoli em seco, com a respiração levemente ofegante. As contradições dentro de mim estavam me deixando tonta novamente, mas eu me mantive firme, mesmo quando ele deu um passo na minha direção. Tudo bem, quando ele deu o segundo passo, eu comecei a ter leves vertigens, e só não caí quando ele resumiu a distância entre nós a poucos centímetros porque ele me sustentava, com seus dedos fortes ao redor de meus braços. Nossos olhares estavam magnetizados, conectados invisivelmente, e só se desviaram um do outro quando ele acariciou minha bochecha com a sua e murmurou em meu ouvido, com aquela voz irresistível:
- Vou esperar ansiosamente pela sua próxima visita.
Rafael se afastou novamente, com um sorriso de canto nos lábios, e assim que suas mãos me soltaram, pensei que fosse desmaiar. Mas após alguns segundos reunindo forças pra me manter de pé, fiz a única coisa que me ocorreu: saí correndo do laboratório, destrancando a porta com dificuldade, e quase caindo ao descer os degraus das escadas.
Ele estava errado. Eu não voltaria mais. Eu nunca mais me permitiria voltar àquele laboratório, mesmo que meu corpo gritasse pelo dele. Mesmo que meu corpo implorasse pra ter o que só ele conseguia me dar.

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