Não me procure mais

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Capítulo 27


- Você vai me contar tudo! – exclamei, assim que pus meus olhos em Bruna na manhã de segunda-feira. Seu sorriso de orelha a orelha denunciava que as coisas com Ewan excederam expectativas, o que só me rasgava meu rosto num sorriso igual ou até maior que o dela.
- Claro que vou, você acha que eu agüento guardar tudo só pra mim? – ela riu, me abraçando quando cheguei perto dela – Acho que nunca estive tão feliz!
- Como é bom ouvir isso! – sorri sincera, retribuindo seu abraço – Eu sei bem o quão chateados vocês dois ficaram quando tiveram que se separar.
- O que não vai acontecer de novo tão cedo! – ela disse, desfazendo o abraço e me olhando com uma animação enorme – Ele me disse que a família vai voltar pra Londres, parece que precisam mais do pai dele na filial daqui, por ser bem maior que a de Oxford e tudo o mais... Resumindo, tudo vai voltar a ser como era antes!
- Então vocês voltaram, é isso? – perguntei, antes de comemorar de verdade, e ela assentiu, mal conseguindo sustentar o tamanho de seu sorriso.
- Ele até vai passar aqui hoje na saída pra me levar pra conhecer seu apartamento novo! – Bru guinchou, quando eu a abracei outra vez – E disse que tá morrendo de saudade de você também.
- Ah, que bom que aquele viadinho não se esqueceu de mim! – eu ri, me afastando e recebendo um beliscão dela, mas logo meu sorriso se desfez quando meus olhos encontraram um moletom verde musgo chegando à escola. Meu coração revirou dentro do peito, meu estômago se contorceu de nervoso, minha respiração falhou, tudo ao mesmo tempo. Além de todos aqueles sentimentos que sua ligação me causara na noite passada voltarem com o triplo de intensidade, havia outro pulsando com eles. Saudade. Muita saudade.
- Pelo visto, ele já voltou ao normal – Bruna comentou, acompanhando-o com o olhar também conforme ele se aproximava cada vez mais – Quer dizer, pelo menos ele não está mais rosa.
- É – respondi vagamente, sorrindo assim que os olhos Castanhos escuros dele encontraram os meus, e me segurei muito pra não correr até ele e me enterrar em seu abraço. Provavelmente, para chorar até desidratar, se eu pudesse.
- Muito bom dia, meninas! – Fe disse, passando por nós e estendendo ainda mais seu sorriso ao se aproximar – Te vejo no intervalo, Santoni?
- Claro – murmurei, sorrindo fraco, e ele assentiu discretamente antes de entrar no prédio.
- Seus pervertidos – Bruna riu, e eu só não lhe dei um soquinho no braço porque estava perturbada demais – Ficam combinando suas rapidinhas na minha frente, eca.
Suspirei, lutando para voltar ao meu estado controlado, e engoli toda a maré de sentimentos que havia me preenchido.
- Cala a boca – falei, fingindo indiferença e pensando em qualquer meio de mudar de assunto – Quer mesmo que eu mencione o dia em que ajudei o Ewan a escolher sua fantasia de enfermeira para comemorar os dois anos de namoro?
Ela sempre ficava roxa de vergonha e desistia imediatamente de caçoar de mim toda vez que eu citava esse fato. E foi exatamente por isso que eu o citei.
- Seu idiota! – uma voz esganiçada gritou, vinda da sala dos professores, e nós nos viramos rapidamente, assim como o resto dos alunos no pátio, para ver o que estava acontecendo. Não sei por que me surpreendi ao ver Kelly Smithers batendo com sua mochila em Rafa, e seguindo-o conforme ele caminhava tranqüilamente até a entrada do bloco, parecendo alheio a qualquer agressão.
- Você vai me pagar por isso, ouviu bem? – ela esbravejava, vermelha de raiva e com os olhos prestes a saltar de suas órbitas - Eu ainda vou fazer você se arrepender de ter nascido, seu imbecil! Eu te odeio! Odeio!
- Oi, Santoni – Rafa disse calmamente ao passar por mim, como se fosse absolutamente normal ele me cumprimentar, e ainda por cima, com uma biscate nervosinha em seu encalço.
- O... Oi – gaguejei, completamente surpresa e atordoada, pelo fato de Rafa ter falado comigo tão espontaneamente, e porque seu casaco de moletom azul, sua calça jeans e seu All Star, ambos pretos, me deixaram um pouco desnorteada. Seus olhos estavam cobertos por um Ray Ban que parecia ter sido meticulosamente desenhado para estar em seu rosto (provavelmente para disfarçar suas olheiras, as quais eu também ocultei com um pouco de maquiagem), e ele fazia umas caretas de vez em quando, como se a Smithers estivesse atirando sua mochila bem nos locais doloridos devido à sua queda de minha janela.
Ao ouvi-lo me cumprimentar, Kelly paralisou na minha frente, enquanto ele continuou seu trajeto, e me encarou com indignação, voltando a correr atrás dele e a espancá-lo com sua bolsa. Digamos que o alvo de sua ira havia mudado um pouco, passando a envolver a piranha da Santoni em seus argumentos.
- OK, vamos ver se eu entendi – Bru falou, observando-o se afastar e levar a gritaria ambulante consigo – Rafael Vitti acabou de te cumprimentar ou eu estou ficando louca? Quer dizer... O que exatamente eu perdi?
- Nada, oras – dei de ombros, como se não o tivesse visto há cerca de vinte e quatro horas (nu) – Você sabe que ele é doido, deve ter cheirado gatinhos demais e decidiu me dar oi assim, do nada.
Ela ergueu uma sobrancelha, desconfiada, e eu mantive minha expressão inocente, até que ela se deu por convencida.
- Tô de olho em você, viu, Santoni? – ela avisou, e o sinal tocou logo em seguida, abafando meu riso um pouco tenso. Ter Bruna Hamu, a reencarnação de Sherlock Holmes, na minha cola não era exatamente um fator tranqüilizante.

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