Não disse em momento algum que te levaria pra sua casa

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Capítulo 14

- Mãe?
- Oi, amor... Por que você tá me ligando a essa hora? Aconteceu alguma coisa?
- É que... Eu não tô me sentindo muito bem.
Seria a desculpa perfeita, pelo menos pra mim era. Meu estômago revirava a cada pessoa que entrava em meu campo de visão, num sinal físico de pânico. Eu não estava em condições de ficar na escola por mais um minuto sequer, por isso estava fingindo um mal estar dos brabos. A palidez e o suor frio, junto com as olheiras de quem mal tinha dormido na noite anterior serviram pra alguma coisa que não fosse me deixar ainda mais horrorosa do que eu já era. Enquanto eu falava com mamãe no telefone da secretaria, a moça responsável pelas dispensas da escola me olhava com aflição, como se eu estivesse a ponto de vomitar nela. O que não estava tão distante da realidade, já que eu podia jurar que estava meio verde.
- O que você tá sentindo? - mamãe perguntou, preocupada com o meu tom de voz rouco, e eu engoli a vontade de gritar pra que ela parasse de fazer perguntas e simplesmente viesse me buscar.
- Não sei, tô meio tonta e enjoada... Vem me buscar - foi tudo que consegui responder, e de repente, um ser vinho parou bem ao meu lado no balcão da secretaria, colocando uma pasta cheia de papéis em cima dele sem a menor delicadeza.
- Por hoje é só, Lizzie - ele sorriu, todo moleque, para a moça à nossa frente, e arrumou a mochila sobre um ombro, dando meia volta e passando por trás de mim em direção à porta de saída. Pude jurar que ele levou o dobro de tempo necessário pra fazer isso, já que seu perfume infestou em peso o ambiente, me deixando ainda mais tonta.
- Isabella? Você tá me ouvindo? - mamãe disse, como se não fosse a primeira vez que perguntasse isso, e eu descobri que suas palavras foram apenas ruídos enquanto Rafael estava perto. Prestar atenção em mais de uma coisa não estava sendo fácil pra mim hoje.
- Desculpe, mãe, o que você tava dizendo mesmo? - gaguejei, esfregando minha testa energicamente com a mão livre.
- Eu disse que não posso ir te buscar agora, estou na sala de espera pra fazer um exame - ela repetiu, pausadamente - Se preferir esperar, dentro de mais ou menos uma hora eu passo aí, mas se quiser ir embora, pegue um táxi e me ligue quando chegar. Use aquele dinheirinho que eu te dei pra casos de emergência, tá bem?
Falou certo, mãe. Emergência.
- Tá - respondi, desligando sem nem esperar resposta, e sorri fraco pra tal de Lizzie, que devolveu meu sorriso com alívio enquanto pegava a pasta que o Vitti tinha deixado com ela. Deixei a secretaria às pressas e só parei quando cheguei à calçada em frente ao colégio. Olhei em volta, pensando na maneira mais fácil e rápida de encontrar um táxi, e vi alguém parar ao meu lado.
- Lindo dia, não? - a voz sacana de Rafael murmurou, me fazendo quase pular de susto com sua presença repentina. Não sei se já disse isso antes, mas eu me odeio. Não existe ninguém que eu odeie mais nesse mundo que eu mesma, nem mesmo a forte concorrência chega perto de mudar minha opinião.
Ignorei o comentário dele sobre o céu cinza e carregado, e respirei fundo, tentando acalmar a tremedeira em minhas pernas para poder ir embora dali logo. Não preciso nem dizer que ele recomeçou a falar, certo?
- Dias assim me lembram você - ele suspirou num falso tom romântico, e eu fingi que não estava ouvindo o urro de incômodo dentro de mim - Ranzinza, sombrio, cheio de tempestades... Mas que depois dá lugar ao sol mais quente que existe.
Fechei os olhos, começando a ficar ofegante pela provocação descarada. A metáfora estava claríssima, e eu não estava conseguindo mais respirar direito. Concentrada em normalizar meus batimentos cardíacos, finalmente tomei coragem de revidar.
- O que você quer? - rosnei entre dentes, encarando nervosamente o lado oposto ao dele, que soltou um risinho de contentamento.
- Eu? - ele respondeu, irônico - Eu não quero nada, já dei todas as aulas do dia... O que mais um professor pode querer? Agora você tá doida pra ir embora, pelo que me parece.
Bufei, com os braços cruzados bem apertados na altura do peito e as mãos fortemente fechadas em punhos.
- Não te interessa - resmunguei, agoniada com minha incapacidade de mandar oxigênio para meus pulmões - Ainda não deu pra notar que eu não quero falar com você?
- Tudo bem, eu não pretendia falar mesmo - Rafael retrucou, com humor na voz - Existem coisas bem mais interessantes que falar.
Por mais freqüente que isso fosse, acho que eu nunca tive tanta vontade de socar Rafael como naquele momento. Por isso, nem me importei por estar no meio da rua, tão perto de pessoas que não deveriam ver aquela cena, e meti a mão na cara dele. Bom, pelo menos eu tentei.
Droga, o que ele tinha feito ultimamente, treinado reflexos? Por que ele tinha que estar tão mais rápido a ponto de eu não conseguir mais bater nele? Fechei os olhos, frustrada, quando senti os dedos fortes dele se fecharem contra meu pulso, a poucos centímetros de seu rosto.
- Sabe qual é o seu problema? - ele sorriu calmamente pra mim, como se não estivesse falando com alguém que pretendia arrancar dolorosamente todos os dentes dele se tivesse a chance - Você tem pressa demais. Não sabe esperar.
- Me solta - pedi, encarando-o com repulsa, e seus olhos penetrantes me deixaram tonta por um momento - Eu quero ir embora.
- Então me deixe terminar de falar, estressadinha - Rafael falou, erguendo as sobrancelhas em tom de superioridade, e eu bufei novamente, sem poder fazer nada a não ser ouvi-lo - Antes da sua tentativa inútil e infantil de me bater, eu ia te oferecer uma carona, mas agora que eu percebi a sua empolgação pra ir embora, eu retiro minha oferta...
- Ótimo - grunhi, sorrindo sarcasticamente com a idéia de aceitar uma carona dele. Mas meu sorriso logo desapareceu quando ele terminou a frase:
- E a substituo por uma exigência.
Franzi a testa, inconformada com aquele absurdo. Quem ele pensava que era pra exigir alguma coisa de mim?
- Escuta aqui, seu idiota - comecei, sem nem ligar por estar falando mais alto que o aconselhável - Eu não suporto que uma pessoa asquerosa como você me dirija a palavra, ouviu bem? Vê se me esquece, eu te odeio! Só você não se tocou disso ainda!
- Se você não vier comigo agora, garota, eu entro nessa porra desse colégio e conto tudo que aconteceu ontem pro Simas - Rafael murmurou, com os olhos cravados nos meus de um jeito intimidador - E ainda por cima, no mesmo volume que você tá usando pra falar comigo, pra que não só ele, mas todo mundo ouça o que a gente andou aprontando.
Esqueci como se respirava com aquela ameaça. Eu não conseguia suportar nem a mera hipótese de Fe saber sobre meu deslize, e agora com Rafael me confrontando daquele jeito, tudo parecia muito mais possível de acontecer. E eu sabia que não podia me arriscar de maneira alguma, mas mesmo assim, tentei.
- Ninguém acreditaria em você - gaguejei, esboçando um risinho desdenhoso, que nem foi páreo para o dele, tranqüilo e seguro de si. Ele sabia o quanto Fe valia pra mim, sabia que uma hora ou outra, eu desistiria e cairia em sua armadilha.
- Bom... Isso é uma possibilidade - ele concordou, sem demonstrar um pingo de preocupação quanto ao meu blefe - Quer pagar pra ver?
Continuei encarando os olhos Castanhos dele, com os pensamentos a mil. Por mais que eu me esforçasse pra pensar numa outra saída, nada me ocorria a não ser obedecê-lo. Havia coisas demais a perder naquela chantagem, e eu não podia depender de possibilidades.
Desviei meu olhar dele pro chão, completamente derrotada, e soltei o ar preso em meus pulmões, declarando minha desistência. Rafael não precisou de palavras pra entender, e finalmente soltou meu pulso, transformando sua expressão maléfica em um sorriso vitorioso.
- Boa menina - ele sussurrou, virando-se na direção da rua - Vamos.
Olhei rapidamente para os lados, me certificando de que não havia ninguém que pudesse nos flagrar, e não encontrei nada. Completamente contrariada, eu segui Rafael até o outro lado da rua, e esperei até que ele colocasse sua mochila no compartimento de bagagem de sua moto e retirasse dali um segundo capacete, já que o primeiro estava numa de suas mãos desde o começo.
- Tá esperando o que parada aí? - ele perguntou, rindo da minha cara, quando tudo que faltava para irmos embora era eu subir na moto. Nem preciso dizer que cada pedacinho de mim estava relutante a fazer isso (bom, pelo menos a maior parte). Fora o fato de que eu odiava capacetes, eles me davam dor de cabeça. Não que eu já tivesse usado capacetes várias vezes, nunca andei de moto na vida e nem pretendia. Mas pra tudo havia uma primeira vez, certo? Eu que o diga.
Sentei na garupa bem atrás dele, e procurei alguma forma de me manter na moto quando ela estivesse em movimento que não envolvesse contato físico com ele. Mas com uma mochila cheia de livros nas costas, isso seria ainda mais complicado.
- Melhor se segurar - ele avisou, ainda se divertindo com a minha desgraça, e ameaçou acelerar com a moto, dando um leve tranco e me fazendo agarrá-lo na hora. O que só o fez rir mais.
- Assim está ótimo - foi a última coisa que o ouvi dizer, porque logo depois o ronco ensurdecedor do motor preencheu meus ouvidos e ele arrancou furiosamente. Fechei os olhos, assustada com a velocidade e a falta de proteção, e involuntariamente o abracei com mais força, de alguma forma empurrando aquele perfume cada vez mais pra dentro dos meus pulmões e me fazendo sentir intoxicada.
Abri meus olhos, num súbito ato de coragem, e tudo que vi foram borrões coloridos. O vento forte me fazia piscar de meio em meio segundo, me deixando tonta e enjoada novamente, e eu preferi fechar os olhos definitivamente. A cada curva, eu esmagava as costelas de Rafael, que parecia não se importar, e até se divertir com a minha insegurança. Definitivamente, ele era o cara mais sadomasoquista que existia na Terra.
Não sei dizer exatamente por quantos minutos ficamos andando naquela coisa, até que ele reduziu a velocidade e com uma curva, subiu na calçada. Mesmo sem olhá-lo, percebi que ele virou a cabeça pro lado, o que era o máximo de movimento que ele podia fazer pra falar comigo, e riu ao me ver toda tensa.
- Você se acostuma à velocidade com o passar do tempo - ele sorriu, com aquele ar divertido que estava me dando nos nervos, e apesar de estarmos parados, eu não consegui desfazer o forte aperto de meus braços ao redor dele. E fiz bem, porque logo ele acelerou novamente, me fazendo abrir os olhos e dar de cara com uma garagem levemente familiar.
- Onde estamos? - consegui perguntar, observando os vários carros importados estacionados lado a lado passando rapidamente por nós, e senti uma pontada de pânico. Por favor, Deus, ele não tinha feito isso.
Rafael não respondeu, apenas estacionou a moto numa vaga que ficava ao lado de uma Ferrari vermelha e de um Porsche prata. Que antes dava lugar a uma BMW preta, provavelmente situada num ferro velho a essa hora, após sua colisão com um poste. Ele tinha mesmo feito isso.
- Por que você me trouxe aqui? - exclamei, com a voz mais alta agora, enquanto ele desligava a moto - Que tipo de problemático você é?
- Eu falei que ia te dar uma carona - Rafael finalmente disse, tirando o capacete com cara de tédio, e virou o rosto pra me olhar de lado - Mas não disse em momento algum que te levaria pra sua casa.
Senti meu sangue esquentar dentro das veias, sem saber direito se era de pânico ou de raiva. Onde eu estava com a cabeça pra me envolver com ele?
- SEU IDIOTA! ME LEVA PRA CASA AGORA! AGORA! - gritei, me aproveitando de sua posição desfavorecedora e estapeando suas costas sem dó - EU NUNCA MAIS QUERO OLHAR NA SUA CARA, SEU SAFADO SEM VERGONHA!
Parecendo nem sentir os tapas e socos que eu lhe dava, ele se levantou, sem cerimônia, e começou a caminhar calmamente até o elevador da garagem, ativando o alarme da moto pelo caminho. Eu continuei imóvel, até me dar conta de que ele realmente não voltaria pra me levar pra casa, e sem a menor intenção de ficar presa ali, eu corri atrás dele, me desfazendo de qualquer jeito do capacete no trajeto.
- AH, É, NÃO VAI ME LEVAR? - urrei, andando energicamente atrás dele, que estava a alguns passos de distância de mim, quase alcançando o elevador - ÓTIMO! EU VOU ANDANDO!
Rafael soltou uma gargalhada e parou bem à porta do elevador, só então se virando pra mim.
- Você vai morrer antes de sequer chegar no seu bairro. Ou de cansaço, ou atingida por um raio com a chuva que vai cair daqui a pouco.
- EU NÃO LIGO! - berrei, parando de andar a poucos metros dele, totalmente irada - QUALQUER COISA É MELHOR DO QUE FICAR MAIS UM SEGUNDO PERTO DE VOCÊ!
Continuei andando na direção da saída da garagem, e ignorei a trovoada monstruosa que estremeceu o chão. Quando já estava a poucos passos da saída, que graças a Deus não era muito longe do elevador, ouvi passos rápidos atrás de mim, e acelerei meu ritmo. Totalmente em vão.
- O QUE É ISSO? - gritei, quando senti os braços de Rafael envolverem minhas pernas e me levantarem do chão - ME LARGA!
Eu estava praticamente pendurada em seu ombro, sentindo-o segurar minhas pernas com um braço só, e com meu tronco caindo pelas costas dele. Enquanto ele voltava a andar na direção do elevador, como se estivesse carregando uma pluma e não uma pessoa revoltada, eu voltei a espancá-lo, socando-o com toda a força que eu consegui. Meus cabelos se enroscavam em meus braços, formando nós que eu sabia que não conseguiria desfazer tão facilmente, mas aquilo pouco me importava.
Ignorando totalmente meus gritos e minhas agressões, Rafael continuou me levando até o elevador, que nos esperava com a porta automática aberta. Assim que passamos, ele apertou o botão do vigésimo terceiro andar, que nos levaria ao seu apartamento. Mesmo dentro do elevador, ele não me soltou, e eu parti pras ameaças concretas, desesperada.
- ME LARGA OU ENTÃO EU GRITO PRA TODOS OS ANDARES OUVIREM!
- Os apartamentos têm proteção acústica, mas vai ser engraçado te ouvir tentar - ele sorriu, sem tremer na base nem um pouco. Mas tudo bem, eu ainda tinha argumentos.
- ENTÃO EU VOU TE PROCESSAR ASSIM QUE CONSEGUIR OS VÍDEOS DO CIRCUITO INTERNO DAS CÂMERAS DESSE PRÉDIO!
- Tudo bem, eu suborno quem tiver que subornar. Tenho dinheiro pra bancar todas as suas tentativas baratas de me prejudicar.
- AAAAAAAH! - berrei, socando-o com mais força e mais rápido - ME SOLTA SENÃO EU VOU ARRANCAR PEDAÇO DE VOCÊ, SEU VERME!
E inesperadamente, ele me pôs no chão, com um sorriso esperto. Antes que eu tivesse tempo de assimilar que estava com os pés no chão e já podia dar uma voadora nele, Rafael me prensou contra a parede do elevador de um jeito que me arrepiou inteira. Por que eu tive um déja-vu naquele exato momento?
- Agora parece que estamos entrando num acordo - ele murmurou, próximo o suficiente de mim a ponto de me fazer sentir sua respiração quente bater em meu rosto - Te deixo arrancar um pedaço meu se me deixar fazer o mesmo com você.
Levei alguns segundos pra compreender suas palavras, devido à proximidade perigosa entre nós. O sorriso pervertido em seus lábios já não parecia mais tão irritante, e os olhos dele, intensamente Castanhos, não conseguiam se decidir entre os meus olhos e minha boca.
- Eu nunc... - comecei a protestar, com a voz falha, mas não consegui terminar. Rafael grudou seus lábios macios nos meus, fazendo meu corpo inteiro formigar descontroladamente. Soltei um gemido involuntário quando nossas línguas se encontraram, e só então me lembrei de como era maravilhoso tê-lo tão perto de mim, ter suas mãos viajando sem limites pelo meu corpo, ter seu hálito de quem acabou de escovar os dentes misturado ao meu, sentir o calor de seus braços me envolvendo... De como era bom beijá-lo, abraçá-lo, embrenhar meus dedos em seus cabelos, deslizar minhas mãos por seus ombros sem a menor censura, sem o menor receio.
A cada segundo, aquele beijo se tornava mais profundo, como se estivéssemos doentes de saudade um do outro. O que não era mentira no meu caso, mesmo que inconscientemente. Quando ele se aproximava de mim daquele jeito, com aquelas intenções, num lugar onde ninguém poderia nos ver, era como se tudo à nossa volta sumisse. Só existia eu e ele. O resto era mero detalhe.
O elevador parou no 23º andar alguns segundos depois, mas nenhum de nós dois pareceu notar isso logo de cara. Levou algum tempo pra que Rafael cambaleasse pra fora do cubículo até cair deitado no espaçoso sofá, me puxando consigo. Ainda bem que naquele prédio, cada apartamento ocupava um andar inteiro, e não tivemos que passar por nenhum tipo de hall com várias portas de apartamentos ou algo do tipo. Não acho que ele conseguiria encontrar a chave certa para abrir a porta, por falta de concentração e porque eu não daria trégua pra que ele pensasse. Eu tinha plena consciência de que se parasse agora, não haveria jeito de recomeçar, e cada pedacinho de mim implorava pra que eu continuasse.
Totalmente ensandecida, eu encaixei uma perna de cada lado de seu quadril, sem nem me lembrar de como eu tinha chegado ali sem minha mochila. Rafael alisava desde minhas costas até minhas coxas, sem conseguir se fixar num lugar só. Eu agarrava seus cabelos da nuca com uma mão, e com a outra, explorava seu abdômen perfeitamente esculpido por debaixo de sua blusa vinho. Após alguns minutos, eu desci meus beijos por seu pescoço cheiroso, enquanto puxava sua blusa até a altura do peito. Não levei muito tempo pra vê-lo se desfazer da peça com rapidez, totalmente sob o meu comando.
Agora que ele estava sem camisa, o calor se tornava quase insuportável. Bastaram poucos minutos nos beijando pra que eu me sentasse sobre seu quadril e tirasse a blusa, vendo-o sorrir de um jeito maligno. Com a consciência desligada, eu voltei a avançar em seus lábios, enquanto ele trabalhava sorrateiramente em meu zíper. Quando conseguiu cumprir sua parte, Rafael se sentou, puxando minhas coxas em sua direção e me encaixando entre suas pernas, e tirou minha calça, isso tudo sem interromper o beijo. Talvez o fato de que meus braços estavam agarrando seu pescoço nesse momento o ajudou nesse feito.
As mãos firmes e habilidosas de Rafael me seguravam pelas laterais de meu tronco, na altura do sutiã, e me puxavam pra mais perto dele, tornando o calor ainda maior. Aquele homem realmente era quente, no sentido literal da palavra. E depois ele me comparava ao sol. Mas eu não reclamei, pelo contrário, ajudei-o a nos aproximar ainda mais ao entrelaçar minhas pernas em seus quadris.
Me aproveitei do momento em que seus lábios grudaram feito ímãs em meu pescoço, e me convenci de que tirar a calça dele seria bem mais agradável que continuar bagunçando seu cabelo. Abri o botão e o zíper com relativa facilidade, e puxei sua calça na minha direção, simultaneamente sendo erguida de leve por ele, pra facilitar o processo de passar a calça por baixo de meu corpo. Impressionante como as coisas fluíam entre nós, por mais trêmula que eu estivesse e mesmo sem dizermos uma palavra sequer.
Quando ele me sentou sobre seu quadril novamente, senti seu significativo sinal de excitação, ainda mais significativo agora que o jeans grosso de sua calça não estava mais entre nós. Uma onda de calor percorreu minha espinha, e eu me tornei ainda mais agressiva, sem perceber. Rafael me deu uma mordidinha quase dolorida no lábio inferior, sorrindo com os olhos semi abertos, e logo depois eu senti meu sutiã afrouxar. Eu realmente tinha que tomar cuidado com as mãos dele, mal tinha percebido que elas se dirigiram para o fecho em minhas costas.
Joguei o sutiã longe, e Rafael voltou a colar nossos lábios com urgência, agarrando meus cabelos com uma mão e apertando meu seio com a outra. Ele puxava meu cabelo com cada vez mais força, conseguindo se controlar, mas eu já não era capaz de me manter em silêncio, gemia baixo com certa freqüência. Seu jeito de me beijar e me tocar eram torturantes, não dava pra agüentar por muito tempo.
Disposta a fazer o que estava se tornando inevitável, eu mesma tirei minha calcinha, enquanto ele diminuía o ritmo do beijo com um sorriso convencido. Assim que eu me dirigi às suas boxers, ele se deitou novamente, e eu fiz uma cara meio tonta de dúvida. Ele estava cansado ou algo do tipo?
- Pode continuar - ele ofegou, com a voz rouca, acariciando minhas coxas e provocando choques elétricos em minha pele - Faça o que quiser, tenho certeza de que vou gostar.
Franzi de leve a testa, sem entender direito, mas não havia tempo nem sanidade para discutir o significado daquela atitude, ainda mais com aquele corpo simplesmente perfeito bem ao meu alcance. Apenas fiz o que ele disse, e tirei suas boxers, olhando-o profundamente nos olhos. Rafael sorria pra mim de um jeito diferente, inédito... Quase gentil.
Alisei seu abdômen e tórax ofegante por um instante, sentindo cada relevo perfeitamente esculpido deslizar por baixo de minha pele, e ele continuou esperando, ainda acariciando minhas coxas. Seu tronco forte contrastava nitidamente com a fragilidade de minhas mãos espalmadas sobre ele.
Olhei pra Rafael rapidamente, sem muita vontade de sair dali, mas o fiz, por motivo de força maior. Me levantei depressa e peguei um preservativo no bolso de sua calça, enquanto ele se ajeitava no sofá, ficando mais confortável. Voltei ao meu lugar e coloquei a camisinha, levando um pouco mais de tempo que de costume devido à instabilidade de minhas mãos. Meu coração batia muito forte, ainda mais alto em relação ao silêncio do apartamento.
Rafael continuava me observando com interesse, e eu devolvi seu olhar, sem saber muito bem o que fazer. Quer dizer, eu sabia exatamente o que queria fazer, mas não sabia como. Todos os outros caras com quem já havia transado (e foram só três, contando com ele) sempre ficavam, erm, por cima, se é que você me entende. Eu nunca realmente fiquei no controle de nada, não naquelas horas. Me senti praticamente uma virgem.
Eu não disse nada, nem ele. Um sorriso de canto surgiu em seu rosto, e eu o senti segurando meus quadris devagar, como se tivesse medo de minha reação. Obviamente, apenas o deixei continuar, e ele nos encaixou com a mesma velocidade de antes, acelerando um pouco quando se certificou de que não me machucaria. Me apoiei em seus ombros, com o tronco tombado na horizontal acima do dele, e vi bem de perto sua expressão de prazer quando me penetrou. Acho que se não estivesse tão surpresa com o jeito dele, teria feito a mesma cara, porque foi difícil não gritar com a sensação entorpecente que ele me causara.
Rafael, que tinha fechado os olhos por um momento, voltou a abri-los, encarando os meus a uma distância de poucos centímetros. Eu ainda o olhava, dominada por um turbilhão de sentimentos novos, e ele não pareceu nem um pouco incomodado com isso. Pelo contrário, parecia estar contente por me deixar confusa daquele jeito. Aquele homem não era o mesmo de poucos minutos atrás, totalmente rude e idiota. Aquele homem era o Rafael de verdade, por baixo de todas as máscaras, todos os escudos, todas as farsas. Era um homem que, com o tempo, poderia se tornar alguém perigoso demais pro meu próprio bem... Se eu o deixasse se aproximar demais e ultrapassar os limites.
Voltei à minha posição ereta, seguindo algum tipo de instinto que não sei explicar, e o sorriso dele alargou, indicando que eu estava indo pelo caminho certo. Timidamente, comecei a me movimentar em cima dele, sempre com a assistência de suas mãos em meus quadris, e algum tempo depois, tudo já era muito natural. Nós tínhamos recuperado a espontaneidade de antes, sem vergonha um do outro, sem timidez. Não durou muito, porque nenhum de nós dois conseguiu se segurar por muito tempo naquela posição (que eu deduzi que não favorecia só a mim pelo volume dos gemidos dele), mas foi sem dúvida um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida.
Pela primeira vez, eu caí deitada sobre ele, respirando de um jeito quase bruto de tão ofegante. Rafael acariciou minhas costas de uma maneira reconfortante, e sem nem pensar no que estava fazendo, eu o abracei pelo pescoço, recebendo beijos perto da nuca que me causaram calafrios. Ele não estava ajudando em nada na recuperação de meu fôlego com aqueles agrados, ainda mais embrenhando seus dedos nos meus cabelos, mas nada que ele tenha feito naqueles minutos de descanso conseguiu fazer minha respiração parar como o que eu ouvi alguns minutos depois.
No começo, me perguntei se Rafael não tinha escutado, porque não mexeu um fio de cabelo, mas depois o som do ringtone de mamãe se tornou ensurdecedor, emanando de minha mochila, que estava jogada pelo caminho. Olhei pra ele, assustada, e ele lançou um breve olhar na direção do som.
- Posso te levar pra casa em quinze minutos - foi tudo que ele disse, sugestivo, e eu assenti, sem nem hesitar. Ele sorriu de um jeito esperto e fez um aceno de cabeça pra que eu atendesse o celular. Me levantei, caçando minha calcinha pelo caminho, e ele sumiu pelo apartamento.
- Oi, mãe - atendi, segurando o celular no ombro enquanto corria pela sala recolhendo minhas roupas - Desculpa não ter te ligado, esqueci de avisar que já cheguei em casa.
- Ah, tudo bem, era só pra avisar que a fila de espera está grande aqui, e eu ainda não fiz o exame... Que bom que você já está em casa, fico mais tranqüila. Ainda se sente mal?
- Não, melhorei um pouco - menti, me sentindo a rainha da trapaça e terminando de fechar o zíper de minha calça - Tomei um comprimido pra dor de cabeça e vou tentar dormir.
- Faça isso mesmo, querida, logo esse mal estar passa - ela sorriu, e eu mordi o lábio inferior, arrependida por enganá-la - Chegarei em casa o mais rápido possível. Te amo.
- Eu também - murmurei, e desliguei logo em seguida.
- Tudo certo? - ouvi Rafael perguntar, já vestido, surgindo do corredor, e eu assenti, vestindo rapidamente minha blusa, que era a única peça que faltava. Nunca me vesti tão rápido em toda a minha vida, me senti praticamente uma ninja.
- Então vamos - ele disse, chamando o elevador, e eu parei ao seu lado, colocando a mochila de um jeito desajeitado por causa de minha tremedeira persistente.
Durante a descida até a garagem, nenhum de nós disse uma palavra, nem sequer nos olhamos. Toda a intimidade de antes pareceu evaporar, sendo substituída pela frieza e vergonha. Ambos mostramos lados de nós mesmos que mal sabíamos que podíamos mostrar, e o medo da reação do outro era maior que qualquer coisa naquele momento.
Caminhamos ainda em silêncio pela garagem, e quando ele estava prestes a apertar o botão do alarme de um dos três controles em seu chaveiro, eu escolhi como queria ir pra casa, sem nem pedir permissão.
- Você disse que as pessoas se acostumam à velocidade com o passar do tempo - murmurei, sem muita coragem de olhá-lo, enquanto me sentava na moto - Eu gostaria de testar a sua teoria.
Rafael piscou algumas vezes, sem entender, e logo depois deu um fraco sorriso desconfiado. Eu não devolvi seu sorriso, tensa demais pra me mexer, e ele não me contrariou. Sentou-se na moto à minha frente, me dando um capacete e colocando o outro, e antes de dar a partida, ele falou, num tom baixo:
- Melhor se segurar.
Respirei fundo, soltando pesadamente o ar logo depois, e o abracei apertado, pronta pra mais uma dose de seu perfume viciante, e mais uma jornada de curvas aterrorizantes pelas ruas. Mas eu não me importava com o perigo. Porque, de uns tempos pra cá, estar com Rafael era bastante seguro. Maravilhosamente seguro.

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