13. Rei, rainha e peão

2.1K 187 83
                                    

Olívia tinha cedido a Elric um dos principais aposentos do palacete, convenientemente ao lado do seu próprio quarto, mas graças à chuva, não foi difícil conseguir escalar pela lateral da construção e voltar ao quarto sem sermos vistos. A forma como Elric foi preciso e rápido em fazer tudo mostrava que ele tinha certa experiência em fugir de lugares pela janela e fiquei imaginando se foi isso o que ele fez no dia em que nos vimos pela primeira vez.

— Então o quarto de um príncipe é assim? — Falei olhando ao redor.

A lareira estava acesa e deixava todo o lugar gloriosamente quente e aconchegante. Assim como o restante da casa, a decoração era fria e rica em detalhes arquitetônicos em dourado. Nas paredes havia dúzias de sóis cuidadosamente pintados, e nos móveis eles tinham sido entalhados com delicadeza.

Elric fechou a janela, afastando de vez o frio e o barulho ensurdecedor da chuva e deu de ombros enquanto se despia do boldrié encharcado.

— Não sei os outros príncipes, mas se fosse o meu haveriam mais livros e menos enfeites. Talvez um ou dois bustos do meu rosto.

— Você realmente se acha tão bonito assim?

Ele estava prestes a responder quando batidas soaram na porta. Elric apontou para a porta adjacente ao cômodo a qual eu imaginava que levaria a um lavatório e rapidamente me escondi lá dentro, desejando não ter deixado um rastro de água atrás de mim. Apoiei o corpo na parede e peguei um espelho redondo que tinha sido colocado em cima de uma grande penteadeira perto da banheira e o usei para ver Elric no outro cômodo. Ele tinha se livrado das camadas mais pesadas da própria roupa e estava apenas com uma calça escura de algodão e a camisa de linho branca, molhada o suficiente para ser praticamente transparente.

Por causa disso consegui ver a grande difusão de tinta preta que cobria quase toda a pele de suas costas, no começo pensei que fosse impressão minha ou as sombras do cômodo, mas não eram. As linhas formavam a familiar imagem do dorso de um lobo. O Símbolo da Casa Morgan, a casa de Thomas.

Não pude ver quem era quando o príncipe abriu a porta, mas não foi preciso, porque a voz de Olivia Fawell a seguiu um instante depois.

— Pensei que você gostaria de uma refeição mais reservada, essa tempestade vai atrasar bastante os vermelhos, mas meus homens sabem como lidar com a chuva, em breve minha mãe estará aqui. Não vamos ter muito tempo para conversar depois que ela vier. — Era um tom de voz completamente diferente do que eu já tinha ouvido dela até então, ela quase parecia relaxada.

Elric continuou segurando a maçaneta da porta e usando o corpo para cobrir a passagem.

— É uma ideia fantástica, mas ainda estou molhado como um gato escaldado e sujo. Deixe que eu me lave primeiro.

— Claro, — eu não conseguia ver, mas tinha quase certeza de que Olívia estava sorrindo quando respondeu — é bom ter você de volta, aliás. Te espero lá embaixo.

Elric esperou ela se afastar antes de fechar e trancar de novo a porta atrás de si. Quando se virou, ele levantou as sobrancelhas.

— O quê?

— Vocês se conhecem.

— É claro que sim, Olívia não teria me dado um quarto e ajuda só pelo meu rosto bonito.

Continuei parada no batente da porta com os braços cruzados, ainda estava tremendo de frio e morta de fome, mas já tinha adiado minhas perguntas por tempo demais. Percebendo que suas tentativas de desviar do assunto não iam funcionar dessa vez, Elric suspirou e se jogou todo molhado em cima de uma poltrona perto da lareira, fazendo sinal para que eu me juntasse a ele.

Alice no País das Sombras [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora