O Leão do Mar atracou no Porto de Ferro no fim da tarde, depois de mais de um mês em alto mar. A tripulação de Jack era formada, em sua maioria, por animatos de diferentes ascendências, e a maioria deles, embora parecesse familiarizado o suficiente com o horizonte vazio, parecia ansiosa para ver um pouco de terra depois de tanto tempo. O homem que tinha nos ajudado a escapar do ataque possuía a ascendência das raposas da neve, encontradas nas montanhas acima de Marmoreal, e descobri que até mesmo Polux era um animato, embora essa parte em seu sangue fosse pequena o suficiente para que ele não exibisse nenhum traço físico da sua ascendência dos texugos de fogo das montanhas Kunlum, no Sul. Eram todos homens e mulheres completamente diferentes uns dos outros, mas que compartilhavam um companheirismo sem igual e uma lealdade muito forte pelo seu capitão, assim como o palavreado de baixo calão e pouco apreço por banhos regulares.
Quando o olheiro nos avisou que chegaríamos no porto em algumas horas, toda a tripulação começou a se movimentar sob algum tipo de comando silencioso. O Porto de Ferro não parecia diferente dos outros que eu já tinha visto no Continente, muitos navios atracados, de vários tamanhos e formas e com uma infinidade de bandeiras diferentes, mas igual a qualquer outro porto. Embora a escravidão tivesse sido abolida quando o Império foi fundado, ali, nas Ilhas de Ferro não só era legal como era um dos pilares que sustentavam a economia da coroa Medrak, os comandantes daquele lado do mundo. Jack me explicou que no protesto do navio estávamos registrados como um navio mercador de escravos e que haveria uma fiscalização no Porto assim que a âncora fosse baixada. A coroa Medrak inspecionava todo navio que adentrava seu porto, sem exceção e não tínhamos nenhum tipo de mercadoria em quantidade grande o suficiente para fingir que estávamos ali para vendê-la, mas animatos eram mercadoria preciosa ali.
Demorou tanto para que os fiscais da coroa se dessem por satisfeitos depois de xeretar cada centímetro do navio que já era noite quando foram embora. Jack tinha trocado de roupa novamente, dessa vez optou por um conjunto particularmente chamativo e bem ridículo de casaco verde musgo, com calças justas escuras e botas de couro bem lustradas, e um gigantesco chapéu da mesma cor que as botas e tantos anéis de ouro nos dedos e colares que era difícil encará-lo diretamente sem sentir dor nos olhos. Segundo ele, precisávamos parecer com mercadores de escravos, então fui obrigada a me enfiar em um vestido verde igualmente ridículo e pendurar meia dúzia de cordões de prata e ouro no pescoço e nas orelhas.
Assim que a meia dúzia de soldados Medrak foram embora, Jack me segurou pelo pulso e me puxou de volta para a cabine do capitão. Um momento depois, Polux e Piper se juntaram à nós. O resto da tripulação continuava escondida nos andares inferiores para não chamarem a atenção.
— Eu detesto esse lugar — Polux entrou resmungando — detesto essa gente.
— Você já disse isso umas mil vezes — Piper resmungou — e eu já entendi na primeira.
— Não precisa ficar ansioso, não ficará aqui por muito tempo.
Jack atravessou a sala e pendurou o casaco num gancho nos fundos da parede, trocando por uma versão mais velha e escura do mesmo casaco, mas bem mais discreto. Ele puxou um baú e fez sinal para que eu me aproximasse. As roupas ali dentro eram para mim e felizmente havia um par de calças e camisa confortável.
— E como vamos prosseguir a partir daqui? — Piper perguntou. Pragmática como sempre. — A maioria dos nossos não passariam despercebidos. E os fiscais vão voltar para checar se os "escravos" já foram vendidos ao amanhecer.
Jack recolocou o chapéu e encarou a imediata.
— É por isso que iremos embora antes deles voltarem.
— Vamos? — Piper e Polux perguntaram ao mesmo tempo, tom de surpresa e ansiedade.
— Vocês vão, daqui em diante seremos só eu e Alice — Jack me olhou rapidamente, um brilho astuto no olhar, e ajeitou o casaco me dando espaço no fundo da cabine para me trocar com privacidade, continuei ouvindo sua voz enquanto ele falava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Alice no País das Sombras [EM REVISÃO]
FantasyDe volta ao Submundo, a pequena e curiosa Alice é somente uma memória desbotada e frágil dentro de uma mente caótica e sombria. Agora, mais do que nunca, Alice deseja o sangue e a cabeça de seus inimigos e não irá medir esforços para alcançar a coro...