11. Melhor um inimigo que você conhece

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A praça estava um caos. Pessoas gritavam e corriam chamando pelos guardas da cidade enquanto as mães tentavam impedir seus filhos de assistirem a cena. Havia meia dúzia de soldados vermelhos mortos e em algum lugar alguém soava uma corneta, se era algum tipo de alarme ou qualquer outra merda, não tinha como eu saber e nem queria ficar ali para descobrir. Peguei Ceifadora de Prata e prendi a bainha da espada às costas e me virei para Elric, caído de cara na terra.

— Ei, você! — Um homem enorme e parecendo especialmente irritado vinha marchando na nossa direção, ele não carregava nenhuma arma aparente, mas pela largura dos seus braços nem precisava. Puxei Elric para cima pelas axilas e me virei esperando poder carregá-lo, mas o príncipe era muito mais pesado do que aparentava.

Na segunda tentativa eu já estava coberta de suor e minha perna tremia sem parar. Já podia enxergar alguns guardas tentando abrir caminho pela confusão de pessoas. Desembainhei Ceifadora do Vento e apontei para o peito do homem irritado que tinha nos alcançado, ele parou.

— Sugiro que dê meia volta e não se envolva, senhor.

Foi claramente a coisa errada a se dizer porque a expressão dele só piorou depois disso e ele voltou a avançar, bem devagar, na direção da espada. Existiam dois caminhos a serem tomados naquele momento e que poderiam definir meu destino e o do príncipe herdeiro: se a família Fawell tiver dado as costas à coroa branca, eles nos matariam - a possibilidade de que tentassem nos enviar vivos para o castelo vermelho era ridícula e nisso Elric tinha razão, - mas caso ainda existisse alguma lealdade da Casa para com a verdadeira família real, eles ainda me matariam, mas Elric teria chance de reaver o título como comandante de toda a Província e poder o suficiente para me tirar da forca. Dizer que essa era uma aposta arriscada seria eufemismo, mas não estávamos mais em condições de sermos cuidadosos e se Elric não tinha percebido ainda, agora era tarde.

— Posso quebrar esse palito de dentes que você chama de espada com uma mão, menina — ele rosnou apontando para Elric, cujo corpo estava parcialmente coberto pelo meu, — esse é o príncipe herdeiro?

Não era hora para isso. Movi meu braço com agilidade e o acertei nas pernas, não queria matar alguém que tinha tanto potencial para ser um futuro soldado, mas também não tinha tempo para bater papo. O homem cambaleou, e para o seu crédito, não caiu. Xinguei um palavrão e pressionei com cuidado a lâmina da Ceifadora contra o seu pescoço, aplicando pressão apenas o suficiente para arrancar uma gota de sangue.

— Não vou avisar de novo, fique longe.

— Ei! Vocês dois!

— Abaixem as armas!

— Mas que porra — murmurei encarando o grupo de guardas que marchava agora na nossa direção, quatro homens de uniforme prateados, capas azuis e com o brasão amarelo do Sol no peito, o símbolo da Casa Fawell. Eram quatro, mas estavam todos cobertos de metal e armados.

— Eu disse para abaixar a espada! — O mais alto deles se postou à frente do grupo, a medalha acima do brasão em seu peito revelava que se tratava do capitão dos guardas.

A multidão de antes começava a se aglomerar de novo, dessa vez, formando uma parede atrás dos guardas, todos olhando por sobre o ombro uns dos outros para tentar ver melhor, sussurrando teorias sobre o príncipe herdeiro. Só então comecei a crer que talvez não tenha sido a melhor das ideias gritar a verdadeira identidade de Elric para quem quisesse ouvir. Tarde demais para arrependimento e a coisa estava mais ou menos indo na direção esperada de um jeito ou de outro, por enquanto, pelo menos.

Bem devagar, afastei Ceifadora do pescoço do brutamontes de antes e dei um passo para trás escondendo Elric.

Alice. É você, não é? — O grandão rosnou baixinho o suficiente para que só nós dois escutássemos, não consegui disfarçar a surpresa ao ouvir meu nome ser dito com tanta certeza, a raiva eu já conhecia, mas o tom de reconhecimento era novidade. Quase como se...

Alice no País das Sombras [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora