16. Um rostinho bonito e furioso

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 Quando o primeiro choque aconteceu, eu quase fui arremessada para fora do barco, mas Jack me agarrou pelo braço e nos puxou para o chão do convés. Os poucos marujos que estavam lá também caíram no chão e Wilkens, um dos mais velhos, gritou que tínhamos batido contra um coral. Mas então veio a segunda batida, mais forte que a primeira e o barco inteiro tremeu.

— Não é um coral, Wilkens, seu imbecil!

Jack ficou de pé num instante e partiu para o timão, saltando pela escada de dois em dois degraus e derrubou Wilkens de lá com um empurrão.

— Eu falei para se manter na água rasa!

Wilkens levantou os ombros.

— Mas a corrente é melhor perto das ilhas-

Outro choque, eu já estava nas escadas dessa vez e consegui me segurar no corrimão para não levar outro tombo. O navio inteiro estava sacudindo sem parar agora e Jack girava o timão de volta em direção a costa do Continente, da qual tínhamos nos afastado. Ao invés de ir na sua direção, corri de novo para perto da amurada da proa e espiei com cuidado a água lá embaixo. O mar estava movimentado, mas era só isso. Foi quando notei uma sombra escura, escura demais sob a superfície e ao redor do navio, recuei imediatamente para trás e cai quando a coisa se chocou mais uma vez contra o navio.

— O que é isso?!

Jack me encarou, ele parecia muito concentrado agora, dando ordens aos seus homens e os organizando de maneira eficiente, mas também havia um brilho levemente insano em seu olhar. Brilho de quem gosta do que faz por momentos como aquele.

— Pode ser uma porção de coisas — o capitão falou, — nenhuma delas é agradável ou está aqui querendo fazer amizade. Meu palpite é que é uma serpente.

— Entendi porque não é uma rota navegável — murmurei. É claro que Rota da Serpente não poderia ser só um nome ilustrativo para parecer assustador.

— Jack! — Piper apareceu no convés, armada até os dentes com facas, adagas e machadinhas. A mulher era um pequeno arsenal ambulante, de fato. Ela cambaleou pelo barco, se equilibrando gloriosamente bem enquanto o chão sob nossos pés era tudo, menos instável.

— Por que não estamos saindo daqui, Piper?

— A serpente fez uma fissura no casco, não dá para ligar as máquinas antes que fechar o buraco, senão o motor vai explodir. Polux está lá com os outros.

Jack xingou.

— Vou estripar o Wilkens e dar de comer para os peixes!

— Deixe as ameaças para depois, — apontei para a sombra negra na água que nadava furiosamente ao redor do navio. — como nos livramos disso agora?

— Piper, volte lá para dentro, ajude Polux a concentrar as máquinas o mais rápido possível. Ei! Bando de merda de cavalo, o que estão fazendo parados aí?! Desçam a porra das velas agora!

Os quatro marujos que estavam ziguezagueando pelo convés finalmente pareceram acordar para a realidade e se puseram a trabalhar furiosamente com as cordas. Piper olhou para Jack e depois para mim, provavelmente insegura sobre deixar seu capitão sozinho com alguém que claramente não sabia como ajudar, mas no fim, ela deveria saber que era mais necessária lá embaixo do que ali porque assentiu. Antes de sair, porém, tirou um dos sabres que carregava na cintura e me entregou a lâmina.

— Isso é um empréstimo, se perder Anhi, corto seu braço fora.

Ela saiu antes que eu pudesse responder, Jack riu quando o encarei sem entender.

Alice no País das Sombras [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora