4. Jake Bugg

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Jake não queria se oferecer para levar a irmã de Tony para casa, nem a conhecia, mas deixara a case com seu violão na casa dele, então teria de ir lá de qualquer maneira. Só se lembrava que Effy estava a seu lado quando ouvia o chacoalhar de seus colares e pulseiras, os dois não trocavam uma só palavra e pelo visto, continuariam assim, um evitava olhar para o outro e faziam o minimo de sons possíveis para manifestar presença.

Jake puxou o maço do bolso e colocou o ultimo cigarro da cartela na boca, acendeu e tragou. Effy estava silenciosa ao seu lado e Jake sabia que ela fumava apenas pelo fato dela ter os comprimidos da festa e o cheiro forte de drogas ilícitas. Sem esperar nenhuma resposta ou questionamento, parou de andar e estendeu o cigarro para Effy, que o tragou ainda entre os dedos de Jake; ele pode sentir os lábios dela em seus dedos, causando arrepios pelo seu corpo. Ela soprou a fumaça e sorriu sem mostrar os dentes, Jake se esforçou para sorrir, o que quase nunca fazia.

- Você não é muito de falar - Effy foi a primeira a falar no longo período de caminhada que se estendia.

- Você também não - Jake rebateu.

Outro silêncio inundou o local. Jake não sabia se puxava algum assunto, mas do jeito que Effy era, parecia difícil agradá-la. Resolveu ficar em silêncio, esperando que ela se pronunciasse novamente ou dali para frente só haveria mais silêncio ainda para preencher espaço entre os dois.

- Eu não sabia que Tony tinha uma irmã - Jake resolveu arriscar o inicio de uma conversa, talvez breve.

Ao invés de Effy tragar o cigarro ainda na mão de Jake como estava fazendo, ela tirou dele e usou ela mesma. Ele não sabia se aquilo era um bom ou mal sinal.

- Eu sabia que Tony era seu amigo. - Respondeu. Effy parecia brava ou talvez magoada e Jake se arrependeu de puxar assunto daquela maneira.

Era estranho, Jake nunca se importou se uma garota ficara triste ou brava com ele, mas com Effy sim. Era como se ele tivesse medo de vê-la infeliz, como se fosse para o inferno pelo simples ato de magoá-la e nesse breve tempo que caminharam em silêncio, percebeu que ficara nervoso perto dela, como se ela o humilhasse apenas com o modo de andar, o que era estranho.

Ele sentiu vergonha de si mesmo por pensar daquela forma, principalmente com uma garota que conhecera há horas e que era irmã de seu melhor amigo. Não que Jake não se interessasse por garotas, mas a questão era que ele era incapaz de possuir sentimentos por elas, e sim, ele as usava e depois as despachava. O pior de tudo era que elas o achavam o máximo.

Para ele, não tinha a menor possibilidade de acontecer algo com Effy, mas ela parecia diferente das outras garotas, parecia manipuladora e psicopata, psicopata no bom sentido, se é que existe. Era como se ela fosse como Jake: não se importava com nada, não amava, não sentia.

Era por isso que Jake se sentira tão desconfortável ao lado de Effy, porque eles eram parecidos e não precisava saber da vida da irmã do amigo para perceber que ela era como ele e como poderiam se dar bem juntos, se fossem amigos. Jake até pensou na possibilidade de criar um laço de amizade com ela, nada mais que isso.

Afastou todos os pensamentos sobre Effy e se centralizou em dar rumo a conversa.

- Por que você quis ir para casa?

Quando Jake pronunciou as palavras, Effy retardou o passo fechou os olhos, pressionando-os. Percebera que falara algo errado, talvez não devesse perguntar aquilo, pois estava quase chorando quando foi falar com o irmão. Ele fazendo tudo dar errado, como sempre, mais uma vez chateara Effy e agora se sentia culpado por isso - ele nunca se sentia culpado por nada.

Effy suspirou fundo e voltou a caminhar normalmente, ignorando a pergunta de Jake e por incrível que pareça, sentiu um alivio imenso por ela não respondê-lo. Pôde ver de relance o olhar convicto e o andar confiante de Effy, definitivamente ela era diferente de todas as garotas que Jake já conhecera e era um dos motivos por Jake não querer vê-la triste.

- Chegamos. - Effy caminhou até sua casa e entrou, Jake estava mais atrás.

Em segundos, ela entrara e trouxera a case com o violão de Jake, entregando para ele e fechando a porta. Jake colocou o pé como obstaculo, interrompendo o curso da porta e fazendo Effy se surpreender com a atitude de Jake.

- Eu queria saber se você tem um maço de cigarro, eu pago. - Jake não queria um cigarro, na verdade queria interagir com Effy e compartilhar os possíveis gostos em comum entre os dois.

Ela fitou o pé de Jake encostado na porta, como se fosse um sinal para ele retirá-lo dali. Jake tirou seu pé e coçou a nuca, não sabia o que fazer, apenas queria conversar com ela, pois sabia que naquele curto período que a conhecera, ele se ligou mais a ela do que qualquer garota.

- Não. - Effy falou e fechou a porta com força, deixando Jake ali, parado, sem saber o que fazer e como fazer.

Jake ficou sem reação, nunca nenhuma menina havia agido daquela maneira. Não que ele tivesse a cantando ou paquerando, não, ele só achou que ela queria ser amigo dele como ele também queria. Effy era complicada e Tony comentara com Jake que a irmã passara por altos e baixos nos últimos meses, talvez seja por isso dela estar agindo daquela forma com um garoto que não a fizera nem um mal.

Ele ficou parado, encostado na mureta da casa de Effy, pensando no que fazer, se iria para casa ou voltava para colégio - entrando pela janela do quarto de limpeza. Estava surpreso por Effy agir com tamanha rudeza e talvez não quisesse mais a ver depois disso, ela parecia tão normal enquanto caminhavam e do nada ela não o deixa entrar em sua casa e fecha a porta em sua cara. Ela era complicada.

Depois de pensar, Jake resolveu que caminharia até o pub da Christina e ficaria por lá até resolver o que fazer depois. Ele pegou a case com o violão e alçou. Quando deu os primeiros passos, sentiu algo leve o atingir no topo da cabeça, pegou a pequena caixa retangular que o acertou e pode ver que era uma cartela de cigarros. Olhou para cima, Effy estava na janela no segundo andar, sorrindo maliciosamente, ela fechou a janela e entrou na escuridão da casa novamente.

Jake sorriu e o pequeno rancor da garota desapareceu. Não abriria o maço por enquanto, guardaria de recordação e talvez fumasse com Effy quando se vissem novamente. Jake o guardou no bolso e começou a caminhada até o pub, sorrindo sem mostrar os dentes.





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