Sentado impassível ao observar o nascer do sol, Jake acendia novamente o cigarro que deixara apagar-se por conta da distração que seus pensamentos lhe proporcionavam. A aflição o invadia desde o momento que deitara em sua cama na tentativa inútil de dormir, pois minutos depois já estava fora de casa, caminhando pelas ruas de Bristol.
A praça onde se encontrava estava deserta, o que considerava melhor do que pessoas desconhecidas flagrando-o engolir em seco na tentativa de não chorar. A agonia o saturava, irrompia-lhe o peito de um modo que suportar já não era uma opção.
Sem querer, as lágrimas deslizavam por seu rosto pálido enquanto o cigarro queimava-se lentamente em seus lábios trêmulos. Eram raros os momentos que deixava a si mesmo se expressar honestamente, mas aquela gota foi decisiva para transbordar o que já estava cheio.
Não chorava debalde, pois o que especulava havia se concretizado, esperava apenas que o encontrassem a fim de confirmar mais uma vez. Esperava, pois queria estar errado e assim viessem para trazê-lo à realidade, tirá-lo então da mentira que havia tomado seu cérebro e o fizera andar sem rumo até o banco qual estava, sentindo agora o calor do sol aquecê-lo. Seria melhor, pensava, seria melhor se fosse ela quem me aparecesse.
— Ah, você está aí
Contornando o banco e sentando-se ao seu lado, Tony inicialmente se surpreendeu com a face úmida e vermelha de Jake, que o encarava inexpressivo enquanto acendia outro cigarro.
— Então você já sabe – crispando os lábios e encarando todo o extenso da praça, Tony acendia um cigarro para si também, um tanto mais resoluto a não chorar. – Foi nesta madrugada e como sempre, ninguém a viu sair. Foi sozinha desta vez, espontaneamente.
Era o que Jake precisava para que mais lágrimas deslizassem até sua mandíbula e pingassem em seu colo. Decerto havia dito que ela conseguia ser previsível em devidos momentos, contudo, ainda acreditava estar errado no que horas atrás havia avistado. Para isso, é preciso retornar a lembrança da última vez que estiveram juntos.
Quando ele e Effy concretizaram seu relacionamento a todos, fora como se um peso lhe saísse das costas, pois Tony havia consentido sem pestanejar e os outros brindaram pelo fim do melodrama que se sucedia desde não mais se sabe quando. Para Jake, o riso de Effy era verdadeiro, mas ele sabia – ou melhor, supunha – que Effy nunca era, mas sim sempre estava. Deste modo, soube desde o início que ela faria algo contraditório, não por capricho, mas no intuito de não querer machucar aquele que amava.
Já era madrugada quando Jake se deitou. Pensou ser um direito de Effy refletir no que queria, independente do modo, para que então pudesse se entregar a ele sem mais temer problemas que podiam ser resolvidos. Contudo, Jake subitamente pensou na possibilidade de Effy se mutilar ou então pior, não hesitando em sair de casa o mais rápido possível e ir encontrá-la para dizer que a amava, e que não havia problema algum ela amá-lo de volta, amar novamente.
Ao chegar na esquina da casa dos Stonem, pôde ver ao longe Effy no ponto do outro lado, entrando em um ônibus com apenas uma mochila nas costas e com isso o transporte saindo. Por alguns minutos, Jake permaneceu inerte onde estava, pensando no que fazer ou no que deveria ter feito. Sabia que algo do gênero iria acontecer, mas não fez nada para impedir e agora odiava-se por isso.
Não queria entrar em nenhuma casa ou estabelecimento, temia se sentir espremido pelas paredes, então vagou pelas ruas até chegar ao parque qual Cassie gostava de visitar, sentando-se em um banco no alto de uma colina e esperando que algo acontecesse, suplicando para que este algo acontecesse.
Havia deixado Effy, a pessoa qual amava ir; e fizera certo. A razão por qual chorava, egoistamente, foi por achar que o que fizera havia sido suficiente, que suas palavras haviam surtido efeito e suas carícias a acalmavam. Talvez até tenham, mas como sempre era reforçado, Effy tinha problema com si mesma e não com os outros. Era um ser inescrutável.
Chorava por medo de perdê-la para sempre, por pensar que podia ter corrido atrás do ônibus até suas pernas cederem ao cansaço ou então ter dormido ao seu lado para lhe dizer que com o tempo que passariam juntos, tudo entraria nos eixos, que o tempo é o melhor remédio.
— Eu a vi subir no ônibus e não fiz nada - a fumaça densa escapava pelos lábios e narinas de Jake enquanto o mesmo fungava, deixando as lágrimas secarem naturalmente. - Eu sei que esta foi a maneira que ela encontrou de se reconciliar com si mesma, mas eu sinto que poderia ter feito mais, que eu sempre poderia ter feito mais por ela.
Tony deu leves batidinhas nas costas de Jake, que voltou a se manter em silêncio.
— Effy já passou por sua pior parte da relação, agora ela só precisa se organizar convictamente, eu sei, por isso estou calmo. Não sei quanto tempo sua ausência pode durar, mas era seu melhor meio de recomeçar a limpo. Como se fosse um retiro de meditação para limpar a alma.
Sem sentir vontade, Jake assentiu e se levantou, retornando a caminhada para não se sabe onde. Tony o seguiu e acabaram por ir ao pub, que por sorte abria cedo. Jake aproveitou para cantar algumas músicas melancólicas no pequeno palco e depois bebeu quase toda a cerveja do barril junto ao maço inteiro de cigarro.
Os dias se passavam, Jake continuava indo ao colégio, porém apenas para tentar esquecer Effy, que em nenhum momento sequer saía de seus pensamentos. Nas horas vagas escrevia letras para suas músicas ou então ficava deitado na cama olhando para o teto. Quando Effy ainda não fazia parte de sua vida, ter momentos de solidão como aquele quase nunca acontecia, pois embora fosse introvertido, era introvertido com seu grupo de amigos.
Semanas se passaram. Jake ia a festas e tentava se divertir, usava as mesmas drogas, mas não conseguia ficar com nenhuma garota, sentia necessidade de se afastar de qualquer uma que sequer lhe perguntasse as horas. Momentos como aquele fazia-o lembrar de Effy mais do que nunca e como ela estaria na pista de dança, movimentando-se a seu modo, como se estivesse flutuando. A maconha fazia efeito e ele ria com Tony, Chris e Cookie, mas horas depois entrava em uma badtrip que parecia engoli-lo.
Enquanto mais e mais dias corriam, Jake pensava em como os sentimentos de ambos se floresceram tão rapidamente, possivelmente por serem parecidos em variados aspectos. Em conjunto, pensava onde e como Effy estaria, e se estaria bem - de corpo e de alma.
Um mês, dois meses. Jake se formou e continuou na estaca zero. Perdera a conta de quantas canções fizera sobre Effy, aparentava quase uma monomania. Estava bem, não chorava, não mais se lamentava, pois acreditava que tudo tinha seu tempo. Tudo estava como antes, exceto a costumeira falta que sentia e engolia a cada dia, a cada momento.
Sempre quando podia - havia começado a trabalhar no pub - caminhava até o mesmo parque qual chorara no dia que Effy partiu. Sentava-se no banco ao alto da colina e observava o movimento, sentia o calor do sol e muitas das vezes acendia um baseado para relaxar de modo mais intenso.
Ainda era outono, resolvera ir novamente ao tal parque, embora um tanto resfriado. O tempo e a imunidade baixa requeria que se agasalhasse, fazendo enrolar um grosso cachecol no pescoço e um moletom por baixo da jaqueta de couro. Ao expirar pela boca, a fumaça que saía em razão ao frio parecia a do cigarro, contudo resolveu não acender ali por não querer tirar suas mãos quentinhas dos bolsos da jaqueta.
Chegando lá, viu algo incomum. Havia uma pessoa fumando em seu banco e como o banco se posicionava de costas de onde estava, não conseguia identificá-la. Pela silhueta miúda em conjunto ao cabelo comprido, soube ser uma garota. Não quis mais ficar ali, embora o calor do sol aquecesse-lhe a face, então apenas permaneceu alguns segundos antes de resolver ir a outro lugar.
Antes que fosse, decidiu acender um cigarro, tossindo ao primeiro trago em razão ao gosta da marca desconhecida e barata que comprara. Fungou e tragou novamente enquanto voltava o olhar ao gramado do parque que estendia-se além da colina, sendo inevitavelmente puxado como um imã à pessoa que virara para encará-lo quando tossira, já que antes julgava estar sozinha.
Essa pessoa, Jake podia confirmar, tinha os olhos mais azuis que já havia visto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
TWO FINGERS
RomanceEm Bristol, Inglaterra, é onde Effy e seu grupo se estabilizam. Todos se divertem o máximo que podem para esquecer os problemas pessoais e torna-los mais fáceis a si mesmos. Effy poderia ser considerada a pessoa com mais transtornos mentais d...