12. Jake Bugg

259 15 0
                                    

Jake acordou com a cabeça latejando e aparentando explodir, não havia resquícios da noite anterior, mas estava ciente que ao decorrer do dia se recordaria.

Julgou estar consciente, mas no momento em que se levantou, desabou no chão como um saco vazio. Bateu a cabeça na madeira causando uma uma forte dor que acabou se unindo à ressaca.

- Porra - sussurrou unindo forças para se levantar.

Desceu as escadas com as roupas fedorentas da noite anterior, encontrando os pais brigando novamente, mas dessa vez no jardim de inverno. Como sempre, estavam embriagados então Jake não ligou.

Era tão comum aquela relação que nada o surpreendia. Desde que os pais tiveram um desentendimento no passado e o pai saiu de casa, a mãe começou a beber e não parou mais. Um tempo depois eles reataram, mas a esposa continuou com a bebida e o marido a acompanhou na jornada o que resultou em pais bêbados o tempo todo.

Jake, por mais que também levasse essa vida era apenas de vez em quando, ao contrário dos pais. No início ele tentou impedi-los dizendo que iriam sofrer se continuassem assim, mas nada aconteceu, então tudo o que podia fazer era pensar que virou órfão e estava por si só.

Pelo menos os pais ainda trabalhavam e se sustentavam, mas era chegar em casa que tudo mudava. E por mais que Jake tentasse parecer inquebrável, a realidade o machucava e era por isso que se entregava as drogas e a bebida.

Jake necessitava fugir da realidade, por isso recorria as coisas ruins, mas não era um viciado. Não, não se entregava facilmente ao entorpecentes, apenas quando precisava. Como quando estava com os amigos ou a vida pesava muito.

Tomou seu café da manhã com os barulhos do conflito dos pais ao longe e subiu em seu banheiro para tomar banho. Passou perfume para afastar o odor de álcool e vestiu sua jaqueta de couro preta. Desceu as escadas e saiu de casa, caminhando em direção da de Cassie.

Tinha de pegar mais erva com Chris já que ele estava morando com ela para não virar mendigo. Chegando lá, subiu as escadas e bateu na porta, esperando alguém atendê-lo.

- Quem é? - A voz não era de Cassie nem de Chris, mas sim de Effy.

- Jake... Effy é você? - perguntou tentando abrir a porta, mas estava trancada. Encostou a orelha na madeira para poder ouvir melhor o que ocorria lá dentro.

Ouviu barulhos de botas e coisas caindo, depois o que parecia ser Effy sussurrando "É o Jake, eu não estou aqui" e depois alguma porta aleatória sendo trancada com violência.

Segundos depois a porta à sua frente se abriu, revelando uma Cassie totalmente descabelada e de camisola. Ela o encarava com os olhos semi cerrados e os típicos dentes a mostra.

- Jake. Você tem noção de que horas são? - Cassie perguntou com as mãos na maçaneta.

- O suficiente para ter visita - Jake enfiou as mãos no bolso e esperou que Cassie o deixasse entrar.

Cassie bufou e abriu espaço para Jake passar.

- Entra - Entrou e se sentou no sofá, esperando por Chris.

A casa de Cassie era pequena, mas com seu próprio estilo. Claro que havia inúmeras louças sujas na pia e roupas jogadas pela sala, além de que cultivava maconha em um vaso de flor. Mas o que mais lhe impressionava eram pisca-pisca espalhados pela casa.

- O que você quer essas horas? - Cassie se jogou no sofá e parecia ter voltado a dormir.

Jake olhou para o relógio de parede, nele marcava 11:00. Era quase hora do almoço e todos estavam dormindo, uau, como Jake havia chegado cedo.

Percebeu que a porta de todos os cômodos estavam abertas, menos a do banheiro. Não sabia ao certo o porquê de querer saber de Effy, mas algo o dizia que ela não queria vê-lo.

O pior era que ela tinha motivo para evitá-lo. Um motivo um tanto quanto infantil e imaturo, mas ela era frágil e se magoava com poucas coisas. Claro que Jake não queria falar aquilo para ela aquele dia no pub, mas havia se desculpado ontem.

Agora lembrava o motivo por ter acordado de ressaca. Havia bebido ontem antes de entrar no baile da escola. Bebido com Effy. E não lembrava de nada depois. Estava tentando lembrar, mas nada vinha em sua mente.

- Onde está Chris? - Jake perguntou, tentando ouvir algum barulho comprometedor.

- Dormindo. Como todos deveríamos estar fazendo. - Cassie resmungou.

- Então enquanto ele não acorda eu vou ao banheiro, ok? - Jake perguntou, mas Cassie já havia adormecido novamente.

Jake levantou-se e correu até o banheiro. Quando abriu a porta destrancada, viu duas mãos se apoiando no peitoril da pequena janela do cômodo. As mãos de Effy com o esmalte preto descascado, não poderia ser de outra garota.

- Effy? - Jake perguntou, mas a resposta que obteve foram as mãos soltarem o peitoril, fazendo um barulho de algo aterrissando se alastrar.

Jake não pensou duas vezes, correu até o lado de fora da casa de Cassie até chegar no local da janela do banheiro, onde pode ver ao longe, Effy descendo as escadas da casa rapidamente e caminhando pela calçada.

- Effy! - Jake gritou novamente, correndo até alcança-la, mas ela também iniciou uma corrida. - Effy, por que está fugindo de mim?!

Effy era rápida, mas Jake era mais. Depois de algum tempo conseguiu alcança-la, mas ela não o encarava, estava cabisbaixa e com os ombros encolhidos, com medo.

- Foi um erro o que aconteceu ontem e nunca mais vai se repetir. - Effy engolia em seco, por fim encarando Jake. - Por isso preciso me manter distante de você.

- O que aconteceu ontem? Por que precisa se manter distante de mim? - Jake só se lembrava de ter bebido com Effy, apenas.

- Porque não vou conseguir resistir. - Effy deixou uma lágrima rolar, fazendo Jake ficar ainda mais confuso.

Resistir a quê? A ele? Não, não poderia ser. Effy não tinha sentimentos, nenhum dos dois tinha e era por isso que Jake não entendia o porquê dela ter dito aquilo.

Eles não se conheciam o suficiente, mas possuíam coisas em comum: dores do passado, falta de emoções e sentimentos, auras... De alguma forma, Jake se importava com Effy e ele nunca se importava com ninguém.

Effy o fazia sentir coisas: frio na barriga, pernas dormentes, respiração acelerada. E ela nem tentava. Jake não queria admitir que gostava dela, pois sabia das consequências. Mas Effy era diferente de tudo e todos, era linda e tinha personalidade própria, não se importava com ninguém, assim como ele.

Jake gostava de suas sardas discretas, de seus olhos azuis e cabelos castanhos, de suas roupas grandes e surradas. O jeito que Effy era éra tão... singular e era esse o motivo de Jake gostar, mas o motivo dele não admitir e temer esse sentimento era justamente porque ele tinha medo desse sentimento.

- Effy. O que aconteceu ontem - falou pausadamente.

- Você não se lembra? - Effy abraçava a si própria, com frio. - Nós transamos.

TWO FINGERSOnde histórias criam vida. Descubra agora