24 de Dezembro, 2011

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Véspera de Natal, inverno frio e difícil de respirar, mas sem neve. Hanna agradecia sempre por não ter neve, mesmo que há três horas dali, se quisesse, poderia apreciar os flocos brancos.

A casa amarela com janelas de madeira branca estava completamente decorada com os enfeites natalinos. Guirlandas por todas as portas, um boneco de neve de mentira estava atado à grama com luzes pisca-pisca o enrolando, uma árvore que vivia guardada no sótão estava agora em pé, mostrando seu brilho com os vários adornos vermelhos e dourados e, no topo, uma estrela despontava sua glória. Os Walker eram ótimos anfitriões.

- Emma, está tudo em ordem? - Kara indagou preocupada, colocando as meias sobre a lareira a gás.

- Está tudo maravilhoso, mãe. Vá se arrumar enquanto eu espero os convidados.

- Você tem razão - assentiu, tirando o avental de cozinha. Ela tinha passado o dia fazendo biscoitos. - Seu pai?

- No escritório.

Kara respirou fundo e deu um sorriso forçado, antes de subir as escadas para a suíte principal. Nem na véspera de Natal, John largava aquele escritório. Se ela fosse reclamar mais uma vez, a noite seria um desastre, então, preferiu fingir que estava tudo bem.

Emma, que estava colocando os presentes embaixo da árvore, ouviu baterem na porta. Sorriu, ficando de pé e alisou o vestido azul aveludado, para poder estar apresentável. Estava prestes a ir abrir a porta, quando sua mãe e seu pai passaram por ela, de braços dados.

Eram os Watt, cada um com um presente nas mãos e desejando Feliz Natal. A família precisava se reunir, pois desde o episódio em que Emma quase fora estuprada, o elo entre as irmãs estava abalado. Kara e Eva precisavam sentir que estavam bem novamente, sem mágoas.

- Está tudo muito lindo, minha irmã - Eva elogiou, admirando cada enfeite. - Você superou-se mais uma vez!

- Esse ano é especial, mas, só consegui fazer tudo isso porque Emma me ajudou. Ela que cuidou da árvore e escolheu os adornos.

Eva fitou a irmã, entendendo o que ela queria dizer. Era especial, tinha que ser. Já Hanna revirou os olhos. Os tios sempre exaltavam as qualidades da prima, como se ela fosse uma vaca leiteira a leilão.

- Está perfeito - disse Paul. - Trouxemos a sobremesa e alguns presentes.

- Coloquem os presentes embaixo da árvore - Kara indicou com o queixo. - Hoje teremos mais visitantes.

Eva entregou os presentes para Hanna colocar embaixo da árvore enquanto voltava para o carro, em busca da torta de mirtilo com chocolate. Era a preferida da sobrinha e queria agradar a irmã.

Hanna fez o que a mãe mandou e depois se jogou no sofá para assistir algum filme natalino, enquanto comia os amendoins que estavam na mesa de centro. Paul e John riam com seus licores de menta na mão, conversando sobre o campeonato de beisebol, já Eva e Kara estavam na cozinha, sentindo que precisavam de um momento só delas, quando bateram na porta novamente.

- Eu atendo! - Emma gritou correndo para abrir a porta. - Feliz Natal, Serena, eu estou tão contente que você veio! Entrem - deu passagem para que a amiga e os pais dela entrassem.

- Não podia deixar de vir, você falou tanto da torta que sua tia ia fazer - Serena sorriu, balançando os cachos da mesma cor que o cabelo do pai. - Trouxe presentes!

- Vou colocá-los embaixo da árvore. Sr. e Sra. Martínez, fiquem a vontade.

- Nos chame de Diego - apontou para o marido. - e Nina, sem formalidades, querida.

Nina era alta e tinha um corpo voluptuoso, cabelos escuros que contrastavam com os olhos caramelo e um sorriso pintado de vermelho. Era muito bonita, combinava perfeitamente com o marido, o professor de espanhol de Hanna.

O casal anfitrião deu as boas vindas para os mais novos amigos e logo entraram em uma conversa cheia de entusiasmo, sobre Madri. Diego era espanhol e conheceu Nina em uma viagem de turismo a San Francisco, depois disso, nunca mais voltou, e com o nascimento da filha, teve sua legalização resolvida.

- Nos mudamos para Berkeley porque Serena decidiu ingressar-se na Universidade da Califórnia. Ficamos muito felizes! Ela é o nosso orgulho.

Hanna, que ouvia a conversa, encarou os olhos escuros do professor - ela não conseguia chamá-lo de Diego - e questionou com uma sobrancelha arqueada:

- Ela não é muito nova para a Universidade?

- Queríamos que ela se acostumasse com a cidade e fizesse novas amizades - respondeu, com um sorriso que fez Hanna querer pular nele. Como podia um homem mexer tanto com ela?! - E Emma é uma ótima amizade para Serena - continuou, agora olhando para Kara e John. - Acolheu minha filha como ninguém mais.

- Emma sempre foi assim - disse Kara orgulhosa, com as bochechas rosadas.

- Puxou a mãe - emendou John, abraçando a esposa e beijando-a na testa.

Achando que a conversa ficou chata, Hanna aproveitou para ir ao banheiro, queria ligar para Tess e expor o clima quente que a sala estava com o professor de espanhol esbanjando simpatia. Ela não notou que estava sendo seguida.

Dentro do banheiro, no andar superior, ela discou os números conhecidos e esperou pacientemente até a boa vontade de Tess em atender.

- Fala, vadia - Tess cumprimentou com a boca cheia de biscoitos.

- Moreno, gostoso, habla mucho - descreveu o professor do jeito que elas sempre o chamavam. - Adivinha quem está animando meu Natal?

- Mentira! - gritou Tess, quase engasgando com os farelos do biscoito que comia. Tomou um gole de leite. - Como isso é possível?

- Emma é melhor amiga da filha dele.

- Finalmente sua prima serve para alguma coisa! - riu e xingou o irmão mais novo, que queria roubar os biscoitos que ainda tinham em seu prato. - Hanna, você acertou na loteria. O que eu não daria para estar aí? Mas não, eu tenho que passar o Natal com essa pirralhada.

- O que você faria se estivesse aqui? - perguntou, sentando-se em cima da tampa do vaso sanitário.

- Flertaria horrores! Um homem daqueles não se acha em cada esquina, não.

Hanna revirou os olhos, não acreditando que perguntou isso a amiga. Era claro como um cristal que Tess não deixaria a oportunidade passar e arrancaria tudo do professor com as garras afiadas.

- Ele é casado - pontuou.

- E daí? Quantos casamentos não acabam em div...

A morena não pôde ouvir porque bateram na porta do banheiro, a assustando. Disse que depois ligaria para a amiga e desligou a chamada.

- Só um minuto! - pediu para que esperassem enquanto lavava o rosto com água morna. Estava nervosa, não queria que ouvissem as merdas que ela comentava com a amiga.

Mais calma, ela abriu a porta e deu de cara com o motivo da ligação repentina.

- Er... - pigarreou, para limpar a garganta e conseguir achar a voz. - Está livre, pode ir. - passou por ele, porém, mal deu dois passos e foi puxada para dentro do banheiro, um corpo a prensando contra a porta agora fechada. - O que você está fazendo?!

Diego sabia que era errado, entretanto, vê-la fora da sala de aula era tão mais enlouquecedor. Lá ele ainda tinha uma parte que o segurava, mas ali, sentindo o calor de seu olhar, não conseguiu frear-se.

- Hanna - o nome enrolou em sua língua, fazendo uma carícia. - O que você acha que estou fazendo? - questionou, desfrutando do perfume adocicado que exalava do pescoço dela.

- Isso é errado! - sussurrou nervosa. - Sua esposa está lá embaixo, pelo amor de Deus!

- Você quer que eu pare? - beijou a mandíbula dela e Hanna fechou os olhos, sentindo-se dependente. Ela não queria que ele parasse. - Hm?

- Não. - a palavra mal saiu de seus lábios e Diego já a beijava, provendo-se do gosto dela.

Hanna desistiu de lutar. Ela não queria lutar. Para quê lutar? Nem lembrava mais o motivo. Aquele não foi o primeiro beijo dela e nem seria o último. Hanna Watt apenas escolheu errar mais uma vez.


EMMAOnde histórias criam vida. Descubra agora