Emma estava tão feliz! Sábado, seria o dia mais esperado e sonhado por ela. O casamento dela com Mattew. Em Aspen!
Os dois passaram meses escolhendo cada coisa que fizesse o casamento deles o mais especial possível. Emma queria que a mágica dos flocos de neve fizesse parte da decoração romântica que ela tinha planejado, e, a família de Matt tinha uma casa em Aspen. O perfeito conto de fadas estava para acontecer.
Por causa disso, toda a família já estava instalada há uma semana antes do casamento. Enquanto cada detalhe era concluído, Emma sorria nervosamente, com medo que algo desse errado. Porém, cada dia que passava, mais certeza ela tinha que estava no caminho certo.
Dia 03 de janeiro, quarta-feira, finalmente algum descanso para os noivos.
Emma queria ficar tranquila, um tempo a sós, então, pegou os patins de gelo e foi para o lago atrás de algumas árvores, perto da casa dos pais de Matt. Da casa, não era possível ver o lago, apenas se entrassem entre o manto verde majestoso; aquelas árvores eram antigas, mas muito belas.
Sozinha, Emma Walker – por enquanto – rodopiava pelo lago, sentindo o vento gelado em seu rosto, fazendo as mechas loiras dançarem. O nariz estava avermelhado, assim como ambas bochechas. A sensação de liberdade germinava em seus poros.
- Belo salto!
Emma parou instantaneamente, olhando para quem tinha falado com ela. Hanna estava em pé, na borda do lago. Os cabelos castanhos estavam presos em uma trança, tapados por uma touca quente de lã. As botas tentavam esquentar os pés, mas parecia quase impossível. Hanna odiava a neve, apesar de achá-la bonita... Na televisão.
- Hanna, faz tempo que está aí?
- Acabei de chegar.
- Ah – Emma sorriu, deslizando até perto da prima. O lago era grande e levou alguns segundos para que ela chegasse até a borda. – Então, nem conversamos direito. Está gostando daqui?
- A neve não é minha melhor amiga, mas não é tão ruim – Hanna disse com uma pequena careta. – Seu casamento vai ser fantástico, você tem sorte, Emma.
- Matt é o meu sonho – riu, voltando a deslizar para o meio do lago. – E você, Hanna? Tem um sonho?
A morena fitou a prima com tristeza. O sonho de Hanna, agora adulta, era que pudesse ter a chance de que David voltasse a ser apenas dela. Que o menino que faria quatro anos em março, chamasse a ela de mamãe e não Kara. A dor era tanta, que lágrimas acumulavam nos cantos dos olhos de Hanna.
- David é o meu sonho.
- Hanna, já falei para não fazer o que tanto pensa. Você não pode arrepender-se a essa altura do campeonato. Minha mãe ama David como um filho e ele é filho dela, pois desde bebê, ela o criou. Meu pai abandonou nossa casa, eu vou me casar e mamãe só tem David. Não faça uma besteira, por favor.
Hanna sentiu a raiva tomar-lhe os sentidos. Por que ela tinha que se abster do amor do filho? David merecia a verdade. Quando pensou em doar David, era jovem e cheia de problemas. Agora ela o queria, o amava, sofria por não tê-lo. Eva não seria mais um problema, Hanna estava entrando na reta final de Arquitetura e estagiava em uma grande empresa de San Francisco. Podia cuidar do filho, podia sustentá-lo.
- David é meu filho – grunhiu. – Mas não farei nada por enquanto.
Emma ficou furiosa. A prima não pensava nas consequências de seus atos histéricos. Quando estava morrendo de medo por estar grávida, fora Emma e Kara que a ajudaram, que deram um fim ao problema. Então por que ser tão mal-agradecida? Kara não merecia mais uma decepção, como ter David arrancado dela.
- Se você fizer algo que machuque a minha mãe, Hanna... – bufou, o sangue queimando em suas veias. Nem sentia mais o frio gélido. – Eu acabo com você!
Os dedos de Hanna fecharam-se em punho, a saliva era engolida com ódio. Nunca na vida ela quis tanto que Emma sumisse do mapa. A inveja, o ciúme, a dor... eram sentimentos que corroíam cada célula do corpo da morena. Os olhos pareciam chamas, vendo vermelho.
Com o queixo erguido, Emma deslizou mais rapidamente, mostrando seus dotes de bailarina e patinadora. Quando pequena, Emma fez ballet na escola e aprendeu a patinar com o pai, quando John ainda era presente. Todos os passos eram firmes e decididos. Em uma volta completa, do outro lado do lago, a loira fitava a prima com superioridade; ela sabia que Hanna sentia inveja dela. Quis provocá-la.
Foi quando aconteceu. O gelo partiu e Hanna só teve a chance de arregalar os olhos, antes de ver a prima afundar no lago. Os segundos pareciam horas, os pés de Hanna estavam presos ao chão e a consciência dela brigava com o corpo, que permanecia parado, preso a um transe louco.
- Hanna!
Escutou a voz da prima, que tentava segurar-se nas bordas do gelo quebrado. Porém, quando ela forçava para voltar, o gelo quebra-se novamente, num ciclo vicioso. Aquele lago era fundo e aos poucos, as forças de Emma iam se esvaindo. O corpo dela estava tremendo de frio, os lábios roxos, os braços clamando pela ajuda da prima.
Hanna deu um passo para frente, o máximo que conseguiu, enquanto os pensamentos conflituosos seguiam por sua mente.
"Ajude-a!".
"O fim dos seus problemas".
"Emma não merece".
"Deixe-a... Ninguém vai ver".
As lágrimas desciam e o choro estava engasgado na garganta de Hanna. Ela queria ajudar, era o certo a se fazer... Mas... Não podia. Não conseguia... Afinal, se ela fosse lá, o gelo se partiria com ela também, as duas morreriam.
Com o coração batendo forte, a morena olhou a última fez para a prima, enquanto corria pelas árvores, voltando à casa de Matt.
Limpou as lágrimas com a manga do casaco, respirou fundo e adentrou a porta da cozinha. O cheiro de chocolate quente flutuava até ela, todavia, ninguém estava no ambiente. Seguiu pelo corredor até a sala, também não encontrou ninguém. Subiu as escadas, sentindo o peito sufocá-la, o medo rastejando e a acolhendo em seus braços.
Quando ia abrir a porta do quarto que estava hospedada, ouviu a voz de Kara atrás dela, com David abraçado à cintura.
- Hanna, você viu a Emma em algum lugar?
A morena fitou David e sentiu que era o fim, o ápice de toda a merda que ela já fez na vida. A decisão estava nas mãos dela, podia salvar a prima ou deixá-la para ser encontrada.
"Um filho por outro".
- Não.
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EMMA
Teen FictionO que fazer quando sua vida é toda manchada por erros? Será o ódio e a inveja maior que o próprio sangue? Só rivalidade traz o que há de pior no ser humano: a crueldade.